Buscando não se sabe bem o quê.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

O Incrível Que Insiste no Certo


Ele bate no peito e respira. Sabe que está atrasado. Ele perde o tempo necessário fazendo coisas que não precisava fazer. Ele sabe disso. E por isso respira e respira fundo, porque ele entende. Ele tem noção. Ele não é um tonto. Sua consciência está toda hora advertindo. Mas ele é insistente. Sabe que um dia essas coisas podem dar certo. Ele é um sujeito de esperança. Ele tem fé de que a insistência pode gerar a necessária riqueza. Ele insiste porque ele acredita naquele futuro. Mas ele pode estar enganado. Ele pode estar totalmente enganado. E certos equívocos não tem volta. Aquele tempo perdido não volta mais. Ele não parece ser um sujeito de cautela. Ele não tem o perfil da necessária prudência. Sua famosa insistência pode ser uma imensa imprudência. Sua consiência sabe disso, mas ele insiste. Por que ele acredita tanto nessas coisas? O que elas têm de mais? Ele sempre disse: o certo é saber que o certo é o certo. Ele sabe o que está certo, porque ele acredita e insiste em acreditar que ele nunca erra. Mas se ele desse ouvido a sua consciência! Ela está toda a hora advertindo e aconselhando: seja mais prudente, seja mais sensato, seja mais racional, seja mais razoável. seja mais crível. Mas ele é incrível. E gosta de ser incrível. Sempre apostou nos extremos e por isso respira e bate no peito.

Ora, Pilulas






Pílulas
para dormir
para correr
para comer
para relaxar
para embelezar
para parar de sentir dor

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Maldito




Eu sou maldito. Eu quero ser maldito. Eu quero me enganar. Eu quero largar de vez a minha linha nobre. Quero deixar de ser fidalgo. Quero me tatuar. Quero comprar um baixo. Quero bater no bambô. Eu sou maldito. Sempre fui maldito. Desde o tempo do colégio. Quieto. No canto. Maldita. Maldita timidez que sempre me limitou. De ser maldito.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Em Sentido


A carola me olha com olhos cegos. Bem feito para ela. Deslumbrada vê meus passos de ganço. Eu retorno para a posição anterior. Junto os pés, junto as mãos, faço posição de sentido. Ela me olha e ri. Parece sincera. Eu fico magro, chupo a barriga e olho para cima. Ela parece vesga e sua trança decola com o vento. Eu rígido e estático ouço minha vontade. Ela me esnoba. Catatônico fico em silêncio. O tempo tem seus ouvidos. E o pensamento faz o necessário barulho. Ela me quer ardentemente, penso. Ficou mais firme e não consigo cansar. Eu tenho o meu controle. Ela passa na minha frente e não me olha. Olha para o outro lado em direção à igreja.

Perguntas




Meu orgulho induvidoso me faz sair do sério. Capaz?
Sou forte como o peso da alma. Gostaria de dançar comigo?
Fortaleço minha imagem com as de meus ancestrais. Pode ser outra hora?
Cresci numa fortaleza sublime. Quem sabe outro dia?
Sou polido e moderado. Talvez outro lugar?
Sou forte como a selva ardente. Outro recanto qualquer?
Gentil como uma boa pessoa. Qual é teu nome?
Não tenho nó na lingua. Tua idade e telefone?

Burrice


A burrice extrema endoidece.
Eu não quero ser burro.
Eu detesto burrice.
Mas tem horas que emburreço.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

O Pintor de Mitos




dEUS cEGO olhou para a terra. Ela é tão bonita. Os rios correm pelas corredeiras. As árvores fazem sombras e os homens trabalham fazendo seus arados, colhendo seus frutos. Os animais não têm história, não fazem suas histórias. É isso o que diferencia os homens dos animais. E os homens criaram o inferno, onde vive o diabo, no calor da noite. Ele aquece o medo. Os homens também criaram um deus para lhe fazer profecias de agradecimento pela vida feliz, saudável e segura. E deus criou o deus cego para contar toda essa história.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

O Presente da Boa Vontade




Homens ganham vinhos. Mulheres bombons. Comprei vinhos e bombons. Um gran reserva malbec de 2004 argentino e chocolates alemães. Paguei em duas vezes no cartão de crédito. Depois voltei para cá para fazer meus deveres. Nunca gostei de fazer marketing, mas é preciso ser marqueteiro pelo menos uma vez na vida - ou no ano. Não se sabe o dia de amanhã e nem mesmo o de hoje. Pode estar havendo agora uma reunião super importante que pode decidir o destino de sua vida, do seu trabalho e você enclausurado na loja comprando os finos vinhos para os seus algozes. Quem é, afinal, amigo e inimigo? Quem é o culpado e o inocente? Parece não interessar se você é competente nas tarefas que faz, o que importa é seu desempenho nos custos finais. São os números que balançam nas planilhas que decidem o futuro. Se você é caro, o que importa é reduzir os custos. Se você é barato, problema seu. Do que adianta, então, comprar vinhos caros e bombons exuberantes no final de ano, se você é apenas um número numa planilha Excel? Ora bolas, para que as pessoas tenham boa vontade com você e o seu trabalho. E no balanço de final de ano, as empresas vão decidir os cortes para o ano que vem: o fulano de tal nos presenteou no natal com um malbec argentino e gran reserva. Isso pesa. Ou, pelo menos, deve pesar.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Fim de Noite




Quando a luz da gambiarra se apaga os neurônios se tornam firmes. Arrotando os sais da noite anterior o coração desfalece. O cansaço é manso. O mundo parece estar em ordem apesar das crises cíclicas. Ele fecha o notebook, mas não consegue disfarçar sua culpa arrependida. A casa escura faz as almas aposentadas refletirem no inconsciente da cama. Hoje todos têm a mesma certeza: aquele casal se ama e se ama muito. Na verdade, eles se toleram, porque nunca foram a fundo nas tormentosas discussões. Vida passional não combina com a boa educação. É preciso sempre manter a compostura. E a postura. Cansado do dia vivido ele senta no canto da cama e contempla a companheira que sonha canções antigas. Ele limpa o quadro postado no canto da cabeceira com o dedão, porque o retrato estava sujo. As traças estavam comendo as memórias. Um dia os insetos vão tomar conta da vida. Sua narrativa já não era mais a mesma. Ele passava por dificuldades. Mas nunca é bom pensar no assunto. Do que adianta tanta prudência e tanta cautela se no fim das contas a famosa felicidade se apoia na eterna rotina? Ele ficou triste naquele momento de poucos segundos. Ergueu sua perna cansada para dentro do cobertor quente e deitou sua cabeça no travesseiro leve. Sentiu, naquele momento como nunca antes, o odor profundo de sua própria velhice. O desafio era superar seus falsos limites. Mas tudo se arruma. Tudo se arranja. As coisas se arreglam, como dizia a velha tia que morreu no início da década de 70. Lembrou dos problemas já resolvidos e sorriu silencioso. Estava, enfim, relaxado e naquele dia manteve o eterno cuidado de não tocar nela, porque ela dorme bem e a vida é muito cansativa.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Uma Noite Mal Dormida


Eu tenho peso.
Eu peso.
Eu peco.
Eu vivo de pesadelo.
Eu peço que me acordem.
Ninguém ouve.
Eu pago o pato.

Desculpas Ligeiras


O orgulho involuntário de meus membros inferiores não permite escrever essas linhas. Meu cérebro se esforça, mas meus órgãos subalternos não deixam. Eles são estúpidos, rancorosos e radicais. Eles fazem greve passional. Eles controlam meus movimentos e não admitem, vejam só, escrever este post. Mas meu cérebro é mui esperto e descobriu, num curso gratis on line, uma fórmula mágica chamada hipnotismo. Consegui hipnotizar minhas mãos e dedos e, por isso, nesse estado catártico, elas obedecem piamente as mais internas das membranas que envolvem o meu encéfalo. Não tenho muito tempo, porque a qualquer minuto ou segundo elas podem voltar a si. E quando elas retornarem ao estado normal não tenha dúvida. Elas, manualmente, irão desfazer, apagar e deletar tudo o que está aqui. É preciso estar atento. É preciso ser rápido. E, portanto, vou ser breve nos comentários, porque não existe outro jeito. Começo aqui meu pedido voluntário de desculpas profundas: confesso, fui impiedoso, insensível, ordinário e intempestivo. Eu peço perdão pelos atos insanos, pelas palavras fortes e rancorosas que proferi. Eu estava dominado pelo orgulho vil, pela ladainha de uma mente que foi controlada pelos órgãos sem limites. Tem horas que eu sou tão cruel. Eu preciso ser mais gentil. Tentarei.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

O Bando


Fagulhas caem. Chispam o corpo de azedume. Tudo é fedido. As crianças brincam ao redor. Elas marcham, fazem brincadeiras. As moças adornam as formas. Elas estão magras. Os cachorros dormem o sono lento da vida. Uma pulga dispara seu veneno. Mulheres sentem suas pernas rosas. Nada que uma língua não possa lamber. Elas lavam os utencilios e contam causos. Os homens voltam do mato com corações intrépidos. Eles se sentem fortes e corajosos e trazem a comida da boa caça. A roda viva se agiganta e a rês tomba no meio da fogueira onde tudo se compartilha, inclusive o cheiro desagradável do miolo dos ossos.

Os Coelhos da Cartola




Existe alguma pessoa normal ? O médico, o cidadão de bem que defende com ardor sua classe. Ele é tão respeitado, mas caiu morto na rua com tiros no corpo. Vasculharam sua vida e o que lhe restou? A fama de jogador que ninguém sabia. Certas pessoas guardam seus coelhos nas cartolas. E um belo dia eles aparecem saltitantes por ai.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Calendário




Ganhei hoje o calendário do ano que vem. Ele se parece igualzinho com o calendário deste ano. É idêntico ao calendário do ano passado e do ano retrasado. Todos os calendários são iguais, porque estamos viciados nas mesmas repetições.

Minha Fábrica de Consenso


Meu coração incomodado chegou tarde na palestra. Olhei para as horas e percebi o atraso. Resolvi ficar quieto no canto da mesa principal. Enquanto isso eles estavam falando sobre um assunto polêmico e pitoresco. O sociólogo orador, citando Hegel, manifestou seu ponto de vista: "quanto mais o homem domina seu trabalho mais impotente ele mesmo se torna. Quanto mais mecanizado se torna o trabalho, menor valor ele tem e mais arduamente deve o indivíduo trabalhar. O valor do trabalho decresce na mesma proporção em que cresce a produtividade do trabalho. As faculdades do indivíduo são restringidas de modo ilimitado, e a consciência do operário é degradada ao mais baixo nível de embotamento."


Quando essa explanação terminou e os aplausos se ouviram - eu pedi a palavra. Notei que haviam protestos significativos contra a minha presença. Murmurinhos começaram a se ouvir de um lado e do outro do auditório. Os burburinhos gradualmente começaram a aumentar. Uns mais perturbados pediram para eu calar a boca, mas eu nem havia iniciado a falar. Outros insensatos exclamaram que eu sou um vendido, um venal, que eu defendo os interesses dos poderosos, dos donos dos mecanismos e das estruturas, que eu sou uma espécie de 'lambe botas' do mundo da exploração.


Quanta contradição nessa sala do espanto. Eu que sempre admirei Hegel e creio, com toda a minha fé, na força da dialética. Eu -- que já perambulei pelas calçadas de Tübingen, universidade do velho professor alemão, que já presenciei o mundo real de forma concreta e, no imaginário, sempre adequei meus pensamentos e expressões no mundo mais justo para todos -- estava sendo massacrado pelo coração algemado das idéias rançosas.


E a promiscuidade das mentalidades confusas se fazia presente ali naquele auditório de algumas pessoas. Não lembro, ao certo, quantas eram, mas eram poucas. E tenho notado que é essa a realidade do mundo que estamos embutidos. A voz de poucas pessoas se multiplica ao ponto de se confundir com a voz sensata e perene do povo. Quanta injustiça para com a triste plebe que não participa de nada e não tem condições de frequentar reuniões como aquela.


Mas eu estava ali atônito, tonto com tamanha zombaria. Eu que sempre tive o santo cuidado de lavar com água bem límpida os mofos , os bolores e os ranços do meu cérebro. E estava ali, numa situação para lá de inusitada, em contato direto com os donos de uma razão sem prudência. Minha tolerância foi ao limite. E desabei a expressar meu ponto de vista.


Minha voz se ergueu no meio de todas as vaias e falei sobre a contradição, sobre a força das oposições que se resolvem em unidade. Disse com voz forte que acreditava na construção do consenso, que a natureza humana caminha na direção da convergência, apesar dos olhares reprovadores da divergência. Minha garganta vibrava de forma sublime em defesa de uma síntese construtiva. Aquilo doia, porque eu gritava. E bradava com toda a força do mundo contra os ideais da dialética sem síntese. Quanto paradoxo. Quanta insensatez. Eu gritava, além da conta, para além das paredes do auditório. Para que o mundo inteiro me ouvisse.


A hora passou e antes de devolver a palavra à presidência eu agradeci de coração à oportunidade. Disse que estava feliz de esboçar ali, naquele momento, para um auditório encolerizado, os ideais da construção de uma harmonia. Quando terminei ouvi um aplauso significativo no fundo da sala: era o inspetor que havia guardado no bolso seu bloco de notas e se levantou, com entusiasmo, para me aplaudir. Eu não mereço tão grande homenagem.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Escravidão


Exclamação
Interrogação
Afirmação
Auto-Afirmação
Suposição
Perfeição
Somos todos escravos de deus


Rezas
Melopéias
Ladainhas
Conversas
Propostas
Cantilenas
Súplicas
Estamos todos no mesmo barco

Manifestações
Rebeldias
Revoltas
Revoluções
Contra-Revoluções
Fazemos parte da mesma manobra

Massa
Povo
Plebe
Gente
Elite
Raça
Etnia
Alimentamos nossos ressentimentos

Ideologia
Religião
Comportamento
Educação
Altruismo
Egoismo
Fazemos parte dos mesmos grupos

Alienação
Fetichismo
Cegueira
Mídia
Mercadoria
Produto
Onde estão nossos corações e nossas mentes ?

Igualdade
Poder
Política
Despotismo
Autoritarismo
Regimes
Ditadura
Somos todos escravos dos homens

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Louco da Vida Comigo Mesmo


Liguei para ele e não recebi resposta. Liguei de novo e nada. Liguei uma terceira vez e o telefone estava desligado, fora de área. Insisti, liguei novamente, a mensagem apontava: esse telefone é inexistente. Com raiva da vida sai porta fora na direção do vivente. Quando lá cheguei ele estava prestando calmamente seu serviço. Olhou para mim e sorriu. Mas tchê, quanto tempo? Dá um tempinho que já te atendo. Não gosto de chá de banco, mas escolhi o caminho da melhor sensibilidade possível. Estava irritado, mas sempre existe a chance do equívoco. Depois de alguns minutos ele me falou. Eu não atendi a tua chamada porque eu ainda não tenho resposta sobre aquele assunto. Sem querer ser grosseiro, tua gravata está suja aqui. E apontou para a imensa mancha de café que havia ali. Desconcertado arrefeci. Baixei a crina e disse sim. Tudo bem. Tá bom. A gente se encontra outra hora. Sai do local louco da vida comigo mesmo.

Smoke On The Water




Era aniversário do filho de uma amiga da minha mãe. Eu fui contrariado. Não conhecia ninguém ali. A casa era feia. As pessoas eram estranhas. As crianças eram poucas. No meio da sala estava o filho da amiga da minha mãe. Ele estava ouvindo música na vitrola e me passou o imenso e pesado fone de ouvido. Era um som que se repetia, mas era mágico e envolvente. Com a voz para dentro da minha timidez eu perguntei: que som é esse? Ele me disse que aquilo era uma guitarra e me mostrou a capa do disco: Deep Purple, Machine Head. Eu perguntei, que música é essa? Smoke on the water.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Simeão e Efraim


Simeão perguntou para Efraim: irmão, qual o teu caminho?

Efraim mal tinha acordado e estava irritado com as brincadeiras do irmão: deixa para lá, Bros, deixa para lá.

Os dois saíram juntos e pegaram a primeira lotação em direção ao centro. Chovia forte.
Simeão estava preocupado com seu irmão, ele andava muito fora de curso ultimamente. Efraim não estava nem ai, queria mesmo é sair daquele aperto.

Segunda-feira de manhã na frente do mercado e os dois irmão se despedem. Simeão foi para as bandas do outro lado e Efraim resolveu fazer o que deveria ser feito. A vida é um ultimato e a tarefa deve ser realizada imediatamente. É sempre assim.

Enquanto o irmão carregava o peixe que não havia sido vendido na semana passada, o outro empunhava uma arma em direção ao gerente da financeira. Um deles despejou a carga na lixeira coletiva e o outro apontou o revólver na cara do senhor de meia idade.

No final do dia, os dois se encontram no armazém que fica ao lado da casa. Eles comemoraram o dia e tomaram todas. Um deles pagou a conta.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

A Máquina Exige Pressa




A mensagem curta diz para acelerar este Blog. Eu não preciso de indutor de velocidade e, muito menos de freio. Eu sei que tempo é dinheiro, mas não estou pretendendo, neste momento, apressar este Blog. Deixe ele como está, com seus gadgets, suas iluminações, escrituras e imagens. Eu sei que o santo progresso nos exige utilizar o tempo da melhor forma possível. Eu sei de tudo isso. E tento fazer sempre uma reengenharia na minha vida. Pois, confesso que este Blog dá um trabalhão danado. Não é fácil ficar alimentando e dando comidinha na boca deste Blog. Têm dias que os assuntos desaparecem e a vida vira oca. As vezes passo horas tentando encontrar algumas coisinhas para colocar aqui. Vocês acham que as idéias saem de onde? Ora, daqui da minha cachola. E ainda querem que eu acelere? Eu, hein! É muita pretensão.



Tá bom, tá bom, para não criar confusão vou postar uma fotinho bem legal. O mundo do futuro da civilização. Todo interligado com estradas, pontes e tecnologia. Mas onde está a vaquinha simpática do brejo e o beija-flor que suga com força as flores de cima da serra?

Fragmentos Fragmentados




Hoje o técnico me disse que sofreremos nova estiagem esse verão. Eu disse: mas não é possível!!!! E hoje caiu uma chuva torrencial por exatos 30 minutos. Eu tirei o relógio de bolso do casaco interno e cronometrei. Estava a jogar num imenso salão com teto de zinco. O barulho era insurdecedor. O deus, além de cego, ficou surdo.

Ratifico, então, a seguinte frase que proferi anteriormente: minha índole perfeita pode ser devastadora.

Mas, como eu ia dizendo, tudo pode acontecer como por encanto. Uma simples magia pode virar mito. Mas ninguém sabe o segredo. Eis o grande mistério que move nossas vidas. Alguns procuram identificar a lógica das coisas. São os detetives das almas. Eles são como os cientistas, querem descobrir os caminhos da verdade. Eu apenas observo.

Está terminando o tempo do dia de hoje. Pronto, estou pronto para carregar as minhas pastas e tomar o rumo de casa. Lá eu sou feliz. Lá eu faço as minhas coisas. Lá é meu abrigo das chuvas e das estiagens. Lá eu reflito. Lá eu me embriago e amo com muita vontade a poesia que resta na vida.

A imagem postada aqui foi localizada. Custei a localizar. Uma mesa que navega como lancha. O que isso significa? Zilhões de coisas. Ou coisa nenhuma. Você e eu escolhemos.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

A Volta do Inspetor




Faz tempo que o inspetor não aparece, mas ele sempre está por perto. Ele comprou um novo binóculo com tecnologia 3G e visor HD. Nossa, r-e-a-l-m-e-n-t-e é uma coisa de louco. O inspetor está tri contente e deixou de lado aquela cara de tristonho e carrancudo. Dizem até que ele está namorando e está sendo chamado de venal por um neurótico da vida. Mas dizem tantas coisas por ai! O inspetor feliz da vida continua anotando tudo na cadernetinha que leva consigo e guarda bem guardadinho no bolso de sua capa bége, estilo detetive Columbo, todos os movimentos de todos os seres humanos. Quem diria, aquele ser que ninguém dá a mínima pelota, é onipresente, onisciente e também onissapiente. Esse inspetor é mesmo muito poderoso. Não dá para comprar briga com ele. Ultimamente ele tem seguido os passos de certas pessoas que se acham o hit dos hits. E está tudo anotadinho ali na cadernetinha. Portanto, tenham cuidado com seus atos, porque o inspetor continua monitorando a vida de todos e com binóculo turbinado. Além disso, ele anda feliz da vida....

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Anamnese




Somos coadjuvantes da mesma atmosfera. Somos personagens hipócritas que aparecem coloridos e digitalizados na tela plana. O cristal é líquido e a imagem parece perfeita. São seres vivos que respiram. Viu só? Eles dizem tudo. As rugas aparecem. Os cravos também. Incrível, eles entendem a nossa língua. Em caso de dúvida aperte o botão. Em caso de enjôo tome o comprimido. Em caso de fugir das regras faça o contorno e volte. Observe as recomendações do GPS. A voz macia e rouca diz para dobrar à direita depois do segundo poste. É ali que o cachorro ergue a perna direita para mijar. Seu dono recolhe as fezes com saco plástico na mão. O carro percorre perfumado a rua clara de natureza escura. O passeio é mais longo do que se imagina. A viagem talvez esteja próxima do final. Ou estamos falando do início? Ninguém sabe, ninguém viu. Fica todo mundo confuso nos horários de verão. A canção toca mais cedo no rádio. O chefe vai para casa logo. E eu vou beber alguma coisa no empório que abriu. Sei de tudo e mais um pouco, diz o meu amigo. Eu concordo com ele. O controle é nosso. Basta apertar a tecla correta. Domina quem sabe a linguagem. Basta seguir as regras. Tudo requer cuidado e civilização. De chapéu na mão o velho mendigo recolhe latas vazias. Ele pisa forte e elas ficam pequenas. Menos espaço na sacola. Tudo se adequa ao seu lugar, inclusive eu.

Ela Me Trocou Por Um Venal - II




Ela me trocou por um venal e hoje estou aqui límpido e gracioso. Bem feito para ela. Bem feito para mim. Não sei onde ela anda hoje. Mas hoje estou aqui. Dela não tive mais notícia. Talvez tenha se casado com algum estrangeiro, ou forasteiro. Talvez continue circulando pelas mesmas calçadas. Talvez. Não estou escrevendo isso para falar dela. Não me importo com ela. Ela se foi. É passado. Hoje estou aqui, reluzente e charmoso, olhando a vida pela janela. Ela me trocou por um venal e isso fez muito mal para ela. Como sei disso? Simplesmente não sei. Eu sei que para mim foi bom. Eu consegui olhar para mim mesmo de outra forma. Consegui mergulhar na profundidade dos meus encantos. Aprendi a me amar de uma forma diferente. Ela me trocou por um venal e hoje eu me tornei venal. Eu me vendo pela santa grana que paga minhas contas. Ela propicia meu alto astral, minha dignidade e conformidade. Eu sei disso, mas não penso nisso. Eu sei que ela me trocou por um venal e eu agradeço. E agradeço muito. Muito mais do que se imagina. Que bom, ela me trocou por um venal. E eu aqui limpo e perfumado.

Redondos e Quadrados




Pedimos dois copos d'água, dois cafés e a conversa iniciou. Eu notei que o cara estava tenso. Suas mão suavam. Ele estava nervoso. Por que será? Ele narrou sua história complicada. Tinha perdido muito dinheiro num investimento que não deu certo e ele queria um auxílio. Li os documentos mais importantes e solicitei esclarecimentos sobre os fatos. A ação judicial foi proposta e ele não obteve êxito. A decisão transitou em julgado. Fez coisa julgada. Talvez tenha havido falha do mandatário, mas ingressar com processo contra o advogado é sempre meio complicado, porque o erro tem que ser crasso e determinante para o insucesso da demanda. Não era o caso. Quando a Justiça - com J maiúscula -- decide que o redondo é um quadrado. Não tem mais jeito, o redondo se torna quadrado mesmo que ele continue redondo. Seria o caso de uma rescisão da sentença, mas os requisitos necessários não estariam presentes no caso. A não ser que ele investigasse os fatos para verificar a existência de possível fraude. Ele ficou de fazer isso. Concordamos em agendar novo encontro. Nos despedimos e o homem com seus documentos saiu porta a fora a procura de alguma esperança.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

O Jogo da Vida


Ele me liga: pai eu quero o jogo do Spore.
Spore, o quê, meu filho?
O jogo do Spore.
O que é o jogo do Spore?
É o jogo da vida, pai!

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Ela me trocou por um venal




Meu amor desceu ladeira abaixo e me trocou por um venal. Eu não posso mais ficar aqui deitado, mofando os versos de uma paixão descontrolada. Eu prefiro ganhar espaço no tempo da minha desorganização. Preciso encontrar o meu entendimento.

Uma simples pausa para acalmar, um gole de água, dois goles de água e o tempo necessario e suficiente para pensar em ir além. O que fazer, então? Disco os números do celular. Alô, sou eu, tudo bem? Ontem você saiu tão perturbada daqui, levou a sacola, te liguei a manhã inteira e você não respondeu. Hoje é sexta-feira, a noite tá chegando.... O que está havendo? precisamos conversar. Tá bom, me liga um dia desses. A gente conversa. Tchau.

Deu, acabou, terminou. Era a bomba que faltava. Ela me largou por um venal, um cara simbiótico e pegajoso que mais parece um parasita que nunca leu nada de interessante. Um ser que frequenta shopping e faz cursos de malhação. Não acredito! como é que ela foi me trocar por um cara venal como esse?

O amor que tu me tinhas virou cacareco. Eu pertenço ao teu passado, mas tu estás tão presente..... Durmo? Não durmo? Saio? Não saio? Não consigo ler. Não consigo reler. Não tenho saco para ficar na frente da tv. Escovo os dentes, penteio os cabelos, tomo banho e escovo os dentes, penteio os cabelos. Fico nu no espelho, visto cueca, calça, camisa e tênis. Largo o espelho. Sigo o curso da rua. Ladeira abaixo. Eu me encontro. Lá eu encontro ela. De sacola na mão pronta para ir para a casa..... do venal.

Posse maldita e intragável que sempre questionei nas minhas teses carnavalescas. Maligna propriedade. Ontem ela era minha, estava aqui abraçada e sussurrando comigo os amores de Baudelaire. A gente se abraçava com tanta força, com tanto tesão, com tanta disposição e adormeciamos sagrados. E agora ela escapou ladeira abaixo e me trocou por um venal.

Que ódio eu sinto de mim. Por que fui tão bonzinho? Por que fui tão malvado? Por que sou tão desajeitado? Sim, minha timidez espalhafatosa foi a causa da circunstância. Foi sim, eu sei que foi, não mostrei para ela a necessária segurança. Talvez eu seja verde demais, tonto demais, zonzo demais, insosso demais. Talvez eu seja provinciano demais. Talvez eu tenha mau hálito, chulé, cacoete, asa, papo esquizofrênico, talvez minha casa cheire a bolor. Talvez eu seja um mofo, um ranço e por isso ela me trocou por um venal.

Lá vou eu - cheiroso e perfumado - descer ladeira a baixo a procura de algum sentido. Lá vou eu me esconder nos labirintos de uma cidade que eu pouco conheço, que não me pertence. Lá vou eu tentar encontrá-la nos porões da madrugada. Lá vou eu frequentar de novo as casas vazias, os amigos inconseqüentes, os amores que perdi. Lá vou eu de volta.

Monorrítmico



Escultura hiper real de Ron Mueck



Está exposto no meio da galeria o corpo do homem que voa. Ele foi cooptado pelas modernas tecnologias e capturado pelos selvagens de hoje em dia. Ele se multiplicou, mas sua forma permanece intacta. Na verdade, ele é o mesmo. O múltiplo mesmo.

Ela chega e vocifera com voz apertada: ele é feio, barrigudo, muito velho, ele cheira mal, ele fede como cachorro do mato. Eu juro que não entendo nada. Fico na minha. Contemplo sempre distante a imagem souvenir que vai ser cuidadosamente embrulhada para a noite de natal.

Ela insiste, ele adquiriu a forma delas, ele é um estrago, um sonso, veja suas asas soníferas! Eu não resisto, e largo o chavão habitual: ele é vítima das circunstâncias. Ela não me conhece, mas me olha como se tivesse visto uma assombração.


Mas ela não pisca e nem replica. Ela fica ali parada demonstrando sua pequena amargura. Ela parecer ser do tipo que fica na dela. Eu faço o estilo de ficar na minha. E o silêncio da música de elevador toma conta da superfície plana do planeta.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Irina





Irina é uma mulher sem graça. Ela é baixinha, gordinha, sem charme. Ela é avó. Uma querida avó. Irina satisfaz os homens como poucas mulheres. Eles fazem fila para sentir sua mão suave. Ela sabe fazer o movimento certo. Depois ela limpa tudo com toalha de papel. O trabalho está feito. O desconhecido está do outro lado da parede. Teve ter saído para a rua. Irina aperta o botão vermelho para recomeçar a sua nobre tarefa. A fila é longa e a grana curta.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Memória Salva




No teu seio de água doce eu manifesto a sede do amor sincero. Eu li teu texto de uma infelicidade bonita e senti nos olhos aquilo que eu sempre evitava. Uma pequena gota dágua escorreu e umedeceu as lentes do velho óculos. Tive que retirá-lo para limpar e novamente enxergar os meus afazeres. Estou com preguiça hoje em dia. Não perdi a graça da vida, porque ela é nobre, mas o passado passa te observando e ele um dia chega ao teu encontro. Por mais que a gente delete certas passagens, elas voltam num belo texto de um blog ou por vias perpendiculares, como se fossem automóveis carregados de imagem antigas que cruzam avenidas solenes. No retrovisor da vida vivenciamos a imagem que esquecemos. Ela está lá, sólida e tempestiva. Automaticamente acelero para esquecer. Mas hoje resolvi pisar no freio e contemplar o passado que ficou perdido na confusão da minha memória. Salvei a imagem como foto no meu computador. Ela está ali, límpida e arquivada, e se incorporou definitivamente na minha narrativa.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Match Point




Eu dei uma surra no filho e o pai me convocou para um duelo. Têm pais que não se interessam pelas histórias dos filhos. Têm pais que se interessam demais. Ganhei do filho, mas perdi do interessado pai. O mestre aplaudiu o jogo e o game terminou por 6 a 2.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Aeromantes






Somos astronautas. Investigamos o destino dos anjos. Imanentes vislumbramos a noite estrelar. No calor do metal resistente experimentamos a escuridão fria do universo claro. Nosso sentido compensatório bate vazio. A alma resplandece como lua sagrada. No altar de nossos desesperos juramos clemência por culpa de nossas piadas malditas. Morremos de tanto rir e depois brotamos e colhemos a necessidade da fome. Na partilha talhamos, segundo nossas regras, o pedaço de gomo que brota da gema. Demarcamos o vácuo da nossa irmandade. Gotas que caem no pão são pedras que caem no piso seco do alumínio. Temos sede de água e atraímos e depois sorvemos o líquido da lágrima histérica do nosso sonho ornamentado.

Senhor Capitão


Um capitão não pode perder rumo e nem graça e deve abraçar o leme para cruzar solene os labirintos do ignorado. Um capitão de boné à vista não deve desprezar e menosprezar tudo aquilo que ele fez e construiu. Um capitão de amor próprio tem voz forte e rouca e deve demonstrar segurança e consciência de si mesmo. Um capitão sincero e gentil deve ter muita vergonha na cara e não pode ficar por ai contemporizando o significante do significado. Um capitão de poucas palavras não pode ser um político e nem mesmo um diplomata, ele tem que partir para a luta, mostrar a cara, dizer porque veio e mostrar para todos sua voz firme e audaciosa. Um capitão das gentilezas não pode passar a vida brincando de barquinho, jogando baralhos e falando de mulheres, porque a existência não é apenas uma forma de passar o tempo. Um capitão embriagado de razão necessita afastar -- certas vezes -- "o rum da vida", o cálice afrodisíaco que muitas vezes toma conta do ser imaturo e indefinido. Um capitão que valha a pena tem de ter palavra de homem honesto, deve rir quando tem de rir, deve ficar bravo quando tem de ficar bravo e deve ficar maluco quando a hora exige certa loucura. Um capitão de prosa e poesia não pode se dar ao luxo de ficar fazendo listas de abobrinhas, de sonhos emoldurados, de pensamentos perdidos ou de escritos pueris.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Tempo Suspenso





Eu não sigo ninguém, porque o sinal está fechado. As comportas podem se abrir a qualquer instante. Eu olho no espelho retrovisor e vejo pessoas paradas, intactas. Elas são como pedras, como tijolos de vidro. Enxergo sua incrível transparência. Elas estão nuas. Entro no meu corpo e faço o comando da minha civilização. A luz vermelha continua perene. Eu pisco os olhos para melhor enxergar. Está tudo parado, como se fosse o dia de ontem. O tempo é curto e meu espaço também. Estou trancafiado dentro da minha própria automação. Sou um robô de pernas curtas e coxas grossas. Ninguém percebe meus movimentos enigmáticos. Mergulho no sigilo da minha imagem obscura. À tardinha deparo com o sol que tremeluz. Luz que chacoalha cansada de tanto me observar. Ela fiscaliza a minha profunda inércia. Passo a acelerar enquanto a luz amarela. E disparo inconsequente na direção do mundo da velocidade perigosa.

Jogo Épico


Falaram que hoje era o jogo épico. Mas o que eu vi foi uma goleada. Meu time perde os passos. Afunda na sua incompetência ofensiva e defensiva. Onde está o meio de campo? Estou com sono, mas ainda tenho voz para mostrar minha indignação. O campeonato embolou de vez. Era tudo o que a gente não queria. E agora, vivente?

sábado, 25 de outubro de 2008

Sábado: 14:26


A casa vai estar cheia. Os meninos brincam de play. Ela fica parada no meio da casa copiando a legislação. Seus dedos estão com calos. Ela acabou de lavar a louça. Eu trouxe para cima as toalhas sujas. Um deles me pede biscoito. Eu digo que lá embaixo existe uma gaveta cheia de guloseimas. Ele corre para lá. A chuva não dá trégua. Está todo mundo nos supers, nos shoppings e nas casas - suas e dos outros. Os outros estão aqui. A campainha acaba de tocar. Vou descer.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Eu Sou Meu Títere




O Mestre de cerimônia me avisa a chegada do próximo estagiário. Cá estou numa entrevista solene perguntando qual a hora da chegada e a hora da partida. Não gostou? Cai fora. Não fumo, mas dá vontade de fumar. O ambiente parece tranquilo, mas as agendas do telefone e do outlook pesam. Eles cobram isso, isso e aquilo e eu tenho que fazer, na hora certa e no momento exato, isso, isso e aquilo e mais aquilo outro. Preciso de gente, preciso do cheiro do povo. Quero caminhar na rua no meio da tarde, aprender o significado da gente que passa de um lado para o outro. Queria uma casinha distante, no alto da colina, olhando as vacas e as vinhas de onde eu poderia extrair um bom vinho de qualquer cor. Mas estou aqui tentando achar no teclado novo o ícone das aspas. Quero parecer diferente, mas continuo o mesmo. Sinto arrepio profundo de pensar em qualquer tipo de mudança. Na verdade, eu tenho medo de mudança. Vou me tornar lavrador, agricultor, quero trabalhar em casa. Sem medo de dormir até tarde numa terça feira perdida. Não quero ser mais escravo dos prazos e das obrigações. Quero me aposentar e fazer todos os itens da minha bucket list, mas estou aqui fazendo outras coisas dependente do tempo que os outros querem que eu cumpra. Descobri que não trabalho mais para mim, apesar de gostar do que eu faço. Descobri que os outros manejam minha vida. Descobri que sou um boneco amestrado, um fantoche, uma marionete dos donos do poder. Dizem até que eu sou pago para bloguear e distribuir cizânia em certos blogs. Minha vida de blogueiro parece ser mansa. Não sou deus, não sou cego, mas reflito e reflito muito no individualismo de nossos dias. Diz o filósofo francês que o individualismo é uma bela virtude, mas ninguém quer discutir sobre essas chatices. A poesia perdeu, a filosofia também. Ninguém compra mais isso. É necessário parar o tempo e refletir, mas antes, porém, o mestre de cerimônia bate a porta e eu escondo o texto do post do blog. Ele vai anunciar a entrevista de mais um estagiário. Qual a hora da chegada e a hora da partida?

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Músculo Cansado




Uma dor de cotovelo me deixou longe daqui. Uma dor de impacto, de baixo impacto causado por uma bola de tênis ou pela tecla direita de um mouse esfarrapado. Sei lá. Resolvi não investigar as causas. Passei gelol ontem de noite e hoje de manhã depois do banho. Ninguém recomendou. Eu é que me auto mediquei. Faço como 99,8% dos brasileiros, tenho dor de barriga eu tomo Plasil, Azia, pirose, má digestão? tomo magnésia bisurada ou pepsamar. Dor de cabeça? Tylenol.

Na verdade é uma sensação chata que não doi, dá apenas uma sensação de músculo cansado de tanto trabalhar. Meu cotovelo precisa de férias; Preciso relaxar o músculo, parar de erguer peso, parar de digitar palavras inconsequentes. Necessito redirecionar minha vida de cotovelo cansado para a objetividade do que efetivamente é consequente. Devo buscar apenas objetivos práticos. Mirar somente no alvo positivo. Meu esforço deve gerar apenas ganhos materiais. Não posso mais perder tempo com dores transversais. E que se dane a poesia.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Reengenharia


Ele fala com sotaque esquisito. De origem alemã. Disse que conhece diversos países. Que já morou nos EUA, na Europa e depois viveu 10 anos em São Paulo. Hoje ele mora em Porto Alegre porque resolveu fazer uma reengenharia em sua vida. Resolveu mudar de ar. Ir para outro lugar. Mas deixou, em São Paulo, uma pequena filial. Foi isso o que ele me disse. Vi seu olhar tenso olhando para mim. Talvez estivesse dizendo para si mesmo: eu preciso que alguém me ajude.


Eu falei que o projeto dele era legal e que existe mercado para aquele produto e que os softwares relacionados a esse serviço não são dos melhores. Conheci um ou dois e não gostei do layout e da tecnologia. Existem boas empresas no mercado internacional que podem chegar aqui e investir numa pequena e competente firma. Isso já aconteceu zilhões de vezes. Mas essa crise toda pode deixar o pessoal com um pé atrás. O momento é de pensar e de pensar bem.


Ele elogiou o café e agradeceu. Acompanhei até o elevador. Olhamos para a janela e o tempo estava fechado. Dizem que o fim de semana vai ter muito sol. Alguém comentou. Nos despedimos.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Memorizando (Memorando)


Tive uma idéia genial. Aliás, tive duas boas idéias. É impressionante como nessas horas eu consigo pensar bem e melhor. A hora de pensar bem não é toda hora. A gente não pensa bem todo o tempo. De repente é que dá um clique e a boa idéia chega.


Anotei:


Duas reuniões. Uma com os sócios e a outra com os parceiros.

Reformulação de metas e estratégias, tendo em vista conquistar novos mercados.

Debate sobre gestão, fundos e remuneração.


Bingo!

Cego de Sujeira


Hoje eu tomei um banho. Um banhão. Chuva tórrida ardente de palavras que eu mesmo disse.....
para mim. Eu me ouvi. Eu me escutei. Olhei direto na fonte da ducha e pensei no diálogo que eu fiz. Depois do banho cai em imersão no líquido terapêutico e lúdico. Eu me vi. Acreditei. Compreendi. Após, enxaguei o corpo, limpei o rosto, a testa. Assoei o nariz, os ouvidos. Coloquei a roupa limpa, as meias novas e fui ganhar a vida no batente.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Certas Fraquezas


Senhorinha, também quero lhe revelar um segredo. Espero que não fiques braba comigo. Eu também gosto de comer chocolate escondido. Tenho absoluta consciência de que estou fazendo algo errado, mas eu não .... resisto.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Pintor de Esperanças Brancas




Poemeu Ocasional
Não quero ser o cego que desperta, meu Deus!
Não quero ser o deus que desperta, meu cego!
Não quero ser o monte que enterra suas vítimas
Não quero ser o monge que vive na sombra
Não quero ser eterno como o sonho dos justos
Não quero ser o nobre que sorri disfarçado

Procuro pétalas de cobre enlatado
Procuro bolas de pérolas da hipocrisia
Procuro o verde do funcho perfumado
Procuro rezas que me esnobe no íntimo
Procuro vítimas das mesmas circunstâncias

Não é difícil de achar
Basta colher por ai
Onde a imensidão flutua
Onde a calma é apenas símbolo
Onde o gesto é percebido
Onde tudo parece como sempre esteve

Minha singularidade imperfeita
Adentra no silêncio da madrugada
Piso com botas pesadas
As calçadas da minha cidade
Meu olhar confuso
espanta os clientes das igrejas marcadas

Sou materialista de ocasião (e necessidade)
Idealista de idéias frias
Sou supérfluo por consequência
Moro no mato de cimento
Não suporto meus vizinhos
Minha história não é a deles

Para o Grand Finale convido a esperança
Ela vem cheia de graça e sorriso fútil
De alma lavada ela bebe minha vida
E eu me transformo em deus
Cego de emoção e significado
dEUS cEGO de ídéias frias
caçador de nuvens perdidas
pintor de esperanças brancas.
Imagens de Park Harrison, daqui.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Adotando um Ser







Não quero saber de gatinhos no meu blog. Nem ovelhinhas, nem macaquinhos ou tigrinhos. Borosos ou não. Não quero saber de brinquedinho no meu blog. Nem de piadinhas ou gadgets maneiros. Quero deixar o meu blog limpo. Absolutamente Clean. Como se fosse um espaço lounge de um Hotel em alguma avenida de Nova York onde o branco prepondera. Não quero cores e nomes. Não quero fuzuê. Alarde? Nem pensar. Se você entrou aqui e agora para fazer número eu lhe digo, com toda a clareza, dê o fora. Meu contador pifou. Ele não conta mais nada. Ele retroage ao tempo passado. Ele é apenas um número que eu desprezo. Quero deletar tudo que não interessa. Vai sobrar apenas conteúdo...

Midlife Crisis


Os anônimos da vida chegam e dizem coisas para mim. Eu não estou nem ai para os anônimos da vida. Educadamente eu leio a mensagem e coloco no lugar de honra dos comentários. Eles aparecem ali fazendo suas considerações, pertinentes ou não. Educadas ou não. Estúpidas ou não. Inteligentes ou não. Eu não sei quem são essas pessoas. Só sei que elas opinam. E isso me deixa maluco. Quem atravessa a crise da meia idade sabe bem disso. Qualquer coisa deixa você maluco. This world goes wrong dizem os velhos hipócritas. Pois assumo o que sou, um ambivalente juvenil. Luto contra o tempo. Não quero ser um avô de bengala aos 50.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Bodas de Ouro



Sensação estranha de amadurescimento. Ambivalências. Meus pais fazem 50. Eu faço 50. É normal fazer 50. Não nasci em 58 e, portanto, não tenho - ainda - 50. Tenho quase isso. E daí? Pois, e daí que estou ficando maduro, envelhecido, cheio de concreto armado. Meu fôlego está um aço. Hoje venci no tênis um cara de 23 anos. E numa boa. A imagem do casamento de meus pais. Lá estão meus avós maternos e paternos. Meu avô paterno eu pouco conheci. Ele morreu quando eu tinha 5 anos. Nas fotos da boda, meu avô tinha 5o e poucos. Nasceu no fim do século XIX. Ele carregava consigo uma bengala. Sempre imaginei meu avô carregando aquela bengala da foto. Ele é um velho aos 50. Sou eu um velho? Serei velho aos 50? Meu avô era velho aos 50. Talvez isso faça parte da geração deles, características das pessoas daquele tempo. Agora é o meu tempo. Vivo o tempo de hoje. Respiro com intensidade. Ambivalências. No tempo de amanhã meu neto vai olhar minha fotografia e comentar: Nossa, como o vô tá acabado!!! E ele ainda nem nasceu. Boda de ouro, boda de prata, boda de papiro. Não sei até quando a gente vai carregando essas bodas.

Eu vi


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