Buscando não se sabe bem o quê.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

O Horror de Conhecer


Não, este corpo não é meu.

Levanto do divã direto para a rua. Embora a temperatura esteja amena para essa época do verão, percebo que minhas mãos estão suadas e lembro do pobre coitado, marido da dona do instituto, que se estatelou no chão morto de infarto. Eu tenho quase a idade dele. Necessito, pois, de um check up. Mas fazer esse tipo de exame em janeiro, logo quando as festas de verão estão em curso? E o argumento do "estraga prazer" toma conta e deleto, por alguns meses, a indecorosa idéia de consultar um cardiologista. Foi Fernando Pessoa que escreveu sobre o horror de conhecer. De fato, temos medo de conhecer a nossa verdade. Eu, pelo menos, deito no divã e tento afinar meus significados com os significantes na busca de uma narrativa melhor. Cuido da mente com estrondoso carinho. E do corpo? O que faço além das ginásticas, das corridas e dos jogos de tênis? Que segredos estão escondidos nas entranhas do meu corpo? Será que o sangue circula pelas veias com toda a liberdade possível? Será que estou a gerar um desarranjo celular que pode desaguar num tumor? Não, prefiro não saber. Confesso que tive dificuldades imensas para digitar a palavra t-u-m-o-r. Não cogito, não imagino que isso possa ocorrer no meu corpo são. Os especialistas dizem que devemos nos antecipar às futuras doenças. Eu prefiro não saber. E se um dia ela vier e me pegar de surpresa, estarei frito, fritinho da silva esperando, atônito, a hora do adeus. Sei que isso não é certo e que posso mudar esse meu jeito irresponsável no futuro próximo. Talvez em março eu resolva. Talvez em abril ou junho.

2 comentários:

Bípede Falante disse...

Francamente, o horror está em morrer. Vá fazer os seus exames e triturar os seus tumores se um dia os tiver.

Bípede Falante disse...

Francamente, o horror está em morrer. Vá fazer os seus exames e triturar os seus tumores se um dia os tiver.

Eu vi


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