Buscando não se sabe bem o quê.

domingo, 28 de junho de 2009

Tunel do Tempo


Super heroi de papel eu mesmo fiz
Assobia
Porcelana dourada quebrei e gerou a primeira angústia
O enigmático castiçal -- dizem -- roubado da igreja guarnece a residência
A velha colher empenada alimento de banana esmagada
Eu quero teu cheiro
Antes da chuva recolho as bolinhas de gude espalhadas no quintal
Eu sempre perguntava: do que vou brincar? E decidido corria para a mesa de botão
Organizo meu campeonato.
Amanhã vou inaugurar minha nova merendeira azul


E depois de ter vivido tudo
Ainda sinto vontade
de debruçar no parapeito da janela
que abre e se fecha com impressionante rapidez
E vai e volta como se tudo fosse um limite
Colecionando os objetos que toquei
Fazendo reviver na minha memória
O gosto do bastão de leite desmancha entre os dentes da boca
Deitado conto a história assisto a velha tv de válvula
No ar o seriado que mais gostava
O túnel do tempo.

Máscara Moderna


Enquanto a prova não vem ele olha a bunda da mulher na cozinha. E ela, com cabelo cortado, lava os pratos com delicadeza. Ele contempla o bem estar daquele momento. Finalmente ele se encontra leve, mas angustiado. É que nada nesse mundo é tão perfeito assim. Existe sempre uma pedrinha no sapato que atormenta os pequenos detalhes. Não basta tirar o tênis e voltar a correr, porque os pés já estão com as marcas do sangue. Amargurado ele se retira e nega o convite para comer. Mas ele está bem, pelo menos está leve. E ele se equilibra distante economizando os sentimentos reprimidos de sua insanidade.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Quebrando Promessas




Eu disse aqui uma inverdade, um segredo que Dora me contou. Sou amigo dela. Apenas amigo. Sou diferente dos outros. Eu não quero conquistar Dora. Não tenho prazer com isso. Eu quero apenas contar suas histórias que ela me confidenciou. Eu jurei para ela que não contaria para ninguém. E estou quebrando essa promessa. Acho que ela não vai entrar no mundo da blogosfera e descobrir que eu falei mal dela por aqui. Assim espero, porque ela é uma criatura bem legal e não merece ser tão exposta assim. Eu disse uma inverdade sobre Dora. Disse que ela teve um namorado chamado Toninho, Tonico ou coisa assim. Ela me disse um dia, quando já tinha tomado algumas num buteco da rua do Lavradio que nunca namorou ninguém. Eu duvidei. Ela jurou. Ela disse que não gosta disso. Que ela gosta mesmo é de sair e conhecer os caras. As vezes ela não sabe nem o nome. Simplesmente ela sai, ela fica, ela gosta, ela goza. Eu nunca tive nada com Dora e nem vou ter. Ela é minha fonte de energia inspiradora, uma musa indecente que descobri por ai, percorrendo as calçadas tóxicas da vida.

O Ecochato




Não quero colocar o colete colorido do Minc, nem a tanga de crochet do Gabeira. Não vou fazer protestos contra os navios japoneses que pescam golfinhos no pacífico e nem vou queimar plantinhas de eucaliptos. Eu vou me tornar..... aliás, já me tornei um ambientalista. Um ecologista da sensatez. Meu professor me ensinou e eu anotei: ambientalismo não combina com radicalismo e intolerância, tudo gira em torno do controle sobre o risco e o princípio básico é o da precaução e da prevenção. O ambientalista tem de ser razoável, é necessário saber mitigar, compensar, conversar, conciliar. Por isso, eu resolvi ser -- e já sou -- um "ecochato" da paz. Um tolerante.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Dora





Eu não poderia deixar de falar em Doralice. Pois bem, quando ela tinha 16 ou 17 anos ela resolveu se chamar Dora. Isso mesmo, Dora a carioca, torcedora do Vasco, abandonada pelo pai, pela mãe e que vive na Tijuca na casa da avó -- que é cega. Namoradeira até o infinito. Nessa época ela já não era mais menina porque tinha conhecido e namorado o Toninho e depois pintaram no pedaço o Souza, o Glênio e o Talarico. Olhos bonitos, cabelos cumpridos, unhas pintadas, salto alto, nem menina e nem mulher, simplesmente Dora. E ela arrasava, sempre teve charme, sabia falar, se expressar, não era tímida nem nada. Era fácil, mas quem não é? Não tinha amigas, nunca teve, nunca gostou das mulheres, apenas dos guris, dos rapazes, dos homens. Mas eles também não eram seus amigos, porque contemplavam seu corpo, se excitavam com sua voz e sua malícia. E ela, maliciosa, sabia encantar. E encantava. Todos ficavam admirados e a cortejavam e ela sempre foi o centro absoluto dos desejos. E no fim da noite, ou no dia seguinte, de manhã cedo ou de tarde, ou até mesmo no fim da tarde, ela voltava para o velho apartamento do prédio descascado da rua Ubarana, ali perto do morro do Carrapato. Dona Inês, sua avó, nunca resmungava, nunca reclamava, apesar da pouca idade da neta. Sempre deixou a menina solta pelo bairro. E ela sempre se soltou. E continua solta.

O Pretensioso




Um dia - lá no meio da minha linha - estabeleci duas metas auspiciosas. A primeira é que eu seria eterenamente um sujeito saudável, a segundo é de que a felicidade nunca me faltaria. Passei anos da minha vida pensando nisso, até que um dia esqueci. E fiquei doente. Hoje, já no fim da vida, olhando os ponteiros do relógio esperando o fim do dia passar eu posso dizer -- do centro do meu trono -- que saúde e felicidade não se compram. Parece que estou dizendo o óbvio, mas não estou. Porque é difícil entrar na cabeça de um infeliz que felicidade e saúde se completam. Mas é necessário dinheiro para ter uma vida feliz. Infelizmente eu acredito nisso. Não estou falando de um vivente rico que despeja grana em todo lugar que vai, que vive uma vida de esbanjamento, arrogância, esnobismos e ganância. Não é disso que estou falando. Tudo na vida cai na medição da razoabilidade. Quando uma pessoa deve ganhar para viver razoavelmente? Isso tudo é relativo, porque a vida que a gente leva é uma sessão constante de mitigação. A gente está sempre se equilibrando com as finanças, com a saúde e com a felicidade. Mas eu cheguei a um ponto na vida que esqueci de tudo isso. Resolvi jogar tudo pela janela do edifício mais alto da cidade fria e mandar tudo às favas. E disse para mim mesmo. De agora em diante chega de responsabilidades, privações e controles. Vou viver a vida, porque ela está chegando ao fim. E aqui estou doente, infeliz e miserável.

domingo, 21 de junho de 2009

Doralice




Cansadinha Doralice rompe suas feridas. Seu olhar parece perverso, mas não é. Ela guarda ressentimento, porque foi largada. Diversas vezes foi largada. E agora está largada. Ela guarda mágoa de todos. Mas sua beleza conseguiu conquistar certos espaços. Ela percorre escorregando e se equilibrando. Afinal, ela sempre aprende. Foi essa a receita que a vida lhe ensinou. Doralice muitas vezes passa por estúpida e mal educada. Uma ou outra vez ela conheceu as sogras que sempre a rejeitara, Ela não era considerada uma mulher de nível. E Doralice sabia disso. Sempre soube. Sua mãe já avisara que a vida é assim. É necessário conquistar os espaços. E assim fazia Doralice. Assim ela faz.

Quanto Vale Sua Vida?




DVD para carro, monitor de 11 para assistir vídeo no banco traseiro. 1500
Monitor acoplado com controle na tela, tecnologia de primeira linha. 4.000.
Notebook compacto, com tela de última geração, perfeito: 2.500.
Plottagem automotiva opaca, cor preta, efeito impressionante: 2.000.
Almoço em churrascaria, duas cervejas importadas, sobremesa e taxa de estacionamento: 150.
Livro indicado pelo professor para acompanhamento de curso de mestrado: 100.
Livro sobre Canudos do autor favorito da princesa. 35.
Taxa da associação de pais para organização de festa junina na escola: 50.
Remédio para baixar o colesterol, 78.
Shampoo para reduzir queda de cabelo. 80.
Botinha para a princesa. 200.
Refrigerante isotômico para tomar depois da corrida: 2,5.
Pastilha anti-ácida para tomar depois de uma noite de vinhos: 6.
Vinho chinelo, uva carmenére, reserva. 50.
Vinho argentino, uva malbec, de entrada. 30.
Carré francês de cordeiro, 20.
Revista com as últimas notícias do Ben 10 e do "uma noite no museu 2".,10.
Máscara do Homem de Ferro. 30.
Flores para a princesa. 20.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Por um Instante




Todos passam no fim da tarde chuvosa, a menina chora. Doralice tenta esconder sua amargura, mas não consegue. Ela não está na sua casa. Se sente só. Está desamparada. Aflita ela derrama suas lágrimas no vestidinho vermelho, mas ninguém ouve. Os tambores e atabaques do terreiro batem forte. É uma canção de magia, de vudu, de adoração aos deuses negros, africanos. É o Rio imperial que volta a viver. E a Lapa dança no meio da urina e das latas na noite carnavalesca de fevereiro. A nuvem escura desce e água chuvosa se espalha pelas calçadas tóxicas. E ali caminho eu, no fim de tarde, descendo de Santa Tereza em direção aos arcos e a Glória. Não ouvi o choro de Doralice, mas pressenti sua angústia e sofrimento. Eu também estava embriagado. E lá me fui em direção ao trem que me leva para Copacabana.

Terça-feira Barata



Eugênio enlouquecido bateu forte em Maria Zavala. Foi muito estúpido. Ele não quis nem saber de explicação. Estava aborrecido e suspeitava de tudo. Bebeu mais. Estava fora de si. Que dia terrível. Nasceu errado. Não devia ter acordado. Muito embora as notícias sejam imprecisas foi assim mesmo o que aconteceu. É o que dizem. Maria, tadinha, correu para casa dos pais levando Tiaguinho e a menininha Doralice. Lá chegando foi, afinal, bem recebida. Conseguiu dar dois ou quatro telefonemas e respirou aliviada. Enfim, estava segura.

sábado, 13 de junho de 2009

Cio


Ele tenta, ela empina. Ele agarra, ela deixa. Ele tenta meter, ela parece que deixa. Ele cansa e ela se move. Tem de começar tudo do zero. Ele descansa. Ela descansa. Ele sente o cheiro. Ela exala e bota a língua para fora. Ele cheira e lambe a língua dela. Ela deixa. Ele agarra, ela deixa. Ela empina. Ele tenta meter. Mas ele não tem prática. E o pessoal comenta: ele está bem entusiasmado. Ele avança sobre ela. Ele mete e ela empina. Os dois ficam grudados. O pessoal comenta: agora vai dar. Ele está em cima. Ela está embaixo. Ele rebola, ele quer meter. Ele não sabe como fazer. Ela fica quieta. Ela deixa. Mas ela se mexe. E tem de começar tudo de novo.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Tarde




Tarde. E ela se veste. De costas se veste enquanto alguém olha. Ela fica contida. Retrancada. Reprimida. Mas ela se mostra. Ela é contra fazer essas coisas. Mas ela faz. Ela faz porque quer. Ela faz porque gosta. Mas ela é contra. Ela não precisa disso. É questão de religião, de moral, de identidade familiar. Espremida ela fica com qualquer um. E ela - tarde -- vai para casa. Cuidar da família. Cuidar do marido e dos filhos.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Coscurão




Aprendi a fazer sopa de moranga. Aprendi a fazer bife enrrolado. Aprendi a fazer radicci com bacon. Aprendi a fazer pasta de beringela e grão de bico. Aprendi a fazer cassoulet de feijão branco. Aprendi a fazer sashimi de polvo. Aprendi a fazer suco de laranja com abacaxi e mamão. Aprendi a fazer sagu de vinho médio. Aprendi a fazer torta de maçã. Aprendi a fazer coscurão.

Para Lembrar


Espremido ele respirou entre os dois corpos. Estava apertado. O fôlego não suporta mais. É muito cansaço e, portanto, adormesceu e acordou no outro dia sozinho. Olhou para a porta e ela estava fechada. Nenhum barulho em volta. Onde foram? Pensou no que tinha acontecido. Estava tudo muito nebuloso.Ele simplesmente não se lembrava. Não foi boleta, não foi alcool, não foi erva. Foi esquecimento mesmo. Certas horas a cabeça funciona dessa maneira. A gente simplesmente se esquece.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Anita




Anita, hoje eu fiz o teu recurso. Talvez eu consiga ganhar. Mas é difícil. Eu sei que você está com sérios problemas, mas eu tenho de fazer o meu trabalho, o meu labor. É assim que eu ganho o meu dinheiro. Você vai ter de torcer contra mim. Vai ter de torcer para que eu não tenha êxito. Não adianta insistir, Anita, eu não posso desistir tão facilmente. Eu sou obrigado a recorrer das decisões que não me são favoráveis. É assim que eles decidem lá em cima. Os diretores, o conselho, a assembléia todos estão atentos ao que faço. Eu sou vigiado, todas minhas petições são vistas e revistas e eu não tenho o poder de decidir. Isso está tudo no sistema. Sou refém dos outros. Eu sei que você precisa desse dinheiro e já, porque o tempo corre e a doença está dizimando teu corpo. Mas o que eu posso fazer? Me diga, o que eu posso fazer? Gostaria de te dar um presente, uma surpresa, uma certidão de trânsito em julgado da tua ação para você executar a dívida imediatamente e poder tirar esse dinheiro para resolver o teu problema. Eu gostaria, mas não posso. Eles é que dizem o que devo fazer ou não fazer. Essas corporações são imensas, são maiores do que você imagina. Elas têm poderes enormes. Elas me atrapalham, elas me engolem e eu me tornam sem iniciativa. Desculpa, Anita.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Alterações



Desculpa, Anita, mas teu processo fica para depois. Eu sei que você é maior de 65 e eu tenho que verificar na página do Tribunal os casos de "estipulação em favor de terceiro", mas hoje é um dia especial. Hoje baixou em mim o espírito da renovação. Eu já disse aqui outras vezes que eu sou revolucionário que acredita nos Simpsons. Pois assim sou. "Este é eu". E meus dedos estão ensandecidos para escrever algo. Qualquer bobagenzinha, mesmo que seja uma insignificância. Gosto de brincar de Deus. Adoro os jogos de simulação de mundo, de pessoas, de se construir cidades em cima da natureza. Que se dane a preservação ambiental e viva o progresso. Mas hoje não estou com vontade de nada disso. Hoje pretendo simular a criação de dois personagens. Um pai conversando com a filha. E a filha não é mais um bebê, não é nem criança, ela já é adulta, já conta com vários anos. Por favor, me dão licença que eu vou falar com ela.

Querida filha, desculpe eu não ter de dado hoje a devida atenção. Você sabe que eu sou atrapalhado. E hoje estou mais atrapalhado do que ontem e anteontem, porque hoje é um dia especial. Hoje baixou em mim o espírito da renovação. Eu sei, minha filha, que você não é mais feliz como antes e que a vida que levas não te satisfaz e que tudo é muito difícil e complicado. Eu sei que papai não te dá atenção. Ele é omisso, insensível. Mas coma seu feijão que está gostoso....Obrigado! Papai promete mudar, vai ser mais atencioso, mais participativo, menos agressivo, mais dedicado, mais presente. Vamos sair por ai e nos divertir como já fizemos outros dias. Quem sabe um cinema? Por que não? E tudo mudará para melhor. Eu sei, você ainda é jovem e papai já atingiu uma certa idade onde os cabelos brancos e a baita pança predominam. É sinal de que estou para o lado de lá da vida, para os finalmente e nessas horas, nessa etapa, é meio difícil mudar. Pelo menos, isso é o que dizem. Eu não acredito. Sabe como é, minha filha. Mas papai é persistente e audacioso. Ele ainda tem e leva consigo aquela velha inteligência da nossa família. Quer sobremesa, filha? Pois bem, a ambrosia está deliciosa, ou quem sabe um arroz de leite? Coma que te faz bem. Papai ainda conta com a sensibilidade de perceber que está sendo inconveniente, implicante demais, chato demais. Pois ele vai mudar. Não quero ser repetitivo, ainda que eu continue a repetir e repetir e repetir. E todo o dia eu torno a repetir e repetir. E repito mais uma vez, minha querida filha, um dia eu vou mudar.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Segunda Pesada




Há quem deteste segundas-feiras. Certas segundas eu detesto e outras eu acho mais ou menos. Ontem foi uma segunda pesada. De manhã, como sempre faço, tirei o carro da garagem. Ligo a ignição e o rádio já está ligado. Tenho duas opções, música ou notícia. Optei pela notícia. Enquanto manobro para posicionar o carro em direção à rua, ouço o primeiro comentário sobre o assunto: pode ter sido um raio que atingiu o avião. E ponto final. Os ilustres radialistas passaram a falar sobre outro assunto. Aquilo ficou preso na minha cabeça. sacudia minhas entranhas. Que diabo de raio? Que diabo de avião? Afinal, o que aconteceu? Tentava lembrar se algum parente ou conhecido tinha comentado que iria viajar naquela manhã. E o pessoal da rádio insistia em discutir acerca da indicação da nossa cidade como sede da copa do mundo. Eu fiquei tão irritado com tamanho descaso. Notícia dessa importância não pode ser dada aos pedaços. E o trânsito na rua estava pesado. Tudo tão pesado. Faz frio nesse início de junho. Depois fiquei sabendo da tragédia.

Eu vi


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