Buscando não se sabe bem o quê.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Subversão


Dispomos de alguns minutos. Nada além disso. Até lá teremos de nos  desarmar. Temos pressa no meio dessa desarrumação. As habilidades necessárias foram esquecidas, as senhas foram corrompidas, nossa memória se apagou,  insistimos em esquecer tudo aquilo que pode nos ajudar. E não podemos - porque não sabemos mais - consultar outras fontes. Temos de  aguardar o inevitável desfecho. Sem dores, mágoas ou rancores, porque certas metas não foram atingidas.  Não sentiremos maiores aflições, porque o corpo é apenas matéria e o espírito está comprometido com os valores universais da infâmia,  nos alimentamos dos fetiches da bolsa de consumo. Buscamos alguma forma de razão, mas não conseguimos encontrar nada além do mais banal sentimento.  E assim eu te dou a minha mão e você pode pegar o que quiser, porque nessas horas a vida deve correr. 

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

La Différence


Pensa, pensa,  na ausência, na presença, no espírito vivo do corpo que abraça o teu, até adormecer e acordar com aquela estranha faixa de luz que nasceu para se fixar na direção dos teus olhos. Já é manhã de algum dia que pode até ser chuvoso.

As pálpebras que protegem os olhos mexem e remexem, não é mais sonho, sono, tampouco um rápido movimento,  a excessiva claridade incomoda e faz acordar, os olhos quase que fechados começam a espreitar  o quarto desarrumado, algumas  almofadas e roupas intimas estão no chão. O sapato descansa sozinho perto da porta ao lado de uma cueca vazia e isso pode ser extremante irritante.

Foi para algum lugar, algum recanto de mundo, pode ser um parque cheio de árvores roxas, onde é sempre agradável o  passeio de bicicleta. Pode ser uma sala vazia, mas com  gente olhando  como se fossem acusar. Pode ser, pode ser, pode ser.

Nunca se sabe a realidade dos outros. O que eles estão fazendo agora quando se espreguiça com tamanha lentidão. O que se sabe é o que imaginamos e muitas vezes, por isso, nos enganamos, porque somos diferentes. Os pés ainda estão dormindo, dormentes eles são espichados e mexidos, a cama está quente e lá fora está um forno. Todos já saíram e o dia apenas  começa.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Existência


Os Réus ouvem atentamente os nobres discursos  da boa oratória. E quando eles se autoelogiam a platéia aplaude, porque isso é importante para o ego geral. São as normas de conduta, do bom comportamento, dos homens e cidadãos de bem. E sentado no meio de tudo, o ser crítico, anota no coração de sua cabeça os detalhes que afloram no meio de toda aquela homenagem. É tudo muito bonito, as emoções são extremamente fortes, sobretudo tendo em vista a complexidade (e a gravidade) daquele momento. Gotas de choro caem sobre o tapete vermelho pisado por sapatos de luxo comprados a preço de banana no mercado universal. E todos estão preocupados com a situação crítica das contas do estado leviatã que adora comer as vísceras dos réus. E aplaudimos contentes -- porque esse é o nosso dever -- as imagens que nos são passadas e repassadas por seus agentes. A res publica não pode ser objeto dos interesses dos grupos privados. Nosso país precisa de transparência. Temos de lutar contra a corrupção, esse é o nosso dever, nobre deputado, ilustre juiz, autoridades aqui presentes. Vossa Excelência esconde dentro do bolso o sorriso amargo da contradição. Enquanto isso, sentado na oitava fila,  o ser crítico fica pensando na vida, na sua existência, no que fez até aqui, no que fará no futuro que está tão próximo. Ele simplesmente não sabe, porque a crise que assola todo mundo, não deixa nenhum espaço para soluções imediatas. Ele deixa a vida passar e por isso aplaude -- como todos os outros réus -- os discursos contundentes e emotivos das autoridades.

Eu vi


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