Buscando não se sabe bem o quê.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Levando


Acostumou-se a não compartilhar. A viver na solidão e na timidez. De não mostrar a cara quando se deve. De se esconder quando algo se aproxima. Porque satisfaz, porque é bom assim, porque está habituado, porque não exige maiores esforços. E embutido nesse espírito de avestruz vai seguindo a vida, como ela anda, como ela passa, porque vai levando sem se dar conta de que o mal maior está por vir. E quando ele chega? Nunca se sabe. Pode ser amanhã, depois, no outro ano ou no próximo. Pode ser na próxima década ou mesmo na outra. Nunca se sabe e, portanto, segue protelando. A vida toda foi assim e não existe desejo de mudança. Empurra com a barriga gorda. Dorme até tarde. Deita tarde demais. Come até altas horas, bebe, fuma e se despedaça. O corpo cai, a vida passa e se acostuma e tem medo de agonizar, de sofrer na solidão, de passar os últimos anos de vida sentado numa cadeira velha em um quarto gelado e escuro. Mas isso é futuro, que pode estar próximo ou não. E por isso pensa nisso e se atormenta. Mas no dia seguinte, tonto  ele não se lembra de mais nada e vai levando como sempre foi.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Reis e Rainhas




Percebi tardiamente e por isso já é tarde. Já tive a esperança de que existe volta. Não quero entrar nos devaneios sombrios de uma mente sem paixão. Quero apenas lembrar da história que aconteceu. Apenas isso. E depois colocar tudo dentro de um cofre. E me ver livre de mais um conto de fadas.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Sacro



Morte matada morrida. Simplesmente morte. Morte que está na vida. Morte que já morreu. Morte simplesmente morte. Sobretudo morte. Goste ou não - morte. Que vem - morte. Que nunca vai, porque sempre chega. E quando chega - morte.

Postices





Barriga Vazia


Quero beber, quero comer, quero minha barriga vazia, quero chantily e quero macarrão. Quero minha barriga vazia. Quero beber o vinho, a cerveja o campari e o bacardi. Quero me embriagar de cerveja. Quero minha barriga vazia. Não quero viver com mágoas nem preocupações. Quero acordar bem, não quero dor de cabeça. Quero minha barriga vazia. Quero ser forte, musculoso, conquistar todas. Quero minha barriga vazia, livre dos tecidos adiposos e gorduras fedorentas que causam a acidez do meu destino.


Perdas e Danos


A senha que digitou. Finalmente conseguiu o acesso e obteve os números necessários para fazer a interligação dos valores. Levou 15 minutos para fazer o upload. Chegou em casa cansado e perguntou para a mulher se a sopa estava pronta. Depois de assistir o filme na TV, ele foi dormir e acordou no dia seguinte pronto para a grande caminhada. Saiu para nunca mais voltar e não se sabe até hoje do seu paradeiro. A Interpol foi acionada sem sucesso. Dizem que está a morar na Islândia ou no Paraguai. Ninguém sabe e ninguém viu. O rombo financeiro foi violento. As perdas e danos enormes.


Atenção




Temos medo de tudo: da temperatura da água, da cor da luz do holofote, de atravessar a rua em momentos confusos. E agora, diante da sustentação oral de um tribunal engravatado e togado, as palavras resolvem sair sem resistência, de forma recalcitrante, como se fosse uma rebelião interna. Uma espécie de eureka, algo completamente incomum, uma grata novidade. E, no fim, lá pelas folhas tantas, o discurso esvaziou, porque chegou ao fim. Olhou para cara de todos e percebeu que a unanimidade estava prestando a necessária atenção. Era o que ele queria. Fez uma breve pausa até encontrar uma sensação de conforto. Deu um largo sorriso e exclamou, como se fosse um advogado maroto: muito obrigado pela atenção. E se dirigiu para a cadeira onde estava sentado.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

O Poço




Dentro de mim existe um poço que reluto em descobrir. Não sei se está vazio, se está cheio, mas eu guardo nele todas as minhas aflições, os restos de minhas unhas, os meus baques cotidianos, os foras que levei quando guri, as chantagens que herdei. Outro dia, numa conversa deitada, resolvi que iria procurar a fonte desse poço. Procuro, procuro e pouco encontro a não ser uma pequena pista que considerava irrelevante, mas não é. Sigo a luta, na busca das causas dos meus receios e tento contornar minha incrível timidez esboçando um riso maduro -- sem parecer cínico -- para dizer a todos que tudo está muito bem.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Ponto Final




Pois Darlene que sempre foi Darlene andava solta e leve até que a brisa do desencanto tomou conta do contorno do seu rosto meio azul claro ou amarelado esfolado de memória curta e fotografada pela lente nobre do imbecil do ex namorado que colocou na web o que não deveria ter feito e o resultado inevitável é que o mundo todo viu o que não poderia ser visto e Darlene que sempre foi Darlene ficou cinza de tão triste muito mais triste do que se pode imaginar talvez até mais triste do que toda a tristeza do mundo e nesse exato momento sabedora de toda a verdade ela sentiu o gosto amargo de perder a graça de viver.

Abastecimento




Que se dane a Dinamarca ou a Holanda. Sei lá. Quero mais é partir o meu ovo e misturar com arroz e trucidar esse bife duro de quinta e seguir viagem com destino ao oriente. Não sei se a Finlândia ou a Suécia perdeu, se ganhou ou empatou, porque aqueles três tontos que só falam nisso não se deram o trabalho de explicar. Melhor assim, porque nem estou interessado. Prefiro enxergar a rua, o posto de combustível, os carros parando para abastecer, as pessoas descendo apressadas para ir ao banheiro ou comer um pastel com café bem adocicado. Depois, na saída pretendo comprar uma bala, uma pilha de balas, para poder mastigar enquanto dirijo, porque sei que estou com pressa, porque alguém me chama e estou sendo esperado para a grande partida. Que se dane a Grécia ou a Bélgica ou os Britânicos não sei se eles são fortes, são duros ou viris, porque não estou interessado.

Eu vi


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