Buscando não se sabe bem o quê.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Enquanto o Tempo Passa



Tenho de esperar até às 19 e por isso tenho de fazer tempo. Jogo palavras cruzadas nas frases que componho, enumero números primos e terceirizados nas contas que faço. Fico pensando no que posso fazer, no que devo fazer, no trabalho que está por vir, no que pode acontecer amanhã ou depois. Lembro dos meus vacilos cotidianos, nos foras que dei, nos foras que levei, nas grosserias, nos meus pensamentos rudes. Onde foi que eu errei, onde foi que eu acertei. Por que continuo a ser tão mediano?  E detesto ser assim, mas assim sou. Porque antes eu era diferente, por que, afinal, me transformei? Porque a família é a célula da sociedade e devemos proteger os nossos filhos, a nossa querida esposa, o nosso grandioso lar, a obrigação do trabalho, o bolso com dinheiro limpo, a conta do cartão, o salário da empregada, a remuneração do motoboy. E olho as horas, porque o tempo não passa, porque tudo é ficção, porque os homens inventaram o tempo e existem tribos, hoje em dia, em pleno século XXI, que desconhecem essa ficção chamada tempo. Porque o tempo não existe, nós que envelhecemos e minha ruga de expressão acentuou  e hoje estou mais velho do que ontem, mas os segundos e os minutos são apenas os segundos e os minutos.E minha ruga não cresceu nesse intermédio.  E as horas custam a passar e eu aqui dizendo bobagens para mim mesmo, mesmo? mesmo que isso custe o que pode custar. Tudo tem seu preço, mesmo a ficção da hora tem seu preço, porque tudo é comprável e não se pode comparar o que é incomparável. E por isso eu paro, porque senão eu enlouqueço e não participo mais do tempo, da época que gritava e alardeava: viva a loucura.

O Beco



Em clima de melancolia, porque o dia foi assim,   caminha vislumbrando a paisagem urbana de outros bairros nem tão distantes,  sente os pés que alimentam asfalto. E o andar rápido disfarça a necessidade de correr. De certa forma, podemos dizer assim, dispara cautelosamente pelas ruas, em busca de  cenário de noite escura, penumbra de amor noir. Não é longe e nem perto e a luz amarela ou será verde? anuncia a parte final, sem saída, do pequeno beco, composto de velhos e novos edifícios com garagens e automóveis estacionados e no meio deles uma casa, nem humilde e nem espalhafatosa, simplesmente aconchegante onde alguém aciona o controle remoto fazendo a porta de ferro com cor de madeira se abrir e ela se abre devagar,o golden retriever que estava na  coleira é  solto e ele corre para cheirar  o ipê roxo ou amarelo que ali está plantado. Havia ali, naquela local, há muitos anos um matadouro. O avô, na década de 60,  com o velho Hudson, passava por ali para comprar a galinha do fim de semana. A cena é fotografada e reservada para ser dita em algum postal e depois comentada logo após o banho de ducha quente que tira do corpo o suor espalhado. De pijama firme e no descanso do lar localizado em outro bairro e alguns quilômetros dali vem à memória que depois será dita em alguma postagem.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Nós



Foi quando nos  demos conta de que perdemos algo que tinhamos de recuperar e por isso voltamos passando pela grande avenida até chegarmos ao ponto em que tudo começou  nervosos discutimos e acabamos brigando cada um tomou seu rumo e passamos a caminhar pelas vias transversais e paralelas em busca de algum tipo de cruzamento  olhavamos para os lados os cantos as esquinas os  locais sinistros onde poucas pessoas circulam  éramos jovens muito jovens não sabiamos o que queriamos mas queriamos algo.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Tudo Bem

Não gostei
Por isso mudei
Agora está bem
Por enquanto
está bem

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Receitas Para Conter O Apego Excessivo às Boas Iguarias



Tadinho. Engordou. Está com a pança inchada. E agora vai ter que largar por uns tempos as coisas boas da vida, as boas iguarias. Os especialistas avisaram que é  preciso  (re)adquirir o hábito da medida certa, da dose exata, sem exageros e repetições. A gula, disseram,  é um distúrbio da personalidade, tudo tem de ser medido e controlado. Um bom vinho pode ser degustado em poucas doses. A comidinha gostosa  pode ser apreciada em poucas garfadas. É preciso evitar os excessos, os excessos, os excessos. O objetivo, informaram,  não é ficar com barriga tanquinho, mas adequar a uma realidade saudável.

Tadinho, tantos  bla,bla, blas. Hoje acordou cedo, caminhou, correu, fez exercícios. Passou o fim de semana  mantendo uma adequada distância dos cálices e dos pratos. As notas apontam que  emagreceu 2 Kg, faltam 8 ou 10. Há de se ter força de vontade, de vontade, de vontade para controlar a própria vontade.

Tadinho.

Avidamente


Eu te devoro com minha boca seca, com minhas mãos suadas, com a ânsia inglória de viver. Porque quero te ver para sempre junto a mim e a minha matilha. Porque aguentas os meus resmungos, toleras a minha cólera, resistes às minhas incompreensões. Não, não quero apostar nos tormentos que abalaram nossas relações ao longo do tempo. Quero ver apenas o lado cirúrgico da nossa febre de paixão. O corpo, a boca, o jeito suave de menina doce que se transforma na hora de se transformar. Porque essa mutação é o nosso grande mistério, um segredo mais do que qualificado, que move e promove nossas satisfações. Por isso te devoro em todos os pensamentos guardando comigo uma nítida impressão de que sempre vou te amar.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Mariquinha


Tadinha da Mariquinha. Vedete da casa ela passa os dias a sentir dor. Tomou um montão de comprimidos. E a dor persiste. O doutor disse que é dor da alma, dor dos nervos.  E ela se queixa que está cansada, que precisa de descanso, que precisa dar um tempo para a vida.

O feijão está pronto, o arroz está solto, a carne está na panela. Os problemas do Zico voltaram, inclusive os profissionais.  A Lurdes rompeu novamente com o noivo. E a despesa do cartão foi além do que se imaginava.

No final do dia, bem depois da novela, ela se deita na cama quente e lá se prende. Ela busca realizar os sonhos de outrora, quando a vida era simples e fácil e o tempo não tinha nenhuma curva.

Eu vi


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