Buscando não se sabe bem o quê.

domingo, 29 de junho de 2008

Por Causa do Tablete


Ela tá cansada, porque dormiu pouco, porque está sem forças e ainda gripada. Ela tem que lavar a louça e não encontra o maldito do tablete. E não existe ninguém para ajudá-la. O pequeno está com fome e ela abre a bisnaguinha e derrama doce de leite. O maior parece que saiu. Pelo menos não se houve barulho dele pela casa. Quem está sempre presente com ela é o cachorro. Bondoso, querido e bonitinho ele é a razão de um certo e necessário bem-estar. E o tablete que se dissolve na água para tirar a gordura da louça suja do jantar feito pelo maior? Procura por todos os cantos e não encontra. Vai ter que ir até a venda, mas o pequeno não pode ficar sozinho. Ele não quer sair para a rua em dia mais ou menos chuvoso. Ela está com raiva do maior, porque ele não aparece na hora que tem de aparecer. Onde anda esse diabo?
*foto de Chema Madoz

sábado, 28 de junho de 2008

Caminhando na Direção de Si Mesmo


Encurralado, o ato, a conta. Sem notícia, de plantão, a noite inteira. Sublime, perda, para ter um dia tranquilo. Sem dormonid, sem guaraná - nem picaretagem. Acordou num dia de peso, calçou o tênis foi para a rua perambular. No centro tomou um taxi foi a algum lugar. Sem muita grana, deu no que deu. Estava com pressa. Meio desesperado. Normal, é assim que ele sempre anda. Dizem que é paranóia, melancolia, mas tem gente que diz que é safadeza mesmo. Sei lá, o cara é complicado mesmo. Chega ao ponto e é recebido por uma senhora velha e cabisbaixa. Ela olha para ele e não sorri. É mais um freguês de outra freguesia. Ponto.


Questão de honra, ele diz. Questão de honra. Dei minha palavra e investi minha grana. Questão de honra. Juro que não entendi bulhufas. Tentei visualizar de divesos ângulos e não entendi bulhufas. O que ele fazia ali? O que ele estava fazendo lá? Se tava sem grana, por que veio de taxi? São perguntas e outras questões que ninguém vai saber, porque o filme é enigmático. É tudo muito soturno e a obscuridade é o segredo de certos negócios.


Tá curioso? Toma um chá verde que acalma. Mas não é qualquer chá verde. Tem que ser o legítimo, o japonês mesmo.


O taxi ficou esperando e ele disse para voltar no mesmo lugar. Chegou em casa e abriu o embrulho. Não era bem um mapa secreto, mas era quase isso. Era um pequeno portal onde ele entrou e começou a falar de forma insistente. Falava da vida e falava de tudo. Falava sem parar. Falou do passado bem distante, do passado recente, do presente e dos sonhos do futuro. Falou até o tempo passar. E o tempo passou e a hora terminou. E ele foi para a rua viver a vida.

terça-feira, 24 de junho de 2008

A Conta


Toda a vez que eu chego no escritório e tenho que pagar uma conta grande, eu enrolo. Faço o que eu tenho que fazer, faço o que eu não tenho que fazer e vou deixando a conta se perder pela mesa, até ela ficar desaparecida. E quando chega 6 horas da tarde, na última hora crucial, vou correndo atrás da maldita conta para pagar. Acesso essa geringonça aqui que me conecta para a minha pequena -- e cada vez mais minúscula -- caixa forte. Digito os números do meu cofre e geralmente erro, porque os seres viventes vão perdendo a nitidez da visão. E depois de digitar todos aqueles números repetitivos e nebulosos eu dou um ok e a conta aparece paga. Eu não vi meu rico dinheirinho saindo da minha continha e indo parar na conta da American Express, mas ele sai rapidamente - com a mesma rapidez com que se gasta - e já está lá, pelo menos é isso o que o comprovante digital chamado 'certificado' mostra, ou tenta mostrar. Sei lá. Depois, eu sempre penso a mesma coisa: pelo menos a conta deste mês está paga e a do mês seguinte?

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Sambinha da Confiança



eu sei
fiquei sabendo
ontem
Não me enrola
Eu disse não me enrola
não atrapalha
deixa eu raciocinar
please

Me deixa por um minuto me deixa
deixa eu ser um pouco eu deixa
deixa eu ver um pouco a mim deixa
deixa eu
please

Quanto sufoco nessa noite mórbida
desatenção no límite cítrico
rapidez tremenda na formatação líquida
E eu aqui na visão cíclica
Esperando a gota do teu passo límpido

É proparô
Proparô
xitonaaaaa
É proparô
Proparô
xitonaaaa

Quando Um Dia o Tempo Passa



Quatro ou cinco, meia dúzia, talvez meia dúzia. Ela contou e continuou a contar. Quando e quantos haviam sido. Ele olhou para ela perplexo diante de tão grande intimidade. Nunca tinham tido esse tipo de papo. Mas ela resolveu falar. Não se sabe se este assunto estava trancado em sua garganta, talvez fosse alguma necessidade de dizer algo diferente, fugir daquela vida diária que eles tanto evitavam chamar de rotina. Mas a vida é assim e assim passam os dias, mesclando conhecimentos, caprichos, implicâncias, ressentimentos e doses de pequenas luxúrias. E lá se vai, também, o tempo que acompanha a vida e é testemunha das alegrias da infância, das conquistas da juventude, da beleza da mocidade e da firmeza da meia-idade. O tempo corre e cada vez mais rápido. A angústia cresce. Sentiam-se despreparados para o tempo presente. Naquela noite eles, enfim, dormiram - cada um para o seu lado. Na manhã seguinte ele pouco falou com ela e ela até mesmo vibrou com o acontecido, apesar de ter sonhado com situações envolvendo culpas e remorsos. Ela amanheceu pesada. Percebeu algo que nunca havia percebido ou sentido. As pequenas rugas que ela tentava esconder com cremes e sabonetes estavam também inseridas na sua intimidade. Ela olhou no espelho da manhã e - pela primeira vez na vida - se achou amadurecida.


domingo, 15 de junho de 2008

Pode ser


Pode ser bom, até ser bom. Pode ser doce e mais doce. Pode ser claro, pode ser nítido e pode ser nublado. Pode ser nebuloso, obscuro, mas pode ser límpido. Pode ser único, mas pode ser diverso. Pode ser ser objetivo, pode ser prolixo, pode perder a poesia, a rima o ritmo. Pode não ser claro, pode ser outra coisa. Pode ser diferente, completamente diferente. Pode ser de outro modo. Isso, pode ser de outro modo. Pode ser de todos os modos. Enfim, pode ser aquilo, aquele outro, ou aquele ali. Tanto faz. O importante é que pode ser. Mas pode não ser. Pode dar errado. Pode ser é apenas pode ser. Não significa que é. Pode dar zebra. E aí complica, porque poderia ter sido, mas não foi. Pode ser que eu esteja errando. Pode ser que eu esteja errado. Pode ser que isso tudo aqui seja o mais correto dos corretos. Pode ser. Não significa que seja. Não significa que é. Pode ser.

terça-feira, 3 de junho de 2008

Pecados de um pequeno deus


Peco na insistência, na dúvida, na vontade de fazer amor sem dor.
Peco porque sou vítima de todas as circunstâncias e por isso eu posso pecar.
Peco porque sou deus, sou o criador da minha própria natureza, o dono do meu mundo.
Peco porque este corpo é meu e sei como fazê-lo feliz. Apenas eu sei disso e mais ninguém.
Peco porque circulo pelo meu mundo soberano, o império de todas as minhas coisas. Minha terra de ninguém. Paraíso do meu próprio dom. Empório das minhas alucinações. Depósito de todos os meus pertences. Inventário de todos os meus patrimônios. E assim quero ser lembrado para todo, por tudo e por sempre.

Eu vi


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