Buscando não se sabe bem o quê.

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Umbigos




Sábado de noite, do alto do andar de cima ela ouvia a conversa dos meninos na sacada, na verdade, eles são homens de 30 anos. Ela, com seus 40,  nunca tinha presenciado uma conversa masculina explícita do tipo fulano é o tal porque comeu a gostosa e tesuda da  beltrana; as mulheres são chatas porque não têm senso de humor e coisa e tal.

No dia seguinte, impressionada, ela me comunicou que estava tomando uma decisão importante, não confiava mais nos homens. Por quê, perguntei, ora, ela me respondeu,   porque eles são interesseiros, insensíveis e só pensam no seus próprios umbigos.  Eu disse, nem todo o homem é assim, como tudo na vida existem as exceções. Ela me interrompeu, tu também és assim. Tu és como eles.

Fiquei a pensar sobre esse veredito. Será que sou assim? que todo homem é assim? será mesmo que a nossa genética, nosso metabolismo, nossa cultura têm essa capacidade impressionante de nos moldar de acordo com uma forma, sobre a qual estamos irremediavelmente presos?

Consultei os astros, fiz oferendas, ingressei no curso intensivo de sensibilidade e estou a aguardar alguma resposta, algum resultado. Por enquanto meu coração está cheio de dúvidas.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Cronologia


De repente encontro um  nome, vejo a face marcada  com rugas em volta dos olhos, as mãos entrelaçadas e envelhecidas, minha curiosidade atiçada, pois tento olhar melhor, aceito a ajuda de uma lupa, fixo os olhos cansados  para encontrar algum detalhe que possa ser um pouco mais significativo, mas a imagem um tanto discreta não é de boa qualidade, talvez tenha sido atingida pelo mofo das horas.

Além do Ordinário


Pobre de mim, diz o outro. Pobre de ti, digo eu. E deus fez o silêncio da reflexão. E ele também criou a voz, o espanto e a sensibilidade. Os insensíveis devem fazer um curso, porque na vida é necessário transcender. Ontem no jantar me avisaram que só poderemos julgar os outros se usarmos por alguns dias a suas sandálias. Eu não gosto de usar sapatos alheios e também não tenho muita vontade de fazer cursos de sensibilidade. Dizem que sou burro, porque critico os ditos progressistas, mas me considero liberal, até um pouco liberal demais. Verdade seja dita, é muito complicado chegarmos a uma solução mágica, porque as peças simplesmente não se encaixam. E não adianta contratar os escultores ou os alquimistas, elas não foram feitas para serem encaixadas. Nos afogamos nessa desordem capenga, administrando as crises da consciência e tentando sempre achar a senha da contemporização. Nunca resolvemos a fundo, porque o fundo é muito mais profundo do que se imagina.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Sonhos Auspiciosos


Sugo os detalhes, apaixonados detalhes, da mão macia sobre o  terno cinza enquanto dirijo em direção ao esquecimento. Sopro o vento que  bate de frente enquanto durmo na imensidão do leito que escolhi para um pouso repentino. Leio as escrituras, sagradas leituras de um livro quase bíblico numa tarde quente, quase ensolarada, onde percebo que tudo o que me foi dito nada mais significa. Não choro, nem desanimo  apenas percebo, porque na minha intimidade consigo, apesar de tudo, dar um trato na minha desordem. As prateleiras estão cheias, os labirintos não chegam mais até lá, e por isso me perco enquanto me balanço num sono vazio, quase alucinante, navegando em metáforas.

Erotizando Um Laço Vermelho


disca o nome pela tua vez
nem sempre na ordem
dessa desordem
cai o pano
em torno do  pescoço
arroxando
marcando profundo
o que já está
extremamente fundo
no alto  do espelho
reflete a face
tímida proclamando
esperança.

Eu vi


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