Buscando não se sabe bem o quê.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Propaganda de Mim Mesmo


Navego pela blogosfera a procura de algo que não encontro. E quando chega o fim de ano existem os concursos -- milhares por ai -- do melhor blog de Portugal, do planeta ou da paróquia. Alguns são muito bons, outros são médios, mas têm aqueles que não cheiram e nem fedem. São opacos, ocos e secos. Sou daqueles que acha que um bom blog tem que ter um visual legal, um texto interessante e uma postura arrojada. Esse é o segredo - penso - de um bom blog. Outro dia me perguntaram -- ninguém sabe que eu sou um blogueiro -- o que é, afinal, um blog? Well, eu disse, é uma espécie de diário onde as pessoas contam casos, coisas e fazem propaganda de si mesmo. Pois é, ninguém sabe que eu sou um blogueiro, porque eu não quero que as pessoas fiquem pensando por ai que eu faço propaganda de mim mesmo. Prefiro continuar como sujeito oculto e amigo secreto.

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Bizarro


Fotos de Rodrigo Braga




domingo, 16 de dezembro de 2007

Despertar


Sonho de uma noite adormecida enquanto o avião patina no campo de golfe. Acordo com a chuva fina que invade meu senso de equilíbrio. Vontade de passar os dias aqui, sem me mexer no manto profundo que me encobre e acolhe. Não sei ao certo se era sonho ou pesadelo, porque não sofri e nem morri na imagem quebrada de uma manhã que já está pela metade. E o tempo passou mais rápido do que eu percebi. O olho grudado e firme contemplando os números dos minutos que brilham verdes no relógio barato que alguém me deu em alguma festa de amigo secreto. Os compromissos não existem mais, imagino. Chega por hoje, desperto. E levanto logo para ler no jornal a notícia que vai embalar meu dia. Destino pronto de quem escolhe a única camisa que combina com o sapato que ainda está novo. E, portanto, esconde o segredo debaixo do travesseiro, como se fosse o primeiro dente, porque a noite chega mais cedo do que se pensa e amanhã uma nova manhã vai chegar como chegou a de hoje. Suspiro cedo a procura de um número qualquer que se possa ligar para pedir o auxílio necessário para resolver os velhos problemas. Nunca, eles não se foram e permanecem vivos. Ainda vivos, porque não se pode passar para a outra fase sem resolver os problemas de hoje. Há de se enfrentar os sonhos e os pesadelos e aquele avião que não conseguiu chegar no aeroporto e pousou leve no campo de golfe vai ter sempre algum significado. Há de se pesquisar na memória da alma, o que isso significa. Mas o jornal está posto, a mesa aguarda o chocolate quente de todos os dias. O sonho fica para depois, para o esquecimento de amanhã.

sábado, 15 de dezembro de 2007

Passagem


Estou indo
não sei se volto
um dia
quem sabe
um dia


E amanhã ou depois
posso bater na porta
e me apresentar
como aquele
que um dia
conheceu


Nem tenho isso
em mente
Nem quero
pensar
no assunto

Quero apenas
seguir minha trilha
olhar os ventos
discutir palavras
Enfim, passar.
* Imagem - Jorge Rueda

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Palavras Enxutas e Comentários Nobres

PRIMEIRA

Padece em forças rebeldes que não respeitam as intimidades
Fraqueza geral que leva os pés à cama
Comprimida em seu próprio seio - nutre o berço
extremece de raiva - se vangloria sempre dela
incontida na feição do olho que revela a sua não existência.
SEGUNDA
Que faz da sua análise sentada no divã do berço
a minha análise deitado no momento oportuno
para uma tese sombria e magnífica
que perdeu o sentido do verbo ser e estar
na hora inglória que conquistas com glória
que nunca passa mas transparece passar
ou que passa cedo demais, ou tarde para sempre.
TERCEIRA
Perdidos no jogo lusitano da palavra
acerta o dardo inusitado do terror
que assusta o cão passivo no meio da rua
E o menino que passa do outro lado
nem percebe o drama que está ali perto
Mas nada disso indica o que quero dizer
no eterno significado de minhas palavras
que saem curtas e longas, conforme o espaço.


QUARTA

Palavras enxutas - pérolas negras
podres e miseráveis - diamantes finitos
palavras chulas - torpedos mórbidos
palavras estrangeiras - the time is now
Que deletem todas elas - right now
Que contornem seus significados - aperfeiçoando-os
Que aguardem suas insignificâncias - guardando-as.

QUINTA

Minha cara alma - minha nobre semelhança
que saudade da tua magia - adormecida que nunca via
por que me esqueces tão rapidamente - rápido com mais vagar
por que não me deixas dormir na noite noturna - pesadelos soturnos
No jogo dos porquês não há promessas - nem dívidas, nem ranços
Nem vinganças - apenas mente -- por que mentes para ti mesmo?
O universo que colore o entorno do teu cérebro - dourado, maquiado, maluco.


SEXTA

Finalmente encontro Luiz Melodia na janela da alma
que canta para ela
Lava roupa todo o dia e a partir daí eu minto -- que alegria
na soleira da calçada
da magia
E quando chega o fim do dia
ela exausta canta a música da novela
E não perde um dia
Nem nos feriados
Nem no carnaval.

sábado, 8 de dezembro de 2007

Quando Chegou o Dezembro


O céu de um novo dezembro parece mais limpo que os dos outros meses. Talvez seja o prenúncio do alvorescer do ano-novo que está para chegar sorrateiro e confuso. Todos se preparam para os dias de festas, compras e hinos. No canto de tudo desperta a inconsciência daquele que faz malabarismo nas esquinas da vida. E o fluxo está um caos. Todos reclamam da vida que não anda, que custa a andar, que é interrompida a todo instante e o preço é abusivo. Ninguém chega na hora certa. Todos têm conta a pagar. Nem dezembro está em seu lugar. Mês de piscinas cristalinas e cheias, o mijo da criança que transborda, o mormaço da rua que já foi nobre e hoje é só de passagem. A fila dos ônibus de rua, os bancos sujos e incômodos da rodoviaria, o cartão eletrônico que abre a porta para quem senta esperando a vez de ser atendido na loja de celular. O velho taxi que houve tango na manhã de um sabado de compras na feira. Rúculas, tomates cerejas, girassóis, linhaça, cogumelos, um cálice de vinho e um pedaço de pão. Falsas árvores douradas com algodão de neve e as crianças de bermuda limpa brincando ao redor e o inspetor anota tudo em seu caderno vazio. Ele não sabe para que serve. Ele anota sem parar. O relatório pode ser exigido a qualquer momento, pensa. Mas ele ainda não sabe nada.

sábado, 1 de dezembro de 2007

Quando o Singelo Brotou no Mar


PRIMEIRA
De que adianta tantas flores e vazos perfeitos, cores e muitos nomes maravilhosos, cheios de charme se não consegues administrar decentemente tua vida?
De que adianta beber água da fonte sublime e tempestiva da tua vaidade se não consegues dizer a sinceridade mansa que acalma a tua verdade?
De que adianta balbuciares todos os pecados do mundo, a ira, a gula, a soberba e a luxúria se não consegues conviver gentilmente com nenhuma pessoa?

SEGUNDA
Há algo de errado no ponto de vista de quem pensa que o mundo existe apenas para si.
A tormenta do desencanto um dia baixa e afoga as vicissitudes de quem respira apenas o seu cheiro.
Um dia ela chega e bate a porta fria da alma penosa e desencantada da solidão dos sentimentos.
E preenche todas as metas em poucos segundos, quebra o record de todos os desafios.
E penetra incandescente, como órgão rígido, na pele que se abre flexível na busca de um conforto imperfeito.

TERCEIRA
Milagres podem vir um dia. Eles podem descer dos céus ou das estrelas. Eles podem, inclusive, nascer do teu próprio corpo. São máculas de sentimentos e ressentimentos deixados ao deus dará. E na hora da noite, quando tudo se acalma e se prepara para o amanhescer do novo dia, ele ingressa sorrateiro no sonho dourado de uma mente atormentada pelo desespero do dia a dia.

QUARTA
Não existe segunda-feira precária e nem domingo perfeito. Existe a emoção do dia a dia e o desafio de administrar a eterna felicidade. Nossa busca já está definida. Mas o segredo para seu encanto floresce na mais curta das rosas. Um galho que ninguém percebe e se solta do vaso recém plantado. Uma fagulha de água cristalina corre sobre o verde da folha caída na manhã de uma primavera sem nuvens. Tudo muito fotográfico, azulejos antigos, azul turquesa de uma piscina quase suja. A mangueira que solta a água como se fosse fonte adormescida. O conta-gotas de sempre que impede o fluxo perfeito que deve jorrar todo o tempo do mundo. E nós aqui discutindo paixões de cristo, o vermelho da camisa do ditador e o gol rezado do jogo do próximo domingo.

QUINTA E ÚLTIMA
Alguém um dia disse que é horrível conhecer. A gente utiliza certas frases no momento exato porque elas já foram ditas, também, nas horas incertas. A insensibilidade do vivente que passa horas alimentando seu ego vazio. Mas quem pode dizer uma verdade dessas? Quem aqui é autoridade para definir as novas prioridades? É horrível conhecer quando nossa mente está corrompida pelo virus do determinismo. Ninguém pode apostar no cavalo que vai vencer amanhã. Não existe receita certa para tomar o remédio que vai viciar nossas vidas. E segue o rio cheio de vasos de quimeras falsas pendentes e candentes que se abrem na direção do buraco negro do desafio.


Eu vi


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