Buscando não se sabe bem o quê.

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Esforço Físico


Esteira elétrica que fascina meu tênis novo.
Ele adere nela como faca em queijo.
A lâmina corta em lascas definidas.
Para servir na festa de logo mais.


Meu suor cai em cima do piso frio.
Olhar fixo para a música que nada me diz.
E vou no embalo das horas para outro tempo.
Tenho de tomar banho e lavar a cabeça.

Mas quero mais, quero ficar forte.
Minha silhueta não anda perfeita.
E a festa vai começar daqui a pouco.
Mais uma volta, o tempo pode esperar.

Enganado pelo Erro


Teu cínico preconceito não me faz admirar. És rasteiro quando podes e me imitas péssimamente. Pobre ator mirim. Não percebes a aposta que te fizeram. Não sabes a calúnia que vives. Interpretas mal e não sabes viver.

Depois de muito tempo descobri que tudo aquilo tinha sido um grande engano.
Havia chamado de impostor aquele que não era.
Corri à lista telefônica para identificar o número daquele que ofendi.
O número não existe mais e a pessoa está desaparecida.

Procurei por toda a cidade para pedir desculpa. Meu perdão intempestivo gerou em mim um triste impacto. Eu - o ofensor - enganado pelo meu próprio erro. Como suavizar uma crise como essa?

Dizem que o tempo passa e a gente assimila as situações. Pode ser que sim e pode ser que não. No meu caso, sigo buscando o réu da minha ofensa. Mas ele não aparece, foi embora, para longe ou para perto.

E sigo a vida preocupado com o mesmo tema.

sábado, 25 de agosto de 2007

O Fluxo


Pessoas passam correndo de um lado para o outro. Fechadas em seu silêncio intimista elas ouvem o seu próprio som que não pode ser interrompido. O tráfego não pode parar. O fluxo tem de fluir. É só seguir o fluxo até chegar ao endereço. Ninguém, nenhum movimento, nenhum protesto, nenhuma manifestação pode interromper o fluxo. Querem ocupar o fluxo, mas ele não pode ser ocupado. Ele tem de fluir. Nenhum pensamento, nenhuma religião, nenhuma ideologia pode ocupar o fluxo. Mas querem ocupá-lo ou invadí-lo. Querem tomar conta dele. O fluxo não pode ser propriedade de ninguém. O fluxo é público privado. É por ele que as pessoas interagem, se locomovem, se distanciam, se aproximam, se divertem e se odeiam. O fluxo é a intimidade de todos. É tudo ao mesmo tempo agora. O caos organizado que passa pela mesma rua, pela mesma perimetral. Urbana, rural, na mata, na moita. O fluxo é o pós modernismo a flor da pele. E por isso é tão detestado. Estamos embutidos no fluxo e no refluxo. O movimento que movimenta. A forma que formata e desforma. E seguimos procurando o fluxo que nos transporta ao desconhecido conhecimento.

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Na Corte


O Tribunal julga e eu espero o resultado. Qual será o veredito? Culpado ou inocente? Indícios, provas, ilações. Verdades e mentiras. Mentiras e verdades. Dúvidas e contrapontos. Textos e contextos. Tudo a ser examinado, analisado minuciosamente. Até que a sentença chega e julga o caso. E eu espero o resultado.

terça-feira, 21 de agosto de 2007

O Outro em Mim


Tenho pouco tempo, prefiro correr. A noite apaga. Tenho de fazer algo. Se aproxima. Está no limite da hora. O despertador que não chega. Ela vem e tenta me encantar. Hipnotizado- sigo os passos, mas resisto. Digo não. Não quero, não tenho vontade. Sai fora. Pesadelo cínico. Levanto apressado da cama que dorme quente. Visto meus pés nus. Assumo compromisso com minha dignidade. Busco o ser invencível, incorruptível, apesar de minha alma corrompida por um passado sem significado. Tento ser outro, eterno outro. Quase o mesmo, mas diferente. A necessária formatação pelo acaso da vida. Não caio mais em maluquices fogosas. Passatempos vorazes. Armadilha da insignificância. Busco o outro em mim. Qualquer que seja o outro em mim.
(Escultura acima é de Ron Mueck)

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Palavras Difíceis


Psiu, estou falando contigo. Sim, contigo mesmo. Tu, que estás ai lendo essa mensagem sem graça. Pois é, passei a noite em claro pensando em ti. Queria dormir e esquecer, mas não conseguia. O pesadelo atormentava a alma e revirava minha triste memória. Quando dormi já era hora de acordar. E tinha feito uma promessa de escrever uma carta de amor. Como posso escrever diante daquele trauma monumental? Estou atordoado pelos fatos. Um zumbi catatônico que amorcega as palavras de amor que deveriam surgir na minha mente cansada. Não consigo deixar de pensar em ti. Tua presença me transforma. Tua ausência me preocupa. Não sei o que eu quero. Sei o que sinto. Não posso dizer que não te amo. Estarei mentindo. E não gosto de omitir. Meu orgulho leva ao sagrado impasse. Afinal, o que fazer? Abrir imediatamente minha alma diante do acontecimento? Ou devo permanecer calado, por alguns instantes, aguardando o momento adequado - feito um inseguro, mas cauteloso predador - para abrir minha voz e dizer que te amo?

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

O Lado Intempestivo


Um formato invisível de ver as coisas. Quase mudo no pensamento. Crueldades e maldades não estão no mapa. São ilusões que passam a seguir o modelito que todos perseguem. Belle de Jour, a prostituta ideal. Balas para que te quero. Deixo o recado e a mensagem inaudível. Escondido (sempre escondido) não quero aparecer. Minha voz duvidosa parece não ser mais minha. Perdi seu controle, tal como meus dedos na tela deste computador. Perdi o controle do que penso. Uma metamorfose tomou conta de uma essência que não é minha. Cheiro o perfume que usas para disfarçar teu segredo. Reprimo a forma da compaixão. Não quero saber de novas hipóteses. Hipocrisia já as tenho o suficiente. Comprei todas as modas. As caixas e os produtos. Até mesmo o consumo de última hora. Quero me tornar um fiapo. Larguei o vinho, inclusive os Malbecs. Larguei a cultura de comer bem. E aqui estou com muita força de vontade para vencer as barreiras da necessidade. Tenho dúvidas se conseguirei. Nunca fui de levar uma vida franciscana. Nunca fui muito de levar. Também não sou muito de buscar. Insisto na média, no mito do meio termo. Sou radical moderado que vive escondido no meio do mato do pensamento. Bucolismos nem pensar. Sentimentalismos estou fora. Niilismos - bem capaz. Quero acreditar em alguém que me diga algo. Um regime para formatar meu corpo. Capacidade para extorquir a mente. Alma levada pela dignidade que não enxergo. Mas estou leve. Bem leve. Que me leve.
(mais uma escultura de Ron Mueck acima)

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Alvorada


Do alto vejo o jogo, no campo descampado. Bola na trave, o chute violento do jogo. A grande diversão. O menino que solta pandorgas. O menino que corre descalço. A mãe que amassa e soca o pão. O pai que puxa a carroça. O fogão à lenha que aquece o pequeno ambiente. A menina que brinca com o resto de comida que não sobra.

Quando o avião sobe no meio da cidade depois dos edifícios bonitos se enxerga uma multidão de casarões de telhado de zinco. São diminutos ambientes de um quarto só, uma cama só. Lado a lado, simetricamente ordenados. Estrada de chão. Rua de chão. Vila Umbu, Vila Tupã, Vila Intersul, Vila Caxambú, Vila Campos Verdes.

São multidões de carroças e carros velhos que passam de um lado para o outro. Ordenados e desordenados se dirigem à grande cidade para colher o resto de tudo. E quando chega a noite elas despejam o produto para a multidão catar no meio do lixo e da insalubridade.


Do alto do meu vôo eu pego o jornal e leio. Mais um crime em Alvorada. Mais um record em Alvorada. A cidade campeã de tudo. Está ela ali embaixo. E eu aqui em cima. Num outro mundo, num outro ambiente. Estou distante, bem distante daquela multidão que mora lá embaixo.

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Mínimo Eu


Necessito urgência. Um pouco de urgência. Para ontem. Não posso mais aguardar. Quero uma definição logo. Logo. Alguma resposta, alguma explicação. Explique-se.

Não tenho pensado mais nos últimos tempos. Faz parte da solidão que resolvi ficar. Não posso mais ser eterno enquanto dure, a raiz não é minha. Ando vacilante pela dor do inferno infinito. O tempo todo a mesma hora.

Estou só no meio de tudo. Não posso mais ser infeliz e feliz ao mesmo tempo. Tudo agora passa e repassa. Encontra e desencontra. Ameaça e atrapalha. O resto de mim que ficou no corpo. O colchão fedido de dores do alívio. A tortura sagaz da alma que corta.

Lembro os tempos de outras eras. Minha encarnação já vivida. Almas silenciosas que por mim passaram e nem percebi. Rostos ambulantes que me sorriram e eu nem respondi. Não olho as faces do mundo. Não olho nem um segundo.

Por isso estou aqui, metido a poeta vadio. Dignificando o exagero dos fatos, alimentando o antagonsimo de meus pecados. Escondo meu nome para que ninguém identifique. Mas sou eu. Alegre eu. Triste eu. Apenas eu.


(Acima mais uma escultura de Ron Mueck)



segunda-feira, 6 de agosto de 2007

domingo, 5 de agosto de 2007

O Eterno Retorno


Nietzsche sempre me fascinou e atordoou. Volta e meia me deparo com ele. O eterno retorno de sempre. Luc Ferry me reapresentou a Nietzsche, o carinha da pós modernidade, o filósofo do martelo, o aniquilador de ídolos, o crítico do inchaço metafísico, aquele que diz que o real é um caos que nada tem de cósmico ou divino. O mundo como pluralidade irredutível de forças, de instintos e pulsões que vivem em confronto. O mundo como fluxo perpétuo, desestruturado, caótico, fragmentado, ilógico, despejado da bela unidade que a perspectiva e o respeito às regras da harmonia conferiam às obras de arte do passado (forças ativas). O racionalismo científico é uma ilusão. As forças reativas, as que se expandem e produzem todos os seus efeitos reprimindo, aniquilando e mutilando outras forças. A força da reação à metafísica, à ciência e à religião que pretendem ascender às verdades ideais e que não pertencem ao universo corporal. A moral do imoralista que acredita -- finalmente -- numa conciliação de todas as forças ativas e reativas. O novo ideal, a grande arquitetura, a grandeza, o entendimento entre poderes opostos, a coalização de forças irreconciliáveis. O grande estilo. O senhor do caos interior, aquele que força o caos a assumir forma, o agir lógico, simples, categórico. Novamente o grande estilo que domestica e integra as forças reativas. A harmonia como condição essencial para se viver bem. A vontade da vontade. O amor fati, o amor do momento presente, do destino, a inocência do devir, o eterno retorno, a salvação terrestre, sem ídolos e sem Deus.

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

O Acorde e a Espera


Embolorou o bolo que fazes. No forno a forma aquece. Ferve o líquido. Esquenta o sólido. Quente está. Na medida certa, cheio de polvilhos e construções.


Não devo mais ficar sentado, esperando você concordar.


Enriqueço meus desejos com os brincos que te dei. Pequenos diamantes que usas todo o dia. Eles são eternos.


Não posso mais ficar sentado, esperando você concordar.


Estou rouco chupando bala amarga. Ela se dissipa na boca do hálito. Fico longe, quase distante - a doença pode pegar.


Quero esperar sentando, esperando você concordar.

Eu vi


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