Buscando não se sabe bem o quê.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Resistência Repetida


Não sei da notícia que vem do hospital. Desligo o telefone porque hoje não quero saber. Estou cansado. Dormi demais. Deitei cedo. Acordei tarde. Demorei, demorei, demorei para me arrumar. Não quero fazer visitas. Quero ficar sentado no sofá. Não quero assistir a nada, nem a mim mesmo. Não tenho vontade de tomar sopa, nem café, nem sair de casa para passear com o cachorro. Que late aqui ao meu lado porque eu tenho a obrigação moral de levá-lo até a esquina. Tenho de comprar ração. Tenho de.... fazer tanta coisa, mas sinto que não posso, porque estou fraco e tonto e emotivo e suado, porque suo dos dois lados e tenho que cortar os pelos do nariz, os cabelos que correm no pescoço e fazem cócegas, minhas roupas que estão ficando pequenas, as calças que não fecham, os cintos que ficaram curtos, os botões das camisas que se perderam no chão. Minhas lentes de contato que estão sujas e fazem meus olhos vermelhos arder. Fadiga que verte, deriva, expele e toma conta. Sinto frio, sinto calor, sinto falta dágua. Bate o telefone que desliguei. Está na hora de sair. O cachorro que late em busca de comida. Minha resistência no limite. Atendo. Finalmente, está tudo bem. Percebo que o dia está bonito, a manhã clara  é sempre uma nova sensação de desafio. Procuro a chave que abre a porta. O cachorro abana o rabo com toda a força.

Rumo Próprio


Jogo pérolas no mar monumental dos meus encantos perniciosos. Elas afundam e desaparecem exatamente como eu queria. No dia seguinte sinto remorso. E essa angústia vai lapidar minha vida por todo o próximo futuro. Vai fazer parte da recente história, porque já estou marcado, como gado em cativeiro, sou aquele que perdeu a chance de ser alguém. Não se trata de jogo de sorte ou azar, mas a perda da oportunidade única. E no mundo do "business" isso pode ser fatal. Suspiro mais um pouco.Coloco Mahler na videoteca, porque ele nasceu 100 anos antes de mim,  apanho meus livros, discos e vídeos e me fecho no caminho que sigo. Não sei onde vai dar, mas assisto calado como ouvinte quase estruturado os rumos que tomarei nessa vida à deriva.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Aviso


Não me dêem ouvidos. Não sigam os meus conselhos. Esqueçam tudo o que aqui está dito.  Minhas receitas são únicas e exclusivas.

Não percam seus preciosos  tempos na tentativa inglória de desvendar minhas artimanhas subjetivas. Tudo isso aqui pode ser o veneno da  má companhia, Nunca brinquem comigo.

Isso pode ser  uma notificação, uma interpelação, um aviso.Não  venham cobrar, depois, que não sabiam de nada, que foram surpreendidos pelos cantos das sereias, que não havia nenhum Ulisses por perto amarrado aos postes da perdição.

Se por acaso sofrerem prejuízos incomensuráveis, não venham reclamar  de quem avisou.

Compromisso



Meu precioso, desejo concebido , fábrica que fabriquei,  fada fogosa, nunca te abandonarei. Não mais que um mês, poucos dias, folgas, férias, veraneios, tempo que voa, tempo que passa. Apenas isso, não mais que isso. Não te preocupes, sempre estou a voltar para aqui visitar e colocar nos teus ouvidos algumas palavrinhas que digito enquanto canto. Porque fiquei rouco de saudades e meu sussurro inaudível parece mofado pelo desencanto do meu próprio cansaço. E lá me vou pela vida afora, contando passagens, lendo redemoinhos, consultando calendários, deitando em redes curtas, falando como alma viva de um passado febril que sempre me consolou. Qual loucura de um amor tão sórdido que as palavras e o significado parece que não têm rumo ou nexo. Efeito reflexo de que algo se deslocou, saiu do lugar, escafedeu-se. Mas um dia -- de lua cheia ou vazia -- a volta é automática, compulsória, quase instantânea. Porque a saudade não é apenas uma ficção, uma teoria quase básica. É muito mais que isso, a lembrança de um sentimento de prazer que se mistura com a velha agonia do compromisso quebrado. E quando termino o alívio vem imediato, porque posso passar algumas semanas sem te ver. Porque coloquei a necessária gasolina, o nosso combustível, a dose exata para a sobrevivência. Até a próxima, porque já volto.

Eu vi


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