Buscando não se sabe bem o quê.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Tempo Suspenso





Eu não sigo ninguém, porque o sinal está fechado. As comportas podem se abrir a qualquer instante. Eu olho no espelho retrovisor e vejo pessoas paradas, intactas. Elas são como pedras, como tijolos de vidro. Enxergo sua incrível transparência. Elas estão nuas. Entro no meu corpo e faço o comando da minha civilização. A luz vermelha continua perene. Eu pisco os olhos para melhor enxergar. Está tudo parado, como se fosse o dia de ontem. O tempo é curto e meu espaço também. Estou trancafiado dentro da minha própria automação. Sou um robô de pernas curtas e coxas grossas. Ninguém percebe meus movimentos enigmáticos. Mergulho no sigilo da minha imagem obscura. À tardinha deparo com o sol que tremeluz. Luz que chacoalha cansada de tanto me observar. Ela fiscaliza a minha profunda inércia. Passo a acelerar enquanto a luz amarela. E disparo inconsequente na direção do mundo da velocidade perigosa.

Jogo Épico


Falaram que hoje era o jogo épico. Mas o que eu vi foi uma goleada. Meu time perde os passos. Afunda na sua incompetência ofensiva e defensiva. Onde está o meio de campo? Estou com sono, mas ainda tenho voz para mostrar minha indignação. O campeonato embolou de vez. Era tudo o que a gente não queria. E agora, vivente?

sábado, 25 de outubro de 2008

Sábado: 14:26


A casa vai estar cheia. Os meninos brincam de play. Ela fica parada no meio da casa copiando a legislação. Seus dedos estão com calos. Ela acabou de lavar a louça. Eu trouxe para cima as toalhas sujas. Um deles me pede biscoito. Eu digo que lá embaixo existe uma gaveta cheia de guloseimas. Ele corre para lá. A chuva não dá trégua. Está todo mundo nos supers, nos shoppings e nas casas - suas e dos outros. Os outros estão aqui. A campainha acaba de tocar. Vou descer.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Eu Sou Meu Títere




O Mestre de cerimônia me avisa a chegada do próximo estagiário. Cá estou numa entrevista solene perguntando qual a hora da chegada e a hora da partida. Não gostou? Cai fora. Não fumo, mas dá vontade de fumar. O ambiente parece tranquilo, mas as agendas do telefone e do outlook pesam. Eles cobram isso, isso e aquilo e eu tenho que fazer, na hora certa e no momento exato, isso, isso e aquilo e mais aquilo outro. Preciso de gente, preciso do cheiro do povo. Quero caminhar na rua no meio da tarde, aprender o significado da gente que passa de um lado para o outro. Queria uma casinha distante, no alto da colina, olhando as vacas e as vinhas de onde eu poderia extrair um bom vinho de qualquer cor. Mas estou aqui tentando achar no teclado novo o ícone das aspas. Quero parecer diferente, mas continuo o mesmo. Sinto arrepio profundo de pensar em qualquer tipo de mudança. Na verdade, eu tenho medo de mudança. Vou me tornar lavrador, agricultor, quero trabalhar em casa. Sem medo de dormir até tarde numa terça feira perdida. Não quero ser mais escravo dos prazos e das obrigações. Quero me aposentar e fazer todos os itens da minha bucket list, mas estou aqui fazendo outras coisas dependente do tempo que os outros querem que eu cumpra. Descobri que não trabalho mais para mim, apesar de gostar do que eu faço. Descobri que os outros manejam minha vida. Descobri que sou um boneco amestrado, um fantoche, uma marionete dos donos do poder. Dizem até que eu sou pago para bloguear e distribuir cizânia em certos blogs. Minha vida de blogueiro parece ser mansa. Não sou deus, não sou cego, mas reflito e reflito muito no individualismo de nossos dias. Diz o filósofo francês que o individualismo é uma bela virtude, mas ninguém quer discutir sobre essas chatices. A poesia perdeu, a filosofia também. Ninguém compra mais isso. É necessário parar o tempo e refletir, mas antes, porém, o mestre de cerimônia bate a porta e eu escondo o texto do post do blog. Ele vai anunciar a entrevista de mais um estagiário. Qual a hora da chegada e a hora da partida?

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Músculo Cansado




Uma dor de cotovelo me deixou longe daqui. Uma dor de impacto, de baixo impacto causado por uma bola de tênis ou pela tecla direita de um mouse esfarrapado. Sei lá. Resolvi não investigar as causas. Passei gelol ontem de noite e hoje de manhã depois do banho. Ninguém recomendou. Eu é que me auto mediquei. Faço como 99,8% dos brasileiros, tenho dor de barriga eu tomo Plasil, Azia, pirose, má digestão? tomo magnésia bisurada ou pepsamar. Dor de cabeça? Tylenol.

Na verdade é uma sensação chata que não doi, dá apenas uma sensação de músculo cansado de tanto trabalhar. Meu cotovelo precisa de férias; Preciso relaxar o músculo, parar de erguer peso, parar de digitar palavras inconsequentes. Necessito redirecionar minha vida de cotovelo cansado para a objetividade do que efetivamente é consequente. Devo buscar apenas objetivos práticos. Mirar somente no alvo positivo. Meu esforço deve gerar apenas ganhos materiais. Não posso mais perder tempo com dores transversais. E que se dane a poesia.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Reengenharia


Ele fala com sotaque esquisito. De origem alemã. Disse que conhece diversos países. Que já morou nos EUA, na Europa e depois viveu 10 anos em São Paulo. Hoje ele mora em Porto Alegre porque resolveu fazer uma reengenharia em sua vida. Resolveu mudar de ar. Ir para outro lugar. Mas deixou, em São Paulo, uma pequena filial. Foi isso o que ele me disse. Vi seu olhar tenso olhando para mim. Talvez estivesse dizendo para si mesmo: eu preciso que alguém me ajude.


Eu falei que o projeto dele era legal e que existe mercado para aquele produto e que os softwares relacionados a esse serviço não são dos melhores. Conheci um ou dois e não gostei do layout e da tecnologia. Existem boas empresas no mercado internacional que podem chegar aqui e investir numa pequena e competente firma. Isso já aconteceu zilhões de vezes. Mas essa crise toda pode deixar o pessoal com um pé atrás. O momento é de pensar e de pensar bem.


Ele elogiou o café e agradeceu. Acompanhei até o elevador. Olhamos para a janela e o tempo estava fechado. Dizem que o fim de semana vai ter muito sol. Alguém comentou. Nos despedimos.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Memorizando (Memorando)


Tive uma idéia genial. Aliás, tive duas boas idéias. É impressionante como nessas horas eu consigo pensar bem e melhor. A hora de pensar bem não é toda hora. A gente não pensa bem todo o tempo. De repente é que dá um clique e a boa idéia chega.


Anotei:


Duas reuniões. Uma com os sócios e a outra com os parceiros.

Reformulação de metas e estratégias, tendo em vista conquistar novos mercados.

Debate sobre gestão, fundos e remuneração.


Bingo!

Cego de Sujeira


Hoje eu tomei um banho. Um banhão. Chuva tórrida ardente de palavras que eu mesmo disse.....
para mim. Eu me ouvi. Eu me escutei. Olhei direto na fonte da ducha e pensei no diálogo que eu fiz. Depois do banho cai em imersão no líquido terapêutico e lúdico. Eu me vi. Acreditei. Compreendi. Após, enxaguei o corpo, limpei o rosto, a testa. Assoei o nariz, os ouvidos. Coloquei a roupa limpa, as meias novas e fui ganhar a vida no batente.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Certas Fraquezas


Senhorinha, também quero lhe revelar um segredo. Espero que não fiques braba comigo. Eu também gosto de comer chocolate escondido. Tenho absoluta consciência de que estou fazendo algo errado, mas eu não .... resisto.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Pintor de Esperanças Brancas




Poemeu Ocasional
Não quero ser o cego que desperta, meu Deus!
Não quero ser o deus que desperta, meu cego!
Não quero ser o monte que enterra suas vítimas
Não quero ser o monge que vive na sombra
Não quero ser eterno como o sonho dos justos
Não quero ser o nobre que sorri disfarçado

Procuro pétalas de cobre enlatado
Procuro bolas de pérolas da hipocrisia
Procuro o verde do funcho perfumado
Procuro rezas que me esnobe no íntimo
Procuro vítimas das mesmas circunstâncias

Não é difícil de achar
Basta colher por ai
Onde a imensidão flutua
Onde a calma é apenas símbolo
Onde o gesto é percebido
Onde tudo parece como sempre esteve

Minha singularidade imperfeita
Adentra no silêncio da madrugada
Piso com botas pesadas
As calçadas da minha cidade
Meu olhar confuso
espanta os clientes das igrejas marcadas

Sou materialista de ocasião (e necessidade)
Idealista de idéias frias
Sou supérfluo por consequência
Moro no mato de cimento
Não suporto meus vizinhos
Minha história não é a deles

Para o Grand Finale convido a esperança
Ela vem cheia de graça e sorriso fútil
De alma lavada ela bebe minha vida
E eu me transformo em deus
Cego de emoção e significado
dEUS cEGO de ídéias frias
caçador de nuvens perdidas
pintor de esperanças brancas.
Imagens de Park Harrison, daqui.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Adotando um Ser







Não quero saber de gatinhos no meu blog. Nem ovelhinhas, nem macaquinhos ou tigrinhos. Borosos ou não. Não quero saber de brinquedinho no meu blog. Nem de piadinhas ou gadgets maneiros. Quero deixar o meu blog limpo. Absolutamente Clean. Como se fosse um espaço lounge de um Hotel em alguma avenida de Nova York onde o branco prepondera. Não quero cores e nomes. Não quero fuzuê. Alarde? Nem pensar. Se você entrou aqui e agora para fazer número eu lhe digo, com toda a clareza, dê o fora. Meu contador pifou. Ele não conta mais nada. Ele retroage ao tempo passado. Ele é apenas um número que eu desprezo. Quero deletar tudo que não interessa. Vai sobrar apenas conteúdo...

Midlife Crisis


Os anônimos da vida chegam e dizem coisas para mim. Eu não estou nem ai para os anônimos da vida. Educadamente eu leio a mensagem e coloco no lugar de honra dos comentários. Eles aparecem ali fazendo suas considerações, pertinentes ou não. Educadas ou não. Estúpidas ou não. Inteligentes ou não. Eu não sei quem são essas pessoas. Só sei que elas opinam. E isso me deixa maluco. Quem atravessa a crise da meia idade sabe bem disso. Qualquer coisa deixa você maluco. This world goes wrong dizem os velhos hipócritas. Pois assumo o que sou, um ambivalente juvenil. Luto contra o tempo. Não quero ser um avô de bengala aos 50.

Eu vi


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