Buscando não se sabe bem o quê.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

A Perceptível Diferença da Densidade Ótica

Ele não desiste, porque sempre foi assim e continua a falar para ela que sofre. Que sofre muito, que sua vida é um desatino, que tudo é difícil, muito complicado. E ela tem uma paciência de cão e engole sempre, porque nada comenta, nada critica. Apenas anui balançando a cabeça de cima para baixo enquanto lê um livro saboroso. Satisfeito, ele vira para o lado e dorme.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Passagem


Um dia se desce a ladeira do mal entendido. E tudo fica razoavelmente limpo até que uma nova onda chega e leva todas as estruturas criadas para o outro lado da tempestade. . O peso da idade carrega as articulações para o lado da dor. Por motivos de dignidade, solidariedade e sobrevivência  uma dose é aplicada. E a paisagem muda, são  imagens do passado mais antigo. É uma bela sensação de "deja vu" que leva e  parece constante. Envelhecer é algo completamente mágico. Nos últimos tempos disfarça as mãos enrugadas com a manga larga da camisola rosa envelhecida pelo uso e a doença. A tosse que atormenta as glândulas internas na hora do fumo. E o esquecimento constante de recapitular a primeira infância. Não a fase do berço, das mamadeiras e do estojo escolar, mas a pré adolescência tardia. No  momento, os meninos e as menina correm  uniformizados sem direção pelo pátio da escola enquanto a pequena bruma desce trazendo consigo um ambiente sinistro, mas muito belo. Era bom estar ali. Eles jogam bolas: pequenas, grandes, de gude. Elas pulam as cordas.  Encantada teve  a sensação de acordar, porque batia uma luz clara típica do amanhecer. Olhou para o lado e percebeu que estava incrivelmente leve no seu quarto de menina,  a mesinha decorada com os livros encadernados, o ursinho que aquecia sua cama. Sua  pele estava mais macia, as unhas bem  feitas, os cabelos encaracolados, bem do jeito que   mamãe insitia em fazer. Teimosa   chamou seu nome e sua voz foi desaparecendo feito vento no frio. O tempo finalmente passou e ninguém apareceu, porque  ninguém ouviu. Porque não se pode ouvir os movimentos de um corpo que já não existe mais, cansado, exausto e que aguentou até o fim. Pois esse é o sentido da vida.

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quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Thanks, Mr Barret



O homem seguiu as indicações do  GPS até chegar ao  local aguardado e, finalmente,  devolveu o carro alugado. A família saiu apressada carregando as três ou as quatro malas pesadas  e a câmara ficou. As imagens foram salvas, mas o aparelho ficou perdido no meio dos bancos. Muitos carros entravam. Mais do que se imagina. Fazia calor de 35 graus. Ele se deu conta da perda e  resolveu procurar na imensa garagem o  malibu dourado que já havia sido levado. Encontrou três Malibus idênticos, mas  com placas de outros estados ou com características diferentes. Depois de 15 minutos circulando no meio de todos os carros devolvidos  ele encontrou o que procurava no local mais sinistro do estacionamento. Os papéis, a lata do energético, do Sprite, os mapas da Flórida, estavam todos no chão. A velha máquina de fotografia não foi encontrada. Eles haviam encontrado e levado.

Cientes da perda, eles ingressaram imediatamente no aeroporto carregando as malas até o ponto de ônibus que os levariam para outro setor. O suor corria por todos os rostos.  Estavam todos molhados e cansados. Muitas compras foram feitas nos outlets e lojas localizadas estratégicamente nos  parques. O peso estava mais do que pesado. Ao chegar no terminal principal foram direto ao check in automático que não lhes deu resposta. A senhora da companhia, chamada Nancy,  tentou fazer o check in manual e o resultado foi que eles tinham de se apresentar em 15 minutos em outro aeroporto distante 500 km, sob pena de no show. As passagens reservadas e  compradas não teriam mais valor.

Foi quando apareceu o Mr Barret que tomou de  Nancy o comando da situação. Determinado ele começou a digitar com seus negros dedos os teclados da companhia  enquanto mordia, de forma firme e segura,  um velho e usado palito. No fim, o Senhor Barret conseguiu resolver quase todos os problemas e uma multa de 200 dólares foi paga imediatamente, via cartão Amex.

Todos ficaram satisfeitos e  agradeceram ao Mr. Barret, até mesmo o guri.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Viagem de Comemoração


Ele pensou em São Petersburgo, terra do Fiodor. Ou Berlim onde passou alguns meses na metade de sua vida. Poderia ser Paris, Londres, Nova York. Tóquio, talvez. Mas ele preferiu olhar largo. Não pensar apenas em si, mas em todos. Principalmente nele, no tijolinho que está aprendendo que a vida é mesmo cheia de contradições. Ele disse que não anda em montanha russa, mas já admitiu que na mais light talvez ele faça um test drive. E partiremos em seguida em direção à irrealidade cotidiana, onde o mundo fake se fecha e se consolida. E como férias são férias e comemorações são comemorações não pensaremos muito nisso. Esse é o plano. Essa é a estratégia.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Os Dedos

Bate tecla forte, bate firme, bate sem parar. Não pare nunca, continua a bater, a digitar com  os dedos até ficarem cansados, até mesmo exaustos, dormentes, adormecidos e a obrigação natural  de escrever, escrever e escrever. Pequenos poemas, fagulhas, textos, cartas dominantes ou não, prosas incríveis, fantásticas, correspondências, petições, avisos, recados e tudo o que for possível manifestar com esses dedos que valem ouro. E continuo a pensar - a ouvir e a pensar - porque no meu coração não existe espaço suficiente para demonstrar tão profundo afeto. Sou limitado - e enquanto isso enxugo duas lágrimas - e portanto resolvo fazer o que sempre fiz. Esperar, aguardar até que um dia o mundo exploda sobre mim. E enquanto esse dia não chega, passo os dias a bater forte, de forma profunda, muitas vezes desarrazoada, as letras que escolho no teclado e que fazem aquele pequeno ruído tão bom de se ouvir.

Comunicando


Aconchegado numa sala quente, no meio do centro, onde tudo é frio, porque o vento espanta com a sensação de menos zero, com olhar preso a tela, onde está pendurada  uma petição sobre antecipações de tutela ouço o sinal do aviso:   recebo a mensagem no meu e-mail que, na verdade, é um convite para fazer a "sopa da noite do temperamento extravagante e cheio de riso". Meus dedos ficaram loucos - eles é que dominam o meu ser -- para dar um reply que foi mais ou menos esse: "Em uma sala quente numa tarde fria ele abre o e-mail e lê a mensagem deixada. Ele ri, depois fica feliz. Ele olha no relógio e suspira fundo: está quase chegando a hora." E assim vamos comunicando e nos entendendo ou não. Porque assim passam os dias. Apenas porque assim é. E a hora chega e a hora passa. E a vida nunca dá nada de graça.

Eu vi


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