Buscando não se sabe bem o quê.

quinta-feira, 20 de março de 2008

Ontem


Minha como nunca antes
pura de ternura intacta
queixo do porão da noite
luz opaca que encobre corpo
suspiro que abraça mãos
veias que pulsam quando percebem
risada sapeca gemidos nobres
brilho curto saudável da pele quase branca
abraça o ventre a procura de algo
percebe tudo como se fosse nada
enquanto encantas a noite de ontem
* imagem: trabalho de Lucy Figueiredo

quarta-feira, 19 de março de 2008

Do Outro Lado


No semaforo das luzes apagadas o pequeno carro escuro atravessa a grande rua exatamente às três da manhã. No prédio de apartamentos que fica exatamente naquela esquina, o porteiro ouve a rádio a espera da música que sua nova namorada prometeu oferecer. Enquanto isso, o celular toca e ninguém atende. Quem está do outro lado ou está ocupado ou está a dormir.

Insiste. Disca. Ninguém atende. Preocupada, ansiosa, fuma. As horas, altas horas. Minutos que não passam. Agasalhada, no terraço da janela ela olha. A rua lá embaixo. Está presa no mundo de sempre. Ninguém passa, muito menos o carro que ela tanto espera. Já era hora de chegar, traga. Já era hora de chegar, quase... chora.

Depois das horas, na encruzilhada de tudo - todos sentem que a noite cheia de ânsia passou devagar. A calmaria, enfim, chegou no pequeno contexto. O porteiro, enfim, pode pegar o ônibus para a periferia da grande cidade. Estava chateado e preocupado. Não recebeu a mensagem e nem ouviu a aguardada música. Eram exatamente seis da manhã, hora de terminar o dia de ontem. Muito antes disso, o pequeno carro que cortara a cidade havia chegado ao seu destino para a alegria de quem ansiosamente esperava. O nervosismo da madrugada, a ansiedade da noite mal dormida embaralharam os números e as idéias. Quem estava do outro lado não estava dormindo e nem sossegado, muito menos acordado. Quem estava do outro lado, simplesmente não existia.
*foto de Orlando Souza

sábado, 15 de março de 2008

Oblíquo


Desengate, desengancho, desânimo, desanimado, desespero, desjaulado, desidratado, déspota e desobstruído.

Muito claro ainda que não fosse claro só pode ser tudo que não fosse nada.

Ponto final de exclamação, interrogação, vírgula, ponto e vírgula. Enchendo linguíça no acampamento.

E com toda a sorte do mundo ele parece viciado nas mesmas coisas de sempre

Não se dá conta de que algo mudou e que seu pensamento continua obtuso e oblíquo.

E assim passam los dias. Passam las noches. Passam las calles. E assim passamos nosotros.

sexta-feira, 7 de março de 2008

Impasse


As forças conspiradoras chegaram até meu convento. Estou ilhado (a). Preciso comunicar meus recados para a madre superiora. Ela vai ser sensata e entender a minha estratégia. Não tenho muito tempo para dialogar. A conversa vai ter de ser rápida. Bem rápida. Eles são espertos, estão espertos, sabem das minhas manhas, estão atrás das minhas pegadas. Ela vai ter de entender. Não tenho mais tempo, minhas forças estão cansadas. Durmo preso (a) ao cobertor, não preciso de navalhas. Não quero armas nem nada. Confio no que vou dizer. Talvez ela entenda, talvez não. Talvez ela desvenda o meu segredo e faça a entrega da minha mercadoria para a camarilha. O comando geral sabe exatamente onde me encontrar. Por que eles não chegam? Por que eles demoram? Só me resta abrir a reza do fim da tarde. Onde todas vão se encontrar e orar para o Deus divino. Eu sei que tudo isso é muito arriscado e que pessoas esperam por mim. Mas está na hora de abrir a boca e devo fazer isso enquanto existe, pelo menos, algum tempo.
*foto de Rodrigo Albert

quarta-feira, 5 de março de 2008

Resultados







Estamos todos estúpidos. Enfeitiçados estamos. Hipnotizados somos. E daí?

Minha diversidade antagônica alimenta minha nobre arte de implicar.

Pegar no pé de quem gosta, adora, ama acreditar no que não se deve.

Como se disse numa música dessas: o certo é saber que o certo é o certo.
E por dentro de minha certeza espio todos os detalhes como se fosse o inspetor curioso.

Que perigosamente se antecipa sem notar o sentido importante do detalhe pequeno e... significante.

Meu significado é o imperativo categórico da minha própria arrogância - motivo único para que muitos queiram compartilhar o motivo do meu mal.

E no dualismo hipócrita de nossos dias eu escolho o caminho da divergência da razoabilidade, como se fosse o certo medir tudo pelo compromisso da proporcionalidade.

A aritmética da certeza e da lógica inquestionável foi para o espaço e fiquei a ver navios diante de uma escolha simples, mas perigosa.

Contudo, diante de todos os fatos - eu reflito. De que adianta gastar palavras e letras, gritos e sensibilidades, resultados e omissões se o conflito interno é iminente?

Passo os dias a solucionar meus próprios equívocos absolutos, sonhando com resultados apagados, com dias de amor próprio, com escolhas felizes que fiz diante de todo o impasse do cotidiano.

Eu vi


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