Buscando não se sabe bem o quê.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

O Mundo Sobre Mim




Fui um menino que tinha vergonha de pedir licença para ir ao banheiro. E me borrava nas calças e o cheiro invadia a sala de aula. Todos se olhavam e a peça acusatória corria contra mim. Ficava vermelho de pura vergonha e saia torto em direção a porta enquanto o pessoal ria. E a diretora chamava mamãe que estacionava seu volks na porta da escola e vinha com uniforme novo para eu vestir. Voltava para a sala acabrunhado, fechado em mim mesmo, contando as horas para o tempo passar e voltar para casa, para o coração do meu quarto, onde eu podia dominar o mundo.

O mundo era eu. Eu pensava que o mundo funcionava apenas ao meu redor. Todos faziam parte de uma grande encenação, onde eu era a figura principal. A realidade só existia na minha presença. Eram todos coadjuvantes da minha vida. Existiam os bons atores principais, aqueles que faziam parte da minha família. Existiam os coadjuvantes que eventualmente participavam da minha vida. Sempre quis encontrar os bastidores dessa grande encenação. Procurava nos cantos, nas portas, nas esquinas uma brecha, onde eu poderia descobrir essa falsa realidade. Queria passar para o outro lado, mas nunca conseguia.

Um dia me dei conta que a vida é muito mais complexa do que eu imaginava. Cada pessoa tinha sua própria vida e o mundo não mais me pertencia. Não havia teatro ao redor da minha pessoa, não haviam atores principais e nem mesmo coadjuvantes. Todos eram atores principais de suas próprias vidas. Juro que não fiquei decepcionado, mas aliviado. Os holofotes não estavam acesos apenas por minha causa. Eu poderia circular pelo escuro, sem que ninguém me visse. Eu tinha condições de ter alguma autonomia, sem que ninguém ficasse sabendo. Descobri, então, o lado escuro da vida.

3 comentários:

continuando assim... disse...

gostei :) bastante !!

e o lado escuro da vida tem sempre que existir...senão,simplesmente não conseguimos ver o claro... :) bj

e agora reparo que esta é uma boa frase para por lá no continuando assim ... !
bj desde aqui
teresa

Terráqueo disse...

As vezes a gente demora para perceber como é libertador ser um anônimo um invisível.

Bípede Falante disse...

Concordo com a Teresa, o escuro ajuda a ver o claro e vice-versa. O que a gente não pode é ficar cego.

Eu vi


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