Buscando não se sabe bem o quê.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Assim é




Gosto de dezembro, acredito em papai noel e gosto de natal, a festa da solidariedade. Estou feliz e seguro. E por isso quem escreveu o que está ali abaixo não sou eu. É uma pessoa rancorosa, ressentida, insegura e arrogante. Por favor, não confundam as coisas e nem tenham pena de mim. Um blogueiro também é um escritor que perambula pelos lados da ficção e pode ser tudo, inclusive um amargurado de testa baixa.



Vejam o que escreveu o tadinho.

No meu idioma central festejo as festas do fim de ano. Sou pobre de sentimentos e por isso tenho algum tipo de receio de comprar presentes. Meu guarda roupa está cheio e não preciso de nada. Comprei uma caixa forte para guardar minhas esperanças. Nada de sublime, apenas por precaução. Não quero e nem pretendo guardar comigo o gosto amargo da misericórdia. Por favor não tenham pena de mim, porque eu sou um grande mentiroso. Todo escritor tem algo desse tipo. Minha imaginação vai além das minhas posses. Faço exercícios constantes de dissimulação, porque sou implicante por natureza. Meu ego é do tamanho de um bonde e por isso alimento diariamente a minha cretina arrogância. Faço isso porque consigo me defender. Só sei que estou enredado num grande nó. E quanto mais eu tento desvencilhar das rédeas firmes que me sacrificam, mais eu fico preso nessa imensa teia que me perfura por dentro sem dor. E viciado na estrutura eu permaneço inerte diante das situações. Eu apenas digo e repito, isso é complicado, isso é dificil. E nada faço. E fico parado olhando a banda passar. E ela passa e eu esqueço. Até que um dia ela resolve passar de novo. E tudo se repete. Num vício constante. E assim caminha a vida. Assim a vida é.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Um Psicopata, Eu?



Minha deusa me disse que os psicopatas não sonham. Então eu sou um psicopata. Juro, não lembro de quase nenhum sonho. Quando eu era poeta aos 20 anos, deixava ao lado da cama um bloco de notas e uma caneta para anotar os meus sonhos. Um dia tive um pesadelo, o local era como se fosse a "Dança dos Vampiros" do Polanski. Era uma sala imensa onde as pessoas voavam de um lado para o outro. Não sei se eram pessoas, se eram fantasmas, vampiros ou espíritos que ainda não partiram e circulam por ai nas madrugadas. E eu, o pobre indefeso, estava ali no centro do sarau, agarrado intensamente ao lustre central adornado com cristais de pétalas cheirosas (esse detalhe eu lembro bem), o que queriam afinal aqueles seres fantasmagóricos? Acordei e corri para o bloco de notas anotar as minhas sensações. Infelizmente meu caderno se perdeu nas gavetas do meu passado. Lembro de ter sonhado coisas banais como ir para o trabalho sem sapato. Quando era bem pequeninho tinha um sonho recorrente: a velha senhora de longos e mal cuidados cabelos brancos, que veste uma túnica negra e anda de bengala. Ela desce os degraus do meu prédio até chegar onde estou. Sou um bebê completamente indefeso e inseguro. Definitivamente não gosto de fantasmas, de bruxas, de espíritos e de filme de terror. Por isso não gosto de sonhos e nem gosto de sonhar. E se sonho algo eu esqueço e nem tento lembrar, por isso posso ser um psicopata.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Plágio




Numa estalagem a neve fria do inverno. No calor lá de dentro diversas pessoas que contemplam a mesma mulher nua que está docemente vendada pelo marido de barriga muito grande. Não se pode tocar muito. Só um pouco. Nada além da conta.

Inspirado no post "Noite Fria Com Neve" do Terráqueo

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

A Fenda


Estou preso na condição de que os erros do passado não mais se repetirão. Essa é a minha catequese, o processo do meu aprendizado. Até onde vou? Assim invisto em outros focos de vida. Faço curso, prego palavras em vão, discuto simbologias domésticas, alimento meu corpo com novos ingredientes. Dizem que passei por uma revolução molecular. Tento reverter, até onde for possível, as diretrizes que tracei para a minha sobrevivência. No fundo, tudo continua o mesmo. Os objetivos continuam idênticos. Apenas a forma é que mudou. Minha obrigação não é de resultado e nem de garantia, mas de meio. Faço, então, tudo o que for possível para conquistar melhor os sucessivos objetivos. Meu barco é uma pequena caravela que sente profundamente os ventos do estibordo. No meio dos redemoinhos procuro os melhores desvios. Certas horas encontro paredes lacradas com as cores da negra tempestade. A embarcação tenta suportar as pressões humanas da natureza até que na hora H -- no momento em que a esperança quase desaparece -- é possível encontrar uma pequena fenda que parecia fechada. Ela surge do nada, aberta. Sou um sujeito de sorte, porque sempre consegui encontrar alternativas. E diante do que é complexo penetro - com o prazer da hora e com razoável facilidade - nas entranhas licorosas da salvação. Tudo é questão de linguagem e aprendizado. Uma vez me disseram, não podes dar azo ao azar. Mas corro pelos bosques escuros, navego pelos rios das tormentas, mantenho conversas com marginais obscuros, porque assim sempre fiz, gosto de apostar. Uma hora o buraco luminoso da salvação pode sucumbir. Este será, enfim, o dia do meu aprendizado. Pena que será tarde demais.

Pá Virada




Isso aqui não é enciclopédia, nem wikipédia. Portanto, cuidado com o que aqui se lê. Não me interessa o tamanho da fonte, se ela é confiável ou não. Isso aqui é apenas um registro e nada mais do que um registro. Um mero livro de notas. Quem estiver satisfeito que permaneça no seu lugar, que fique como está. Quem não estiver satisfeito que aperte a tecla del.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Mulheres divinas




Uma poetisa de muito tempo disse que as mulheres devem ser inventadas. Gostaria de ter esse brinquedinho. Quem sabe um controle remoto que tivesse a tecla de pause e stand by? Seria sucesso de venda. Se eu tivesse de escolher algum deus grego para minha catequese eu escolheria Afrodite ou Eros. E inventaria a mulher exatamente de acordo com o dom divino da sensualidade. Quando era pequeno e chegava dezembro, eu ficava olhando a televisão bicolor que mostrava propagandas de mulheres de saia. Elas corriam pelos campos em busca do chocolate perdido. O professor me disse que as mulheres de antigamente eram as verdadeiras donas do lar. Elas colhiam os frutos da terra que eram aquecidos nas caçarolas para alimentar as famílias das cidades antigas. Por acaso a vida hoje é diferente? A mulher não foi inventada e nem reinventada. Ela está onde sempre esteve. No pedestal do lar.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Receita


Subway dreams - Daniel Park


Meu mundo fascinante não merece relevo. Apenas sigo os passos da minha formação. Aqui vivi e aqui estou. E, portanto, não estou preocupado com os comentários que se faz no corredor e nas salas ao lado. Com passos largos e ritmo acelerado percorro o longo trecho até a porta do elevador. Fico cabisbaixo olhando fixo para o chão e ensurdeço. Se alguém me vê eu não olho; se alguém me chama eu fico surdo. A meta é chegar na porta de saída. É por isso que vivo. Tomo o elevador e desço rápido. Passo pela portaria contando os ladrilhos encardidos do velho prédio de escritórios. Minha incorporação sou eu. Ninguém manda em ninguém. Eu mando em mim. Não mando nos outros que fofocam a meu respeito. Eles me chamam disso e daquilo. Eu sei que sou esquisito. No final do mês pago a remuneração com o dinheiro que resta e ponto final. Sou homem de poucas palavras, não faço comentários, apenas determino que cada um siga sua função. E nesse processo eu vivo e colho os frutos para meu franciscano sustento. Chego em casa já cansado do barulho do nada e me debruço na janela que se posiciona para a grande avenida. Sigo os carros com olhar atento e me hipnotizo. Finalmente estou só, como sempre. E adormeço no mesmo sofá que encanta a mesma sala onde meus pais viveram e faleceram. Sigo exatamente as receitas que eles me ensinaram. É necessário ter cuidado com a vida.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

A Fulana




Os colegas de trabalho me pediram. Não havia como trabalhar com ela. Criava cizânia, vivia reclamando, organizava intrigas. Mas ela era uma boa profissional. Os colegas me deram um ultimato: era ela ou eles. Resolvi chamá-la na minha sala e iniciei a conversa: fulana, você é nova, você está estagiando, tem todo um futuro pela frente, mas está havendo problemas por aqui e você sabe disso. E fica complicado para mim trabalhar com um grupo desunido. Eu preciso de convergência. Infelizmente, fulana, não vai dar mais para a gente trabalhar junto.

Ela me olhou com os olhos bem arregalados e as lágrimas começaram a cair e se descambou a chorar. E chorava e chorava. Eu, desajeitado para esse tipo de incidente, não sabia o que fazer e o que dizer. E a fulana chorava: dizia, como vocês podem fazer isso comigo? Depois de uma pausa falei: fulana, assimila. Vou te dar mais uma semana aqui, mas assimila.

O tempo passou, a vida continuou. Semana passada encontrei a fulana. Ela disse que estava ótima, que estava trabalhando, que queria fazer concurso, que estava para casar com um Juiz, etc. Eu fiquei apenas ouvindo, escutando o que ela dizia com certa ansiedade. Nos despedimos e cheguei a boa conclusão de que ela assimilou.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Focos Obscuros de Uma Certa Memória




Descobri que existe noite. Que é possível dormir até mais tarde. O gosto do vício que também alucina. A comida que faz engordar. O líquido responsável pela embriaguez. O sabor do fumo que intoxica. A música que leva viajar.Descobri o lado do fascínio. Minha visão e sensibilidade, enfim, atingiram um outro ângulo. Não estava preocupado com o sentido da vida ou com a finitude de tudo, pois era muito jovem. As mulheres e suas saias me interessavam e passava a procurar seios na televisão bicolor tarde da noite, quando todos dormiam. E ficava horas esperando que aquilo acontecesse. E muitas vezes não acontecia. Frustrado, morrendo de sono, dormia. Sonhava como sendo o chefe glamoroso de uma família linda, de médicos ricos, donos de um grande hospital. Imaginava ela maravilhosa, linda, magra e inteligente, tinha até nome. Geramos filhos esbeltos e saudáveis. Todos formidáveis. Mas foi por pouco tempo, porque me desinteressei. Virei rebelde. Passei a contestar. Gostava de discutir. O cabelo cresceu, os tênis sujaram, as roupas ficaram estranhas. Andava de ônibus com a multidão de trabalhadores proletários, o que alimentou radicalmente o meu rol das pequenas descobertas. Comecei a ler entusiasmado os escritores malditos, aqueles que minha turma nunca lia. Anotava as palavras mais radicais. E vibrava com tudo aquilo. Usava nas conversas, debates e discussões. Virei um chato. Percorria as ruas populares e escuras no mais sagrado anonimato. Ninguém sabia, porque ninguém me via e eu não contava. Ninguém reconhecia, porque eu estava disfarçado. Era sempre tarde da noite.Depois dormia e sonhava. Não sei quanto tempo isso durou, porque não lembro mais de nada. Apenas pequenos fragmentos que eu ainda descubro em alguma prateleira que deixei aberta.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

O Mundo Sobre Mim




Fui um menino que tinha vergonha de pedir licença para ir ao banheiro. E me borrava nas calças e o cheiro invadia a sala de aula. Todos se olhavam e a peça acusatória corria contra mim. Ficava vermelho de pura vergonha e saia torto em direção a porta enquanto o pessoal ria. E a diretora chamava mamãe que estacionava seu volks na porta da escola e vinha com uniforme novo para eu vestir. Voltava para a sala acabrunhado, fechado em mim mesmo, contando as horas para o tempo passar e voltar para casa, para o coração do meu quarto, onde eu podia dominar o mundo.

O mundo era eu. Eu pensava que o mundo funcionava apenas ao meu redor. Todos faziam parte de uma grande encenação, onde eu era a figura principal. A realidade só existia na minha presença. Eram todos coadjuvantes da minha vida. Existiam os bons atores principais, aqueles que faziam parte da minha família. Existiam os coadjuvantes que eventualmente participavam da minha vida. Sempre quis encontrar os bastidores dessa grande encenação. Procurava nos cantos, nas portas, nas esquinas uma brecha, onde eu poderia descobrir essa falsa realidade. Queria passar para o outro lado, mas nunca conseguia.

Um dia me dei conta que a vida é muito mais complexa do que eu imaginava. Cada pessoa tinha sua própria vida e o mundo não mais me pertencia. Não havia teatro ao redor da minha pessoa, não haviam atores principais e nem mesmo coadjuvantes. Todos eram atores principais de suas próprias vidas. Juro que não fiquei decepcionado, mas aliviado. Os holofotes não estavam acesos apenas por minha causa. Eu poderia circular pelo escuro, sem que ninguém me visse. Eu tinha condições de ter alguma autonomia, sem que ninguém ficasse sabendo. Descobri, então, o lado escuro da vida.

Eu vi


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