Buscando não se sabe bem o quê.

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Quando o Cotidiano Adormece


Na masmorra mora um homem que fede muito. Ao seu lado está uma mulher vadia que cheira a pão. Na frente dos dois está um guardinha simpático com vasto bigode. Na rua acima anda uma pequena mulher com dentes de ferro a procura de pão com espinafre. Ela leva para casa uma sacola vazia com dentes de anjo. Na casa bela mora o médico. Ele chega em casa muito tarde e a mulher e as crianças já estão dormindo. Do outro lado do país mora um homem sozinho que passa as noites em claro a procura de algo que ele não sabe o que é e que não lhe traz NENHUMA felicidade.

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Achismos


Tenho quatorze minutos para escrever algo. Eu acredito na mudança. E nunca é tarde demais. Acho que o amor tranquilo pode acontecer depois da tempestade, assim como os bons frutos podem aparecer depois dos trovões e da chuvarada. É claro que as grandes tempestades podem dizimar a colheita, mas não vamos generalizar. Minha eterna utopia quer me mostrar que a humanidade está onde está por causa do entendimento. É claro que guerras dizimaram pessoas e civilizações, mas não vamos generalizar. Pessoas foram cruéis com outras, se mataram, se assassinaram, se traíram, se magoaram, mas também se entenderam mais tarde depois de uma boa conversa, não vamos, pois, generalizar. Definitivamente não acredito na hiena da Hanna Barbera que dizia: isso não vai dar certo! Pode ser que sim e pode ser que não. Talvez seja tarde demais para dizer essas estrofes, mas é o que eu acho, é o que eu sinto e pressinto. O que quero dizer, apenas, nestes poucos minutos que me restam, é que tudo pode ser resolvido com uma boa conversa e entendimento e o coração pode ser reconquistado com uma rosa vermelha comprada na esquina, não vamos generalizar.

A Porta Branca da Paz


Tudo pode (e deve) acabar em consenso. Acredito na convergência. Sempre acreditei. Posso estar enganado na minha utopia, mas penso que o ser humano, em regra, ele assimila os problemas e caminha na direção do entendimento. Houve guerras, revoltas, tragédias e barbáries, assim caminhou a história da humanidade, mas no fim dos casos a bandeira branca do consenso sempre prevaleceu. Repito, posso estar enganado na minha fé utópica.


E a porta branca do entendimento resolveu meus problemas condominais. Não precisei consultar advogados, analistas, arquitetos, esteticistas e diretores de arte. A porta vai ser branca, porque esta é a cor da paz, do entendimento, da convergência e do diálogo (ainda que imposto).


Ah, suspiro eu, se todos os problemas pudessem ser resolvidos dessa forma, com a bandeira branca da paz! Mas às vezes ela demora a chegar e enquanto ela não chega nosso corpo, nossa alma e nossa mente ficam manchadas pelas cores da amargura, do sofrimento e do desentimento. É preciso superar as fases, penso eu no calor da minha fé utópica. Mas a humanidade e os humanos não caminham de forma instantânea, como um Toddy dissolvendo no leite do café da manhã. Não é assim que funciona. O tempo é o senhor da razão, mas ele demora a chegar. E quando chega pode ser tarde demais. E a gente suspira, sofre e lamenta.


A porta branca da paz chegou em boa hora. Não é exatamente o que alguns queriam, mas é uma cor neutra, básica, forte que não chama tanto a atenção. Mas para quê chamar a atenção?

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Azul Meia Boca


Quem diria, o azul - minha cor da sorte e do meu time do coração - causando tanto estresse e confusão. Tudo por causa de uma porta, uma tintura, uma fachada, uma cor diferente para dar um ar 'estilo colonial'. Fui na loja de ferragens e escolhi um azul colonial, não tão escuro e nem muito claro. Um azul meia boca. O homem digitou no computador o código e, em minutos, um litro deste azul meia boca estava na sacola plástica. Entreguei ao pintor, mas disse a ele: não pinta tudo, quero ver como vai ficar antes. O pintor fez o que eu pedi: uma pequena amostra na porta branca. E a confusão começou justamente ai. Uma vizinha adorou e a outra detestou. Não se pode agradar a gregos e troianos, mas o síndico, que sou eu, deve tomar a decisão, agradando a alguns e desagradando a outros. Ou será que este assunto deve ser submetido a uma reunião de condomínio? Vou consultar meu advogado, meu arquiteto, meu esteticista e meu analista.

Confidências Amorosas de Início de Semana


Eu te amo e você?
Não sei se me amo tanto quanto amo você.
Mas você acha que estou mentindo, que continuo amarrado a hipocrisia de um passado que eu deletei, porque insignificante, insosso e que nada me acrescentou.
Que o mundo todo saiba que eu te amo e você?

domingo, 23 de setembro de 2007

Tadinho




Que bom. Estás aqui olhando isso. Não é fantástico? Nosotros compartilhando a mesma tela. E ela olha e imagina. E fica esperando a nova frase. O que será que ele vai escrever? Ele observa seu pijama de tigrinha e, entusiasmado, pensa no que escrever. Cauteloso, ele digita e respira fundo. Ela faz uma crítica e ele desestabiliza. Ela faz outra, diz que falta um acento agudo. Desastre total. Ela finalmente avisa: vou descer, tá muito chatinho!

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Os Outros

dEUS cEGO está cansado de ser deus e quer ser outro humano. Quer incorporar outra alma. Quer ser outra pessoa. Aliás, uma só não é o suficiente. dEUS cEGO quer ser diversas pessoas. E, além disso, quer ser diversas pessoas ao mesmo tempo. Que onipresença! Mas dEUS cEGO não está, ainda, satisfeito. dEUS cEGO quer ser diversas pessoas ao mesmo tempo agora.

Por exemplo, dEUS cEGO nunca foi uma mulher. Nunca incorporou o espírito feminino, nunca se preocupou com a cor do sapato e o destaque do botão da anfitriã. dEUS cEGO sempre foi dEUS cEGO. Ele nunca teve a oportunidade de sentir o que os outros sentem e pensam. Ele quer alimentar sua sensibilidade percorrendo outras almas.

E por isso, dEUS cEGO - de agora em diante - não vai falar apenas de si. Vai incorporar personagens. dEUS cEGO vai se tornar assassino. Vai ser impiedoso e completamente bandido. E na mesma hora vai ser queridíssimo e o supra sumo do gentil. Pode querer falar mal do diabo e abençoar Jesus Cristo. Mas dEUS cEGO tem que ter cautela, porque a exacerbada sensibilidade pode causar insensibilidades.

dEUS cEGO promete aos seus cinco leitores que doravante vai ser "os outros" - ao mesmo tempo agora.

( A foto acima é de Ben, o líder dos "outros" do seriado Lost - dEUS cEGO vai ser o Ben)

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Alberto e Sofia


Nós - nos damos tão bem - nos entendemos no silêncio - discutimos o dia e gostamos dos mesmos gostos - temos de aprender a nos conhecer melhor. Qual o teu nome?

Como


Desafogo meu tempo, como chocolate perdido na geladeira, como ânsia de viver o infinito, como o timbre agudo do miocárdio, como a música que ouço ao correr na movimentada avenida.


Como o dia de chuva, dia de sol, dia de neblina, dia de aço.


Como costelas e costeletas. Pernas e coxas. Peitos e asas. Como doces. Como quem devoro nas noites sublimes. Como a bebida como o vinho. Como o teu silêncio angustiado. Como os olhos, os dentes, a pestana triste. Como tudo que sempre gosto e gostei. Como a gula desesperada de ânsia. Como a alegria, a dor, a vivência da alma. Como tudo que tiver ao meu alcance. Como quem amo.

E assim passam os anos e continuo comendo, devorando meus limites, asfixiado pela noção do tempo que passa e dorme e sinto fome de viver cada vez mais.


domingo, 16 de setembro de 2007

Abafo e Desabafo


brinquedo da dominação
senha da traição
compromisso com a inverdade
volta aos princípios
bizarros ou não
verdes ou maduros
e todos eles contra e a favor de nós
no enigma da eterna volta
ao longo de tudo que se estende
e cada traço que pinto
pode se tornar um significado
para que -- por fim -- entendas
que te amo e sempre te amei

(os 'brinquedos' acima são de Nelson Leirner -- tem uma montagem dele na Bienal do Mercosul, no armazém do cais do porto de Porto Alegre -- vai lá, humano, vai lá!)

sábado, 15 de setembro de 2007

Nossas Paixões de Amor


Quero desenvolver o lado sincero para mostrar que meu erro pode ser nosso socorro.

Acredito no coelhinho, porque ele é a lembrança de tudo de bom que a gente passou.

Sei que os erros comprometem o crime, mas passou tá passado, não há solução....

E bola para frente, jogo de campeonato, não tá morto quem peleia, não tem bola perdida.

Não quero entrar no oba oba do cinismo para mostrar para ti que eu continuo um crápula.

Quero tirar dentro de mim a parte mais íntima e sincera e mostrar para ti - para todos - que posso mudar.

E o coelhinho chega devagarinho e toma conta da minha imaginação e faço meu o nosso mundo.

És companheira fiel, amiga, melhor amante do mundo, mãe dos filhos, a arrumadeira da casa.

Por isso meu empenho, minha dedicação, minha alucinação, minhas ignorâncias, minhas fraquezas.

E cá estamos nós diante do paredão que divide nossas vidas e temos de escolher o tunel do rumo a tomar.

São estradas sinistras que podem ou não ser paralelas e a gente não sabe se o futuro pode não ser como era antigamente.

E lá vamos nós percorrer esses caminhos que separam nossas vidas ou vamos insistir no que deu errado, no que deu certo e no que pode dar certo.

Ou não, podemos parar um pouco, refletir sobre o que nós somos e devorarmos -- nosotros -- nossas paixões de amor.

sábado, 8 de setembro de 2007

O Dia de Ontem


Percebo a bandeira varonil, brindando o dia de ontem com gosto de vitória. Marcham soldados do dia de glória, hoje acompanhados de multidões de soldadas. E passam os tanques e rotweillers. O desfile está completo. Bandeiras tremulando ao redor do coração do Brasil. E a pátria dorme embriagada pela festa do feriado. Homens dormem de barriga para cima. Mulheres acordam embalando os filhos. A menina chora. O menino brinca. E assim gira o mundo - quieto - gritando a data nacional.

terça-feira, 4 de setembro de 2007

A Luz do Avestruz


Pessoas são difíceis. Elas têm manias e alucinações. E administrar tudo isso é muito complicado. Não nasci para ficar cobrando das pessoas o trabalho e o tempo. Nasci para outras coisas menos significativas. E aqui estou, diante do micro, tendo de resolver zilhões de questões, satisfazendo meu ego escrevendo pequenos detalhes. Mas tenho de tomar as decisões. E as pessoas estão ali, na sala ao lado, esperando minha resposta. Que resposta posso dar se não vejo alternativas diplomáticas? Ou é ferro ou é fogo e por isso estou aqui fazendo terapia com a tela do computador. Olhando as mensagens e me escondendo diante dos problemas. Como sempre faço, como sempre fiz.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Fobias


Tenho medo da dor, da dor sentida, da dor comprimida, da dor que bate forte no peito. Tenho medo da saúde, do médico, do hospital, de operação, de navalha na carne, de exames, de ambulatórios, dos resultados dos exames de laboratórios. Tenho medo do preconceito, do sectarismo e da intolerância. Tenho medo da burrice e da ignorância. Tenho medo da falta de estrutura daqueles que não sabem administrar suas vidas. Desses eu quero distância. Mas o que eu tenho medo mesmo é da perda. De perder quem amo pela morte ou pelo abandono. Da perda consentida, da perda que chega sem avisar. Tenho medo da perda da chance. Tenho medo da última vez, do último momento, do tempo que não volta mais. Tenho medo de deixar de ser amado, de deixar de amar, de deixar de ser pai, de deixar de ser homem, de deixar de ser esposo. Tenho medo de perder a voz e a consciência, de ficar derretido, de deixar de se locomover, de ver, de sentir e de imaginar.

sábado, 1 de setembro de 2007

Silêncio Cotidiano


Vou ficar calado que é melhor, mas é difícil. Eu sei que vou ter que me segurar, talvez não consiga. Talvez. Vou fazer que não escutei e que não senti o baque. Mas senti. É um desafio não perceber, ou melhor, transmitir que não percebi. A falsa noção de que sou frio, aquela alma gélida, que não está nem ai. Caminho na frente, mas estou escutando o que se passa atrás. Sento na cadeira ao lado, mas fico observando todos os detalhes. Não estou perdido em minha insignificância. Muito pelo contrário, estou ligado, ligadíssimo em tudo que se passa. Minhas antenas estão em alerta o tempo inteiro. Qualquer ruído, a sombra que passa devagarinho, o suspiro no escuro do quarto eu sei, eu noto, eu percebo. Não estou em todos os lugares, mas conheço todos os nossos cantos. Os nossos passos e os nossos rumos. Optei pelo silêncio, porque é melhor assim. Pode me fazer e te fazer bem. Um hábito para fazer pensar. Desmaterializar os mistérios. O enigma indecifrável de nossa vida. Que rumos tomar para pensar melhor. Existe espaço para pensar bem e estamos em seu fluxo, aprofundando nossos detalhes e quando chega a tormenta, a tempestade que atira o vaso em cima do telhado, tudo se resolve com um simples telefonema. Os homens chegam e se encarregam de arrumar a sujeira deixada. E tudo volta ao normal e levamos o cão para comprar pão e alguns petiscos mais para o nosso jantar.
(a foto acima é de Desiree Palmen : http://www.desireepalmen.nl/images.php )

Quando era obrigatório parecer feliz


Quando era obrigatório parecer feliz


Mary Del Priore - historiadora e autora de "O Príncipe Maldito - Uma História de Traição e Loucura na Família Imperial", editora Objetiva.


Toda a sociedade extrai a matéria de seus sonhos de algum lugar. Durante anos, este lugar foi a Inglaterra, encarnada numa loura de olhar bovino. Lá, em junho de 1981, Lady Di se casava num conto de fadas. A cerimônia foi assistida por 1 milhão de espectadores. Em 1995, como qualquer plebéia, ela confidenciava a espectadores atônitos que seu casamento ia mal. Um ano depois se divorciava e, em 1997, numa noite em Paris, apagava-se. Morreu aos 36 anos, dos quais dezesseis foram vividos na telinha.Para além do casamento real, a década de 80 assistiu a mudanças importantes. O comércio viveu um boom nunca visto. Só se falava em globalização financeira, enquanto McDonalds e outras marcas se difundiam planeta afora. Mas a mundialização foi também um "longe mais perto". A CNN foi criada em 1980. No campo dos comportamentos femininos, os sonhos igualmente se amplificavam: ganhar dinheiro, tornar-se uma estrela, ser bela e feliz eternamente. Mas sempre sem esforço. A agenda das mulheres cresceu: elas tinham que se mostrar plenas, bastar-se, tinham que "existir", enfim. Esta felicidade sob medida se encarnava na publicidade e na mídia. Nas sociedades industrializadas, ser feliz se tornou o "único bem supremo", diria Aristóteles. Uma tal sede de viver se exprimia num credo: "se dar prazer". A ditadura da felicidade a qualquer preço estigmatizava as infelizes. Espírito do tempo A princesa embarcou no seu tempo. Juntou a receita de ser feliz com a potência mobilizadora da telinha. Ela mais queria se dar a ver do que a conhecer. Por meio da televisão, ela dividia com todo o mundo as suas emoções. Mas por trás do olhar bovino ela também entendeu que ninguém nascia sedutora. Não bastava ter um corpo e colocá-lo em ação. Era preciso transformá-lo num catálogo de signos. Ela usou todos os recursos -roupas, maquilagem, festas- para promover a fotogenia de sua sedução. Sua vida íntima se transformou num fundo de comércio: fotos na ginástica, gravações com amantes, intimidade devassada. Mas também se erigiu em campeã de filantropia audiovisual, lutando contra a Aids e a lepra ou contra as minas nos campos de Angola e da Bósnia. A adúltera dava lugar à santa. Num jogo de montagens narcíssicas, ela celebrava a tal felicidade obrigatória. Mas os anos 80 embutiam um outro sucesso: o da depressão. Mais e mais esse sofrimento se tornava comum. E ela mergulhou no problema. Tornou-se bulímica. Tentou o suicídio. Enquanto isso, deixava a mídia resolver seus problemas de alcova. Famintos, os espectadores colhiam cada migalha deste misto de sonho e interdito. O fim de Diana, debaixo da ponte d'Alma, lhe permitiu um último recurso televisivo: uma missa universal transmitida por quarenta canais. Outros cultos se sucederam: peregrinação, flores no palácio de Kensington e, por que não, a fundação do "Diana Land". Detalhe: só 10% dos rendimentos desse mausoléu-museu se dirigem a obras de caridade. Na era da sociedade de massas, a princesa de massas virou um produto no mercado de mitos. Mistura de Sissi traída, de Marilyn suicida e de James Dean, morto ao volante, Diana preencheu o papel de uma mulher presa nas armadilhas do seu tempo. Como só era boa em piano e esportes e não gostava de estudar, teve poucas chances de olhar com recuo para si mesma. Preferiu ser sonho a ser verdade. Na mesma época, morreu Teresa de Calcutá. Uma outra mulher do mesmo tempo, só que acima das religiões midiáticas. Alguém se lembra?

Eu vi


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