Buscando não se sabe bem o quê.

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Será que sim ou que não?


totalmente sem
ar
sem nada
nada
absolutamente vácuo
sem som
sem conteúdo
sem misericórdia
sem gratidão
hiato
quantos anos mesmo?
alguns bons e maus
pois
voltei?
não sei
ou sei?

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Profundamente Temático



Ou Tematicamente Profundo

Posso rasurar ou recusar minha memória
acabar com o tormento tipo faca na agulha
relativizar, sempre flexibilizar
toda a agonia que fica e vai
como uma gangorra de contradições e paradoxos
nunca acho o equilíbrio
o formoso e salutar equilíbrio da planície
porque nada  convence no certo e no errado
a certeza é muito dolorida por isso não insista
e prefiro ter a consciência de não saber
a ignorância seletiva
porque me amarro nas entranhas das minhas veias
lanço um suspiro profundo sobre a própria ecatombe
poderia sim ser um magnífico ser que não sou
distante de tudo e de todos tocando o leme
do mar a deriva

Menina Malvada



Um soneto de amor para minha pricesa
linda, desnuda, forte
Ela sai da cama tempestiva
Fonte de tragédia e riso
Compreensiva ela me olha
E esfrega sua testa no meu nariz

Que sublime idéia ela teve
de passar o dia numa praia do Pantanal
Olhando os jacarés e os tatus
Brindaremos com uma taça de gratidão
Pela vida que recebemos
Naquele dia não fomos a Igreja

Ela acorda como geralmente acorda
meio mal humorada, um tanto fóbica
Dor no pescoço, nas ancas, na testa.
Quer dormir ou jogar paciência?
Porque hoje não é dia de festa
Melhor guardar as expectativas.
Outro dia, quem sabe outro dia.

E assim tudo fica
Nessa análise singela da vida a dois
O recado foi dado - quem sabe ela olha
E desperta o sorriso malicioso
de menina malvada.




sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Incomensurável



Lá no céu que não tem tamanho existe uma casinha, uma pequeninha casinha, um cisco, quase insignificante lar onde a família feliz canta na hora certa que não é a hora da reza, mas a hora em que eles discutem sobre, vamos dizer assim,  sua própria existência.

Ele suspirou profundamente, leu duas vezes, pensou em voltar atrás, achou que não estava bem claro, quis fazer algumas observações, desistiu. Depois, lançou vírgulas, palavras entre vírgulas, simples e necessários comentários. Nada além disso. Uma casinha no céu, é isso lógico?

O céu não tem tamanho, ele é imenso, incomensurável. Certamente existe uma casinha no céu, pequeninha casinha, um cisco. Ele lembrou do planetário, do tamanho do universo, dos átomos, de tudo o que nos leva a mais profunda insignificância.


Luar


Luar, onde está o luar
Eu não vejo o luar
Não enxergo
Estou cego
Cego
Muito cego

Eu quero ver o luar
Sentir o luar
Rente entre
Minhas doces pálpebras
Piscar para o luar
Dizer para ele
Que é muito bom
Ver o luar.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Recital


A voz cai solta
sublime como a esperança
no centro do palco
ela canta
os versos de outrora
ela canta
e canta até o fim
e quando termina
a última estrofe
ela olha para o público
que fica em silêncio
atento em silêncio
sem demonstrar afeto
ou compaixão
simplesmente em silêncio
e o recital
assim termina
as luzes se acendem
as pessoas esvaziam
as cadeiras
as portas se abrem
e no centro do palco
ela fica em silêncio
sublime como a esperança.

Busca



Faz tempo, tanto tempo, que a gente não se encontra. Não tenho lido suas notícias,  não tenho assistido seus filmes, não tenho comparecido as suas sessões, apesar de frequentarmos os mesmos portos. Onde você anda, afinal? Não posso dizer que estou com saudades, porque não estou. Apenas entrei aqui para ver o que acontecia durante a minha ausência. Entrei sorrateiro, em silêncio, completamente na minha e vejo agora que nada aconteceu, que tudo está da mesma ,maneira como sempre esteve. Nenhuma mudança ocorreu. Não fiquei feliz por saber disso. As vezes é melhor a gente não tomar conhecimento, deixar a vida simplesmente se levar. Minha curiosidade, no entanto, me traiu. E aqui estou de volta a te procurar, mas não te encontro. O desencontro faz parte da nossa história. Eu sou funcionário e você é bailarina. E por isso continuo a te procurar, sem te encontrar.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Era Uma Vez Uma Panela Para Toda a Vida



Era uma panela, de grife famosa,  para toda a vida, até que um dia restos de  arroz grudaram no fundo dela e o ferro fundido começou a lascar. E depois da primeira lasca outras vieram. E a panela que era para toda a vida teve seu prazo reduzido. Entrei em contato com eles, expliquei o meu drama, eles foram atenciosos, mas já me alertaram: não trocamos sua panela, ela é importada e a troca só se realiza quando ela vem com defeito. Eles pediram meu número do telefone, eu passei.Talvez eles me liguem durante o fim de semana. Gostaria de ter uma nova panela para toda a vida, mas não pretendo fazer esse investimento (ou esse prejuízo). Dizem que panela velha faz comida boa, minha panela nova para toda a vida envelheceu. Talvez, agora, lascada e envelhecida faça comida boa.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Nomes em Vão



Porque dizes meu nome, nem soletra, apenas dizes, e complementas a dizer meu nome. O nome que não lembro, que ninguém lembra, apenas um nome em vão, o meu nome em vão. Não é sagrado, nem atormenta, engulo seco meu sobrenome de fortaleza  que cede os passos da primeira gloriosa crise.

Sei porque dizes meu nome  que  flutua no coração da  língua. A mesma língua que fala, lambe e come que resvala  entre os dentes, os meus, os teus, os nossos  e acaba penetrando, como membro forte, nos ouvidos externos.

Porque sei que dizes meu nome, em vão dizes meu nome, palavras que dizem nomes, palavras que saem das bocas, das bocas que dizem palavras ditas e não ditas, palavras inventadas e omitidas, bocas que brincam de sinceridade.

Escuto o nome, sussurras o nome, o nome emboscado, o nome do coração da inteligência, meu nome santo,  nome de santo sagrado, nome de todos os santos da nossa igreja.



segunda-feira, 28 de maio de 2012

Autarquias



Os ventos invadem  territórios descobertos. Os tempos de fraudes magníficas. São diversas as versões. Falam. Falam tanto. Falam demais, até do cu da formiga falam. Falam os poetas. Os vivos, os fracos, os existentes. Falam dos que se acabaram, dos que se foram e não mais voltaram. Outros se tornaram inesquecíveis, por seu modo de dizer, os efeitos, porque tratam de assuntos sublimes do tipo  hipocrisias da vida familiar. No contexto  das contradições e seus paradoxos,  o último  filme da Bruna Lombardi e suas coxas grossas. A amiga de Quintana,  a língua afiada.

Mudando de assunto -- e de filme -- a ousadia divina dos imortais,  os deuses que morrem, os que já morreram, os titans guardados no box, as bocas presas ao  ferro, eles  exprimem sua própria revolta.  Prometeram o inesquecível e falam de tudo e não falam de nada, porque se ouve e crê. E qual é, porra,   a diferença entre "period" e "dot"?

 A linha que liga dois pontos distantes. Um em Manaus e outro na terra da alegria. O vento que bate na cauda e que torna o voo mais rápido, em direção ao sudeste, onde vivem as cidades, o avião aterrisa uniformemente, a menina  reencontra o pai perdido no aeroporto. Ele pede asilo e abrigo. A família embarca na van, no rumo do hotel. Estão todos tristes e despedaçados. Tristes e despedaçados, porque não conseguiram o carimbo da autarquia. E o pior ainda está por vir, eles  não acreditam  mais nos semáforos.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Lego das Palavras





Fiz isso algumas vezes,  o subversivo num espaço concreto. Eu tenho medo do quê?  Procuro lucidez e espanto. Posso ser poético, buscar  um soluço de amor, uma alma fácil de achar. Posso até mesmo, por que não? me transformar numa  espécie de predador que tenta corrigir os verbos, os substantivos delicados, os adverbos e seus significados. Rejeito bulas e manuais, porque minha incorrigível  ansiedade coloca  imediatamente em prática as engrenagens que desempacoto. As caixas são grandes e pesadas. A vida é dura e cheia de objetivos. Monto antes de analisar,  termino antes de  concluir. Os detalhes podem ser sinceros. E eu adoro a sinceridade, mas dessa vez eu passo. Porque no fundo, no fundo, tudo é jogo de palavras ou de linguagem.
O homem sempre procura um berço, um projeto de abrigo, um ninho onde o olhar cego não possa penetrar para colher ali o fruto da informação. Melhor mesmo é seguir oculto, mas sempre presente, como se fosse um velho cabide que abriga roupas jogadas.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Viagem



Fui derrubado por uma onda. Respiro. E nasceu dentro de mim um vampiro, um lobisomen ou um saci pererê. Sei lá. Minha reserva  foi para o espaço e resolvi pegar  o primeiro bonde, ou o primeiro dodge.   Vou para Cuba descobrir as lições de Fidel.

Não quero viajar sozinho, sinto falta de alguém para comentar as paisagens, suspirar e dizer, veja só que bonito ou isso é tão maravilhoso ou até mesmo um fiquei decepcionado da vida.

Deu tudo certo, apesar de todos os debates e discussões.  O passeio foi bonito, percorremos a cidade, respiramos os ares do melhor parque do mundo, os teatros, as compras e encontramos,  nos labirintos das ruas numeradas,  os restaurantes. Tudo isso,  apesar dos percalços.

Eles existem e devem existir. Pior seria se tudo fosse sempre dentro dos conformes, se a hipocrisia ingressasse de vez na nossa vida e ditasse as regras e maneiras. Sim, discutimos, brigamos, tentamos impôr nossas idéias, mas com o necessário e devido respeito- ma non troppo. Mesmo para embalar uma fatia de pizza num restaurante portoriquenho depois de uma peça de teatro.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Êxtase Absoluto


Acorda, acorda  e escuta, amor, o acorde que toca lá fora, ele reveste o verso, tem brilho, tem harmonia.

A formatação é sincera, sob forma rítmica, um pouco acelerada, eu sei, mas nem tanto, nem tanto.

Parece incorporar a forma, as raízes, teus olhos escuros, quase obscuros, capazes de me cegar.

A memória que falha, a  menina que canta, o vestido que encanta, reveste a parede de cor tão formosa.

Mergulha, mergulha, meu bem, no clímax sincero, ri um pouco, como forma partida de dor mal dormida.

É hora de enfrentar o presente, o norte, o desgaste, o rumo forte de passos quase descalços.

Levanta, levanta, marcha marcada, de olho no nada, são poucas as boas, movidas em fé.

Pobre engenheira que mede as maneiras, os cantos do nada, as casas quebradas, as louças vazias.

Não boceje nem nada, querida, lave e leve o lenço úmido para o silêncio do dia, faça a gloriosa trajetória.

Eu te empurro, como sempre faço, te forço, te sufoco, te obrigo a sentir o êxtase.

E depois, quando tudo chega ao seu final, eu peço desculpas, muitas desculpas por te manter acordada.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Fucking Angry


Não se pode -- jamais, nunca, never -- perder a dignidade. Isso é o que a vida nos impõe.Temos de ser dignos, ponto final. Não podemos, sob hipótese alguma, fugir desse norte. É assim que deve ser, está estabelecido, está escrito nas escrituras.

Não podemos ser profanos, não podemos criticar o que não pode ser criticado, temos de nos comportar, nosso dever é sempre manter a linha, não deixar ela ficar torta, porque é essa a estética da vida.

O belo é belo e não se discute. Exite o belo, assim como existe o feio. O belo deve ser admirado, o feio foi feito para ser criticado. A arte bela deve ser exposta, o que é horroroso deve permanecer na escuridão do vazio.

Estou dizendo essas coisas apenas por dizer. Quem se interessar que leia; quem não se interessar que dê um clique e vá embora.

Eu vi


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