Buscando não se sabe bem o quê.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

23 de Dezembro



Um dia eu mudo e passo a fazer tudo de acordo com os conformes. Essa foi a sensação que me ocorreu quando aconteceu o inesperado. Não sei porque motivos exatamente ela saiu da sala; porque ficou sentida, porque estava tonta pela discussão, não sei ou não me lembro bem o que efetivamente aconteceu, ate mesmo porque estou com a cabeça nas nuvens; tudo por conta desses dias mormacentos de fim de ano que tem, de um lado, a alegria das festas, mas também tem, de outro, a cobrança e a pressão.

O certo é que ela se retirou, desceu a escada e foi lá para baixo, mexer com a vida, fazer seus negócios, arrumar as gavetas, os discos e livros. E eu aqui em cima olhando para uma TV que diz ops, não foi possível iniciar o conteüdo. Bem me lembro agora, porque me deu uma espécie de insight, que foi exatamente isso, uma máquina da última geraçao da tecnologia falhou e ninguém foi capaz, nem mesmo o homem da casa, de arrumar o defeito.

Poderia ter ligado, claro que sim, para o pessoal da tv a cabo, mas não tenho tempo e nem saco para isso. Daí o impasse e o mal estar que a obrigou - se é que posso dizer assim -- a descer as escadas um tanto indignada. Olho para o relógio agora e vejo que o tempo passou, faltam alguns poucos minutos para as 23 horas e amanhã é 23 de dezembro. A novela terminou e tudo está silencioso.

Nessas horas fico um pouco retraído, estou aberto sim a uma discussão sincera, muito embora eu já esteja cansado, Quero ir dormir, porque amanhã o dia vai ser longo, tenho de cumprir as metas e os objetivos, depois de tudo feito, anuncio o meu retorno, mas corro o risco de ouvir apenas o barulho inconsolável do silêncio.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Luta de Classes


Têm dias que acordo poeta
outros dias não
hoje resolvi participar
da minha própria
luta de classes

Ainda não sei qual camisa vestir
se a azul ou a vermelha
tudo o que não quero
é morrer
e por isso insisto
na cautela

Sou um revolucionário conservador
ou um conservador revolucionário
não sei qual a ordem
e os fatores
e nem quero saber

Dizem que esse dia virá
e quando ele chegar
vou ser forçado
pelas circunstâncias
a escolher o meu canto

Não quero morrer no mato
nem esfaqueado
com um tiro nas costas
quero sobreviver aos tormentos
quero ultrapassar os limites
inclusive os mais nefastos
e viver verei

A luta pela sobrevivência
é digna dos dois lados
existem os heróis furiosos
os covardes autênticos
os rebeldes intransigentes
e os fracos
e eu nem  sei
o tamanho do meu destino.

Meu tormento não tem fim
e nunca terá
dizem as línguas
se esse dia chegar
e espero que não chegue
eu vou ter de
mudar.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Feixo


Quem quiser falar com deus que segure esta ponta. Tamanha insolência é a resposta para o simples silêncio. Faz força, faz! Muito peso, mormaço, o suor das almas imaturas. O cheiro azedo das necessidades, os rancores precoces, as verdadeiras vontades, a camisa manchada de sêmen, a iludida personalidade.

Desliga o ar,  abaixa o volume da caixa,  a chave perdida, a senha esquecida. Pensa algo rapidamente pensa, o que jamais se pensou, o que nunca se admitiu. A coragem repentina que aparece, mas vai embora. Pensa logo, pensa. Onde nunca pisou. Onde nunca existiu. Onde não se esteve. 

Um lugar do mundo, no canto de algum  morro, onde poucos passam,  a pele fria de um eremita,  soldado isolado, com seu chapelão. O ermitão e seu  imenso bacamarte que vai apontado para a cara do desprezo. Esquecido, silenciosamente esquecido.Cuidado, muito cuidado.

Os holofotes não brilham mais, porque ninguém mais quer receber o foco ameaçador de um  insignificante feixo de luz. Modesto, simples, mas nunca simplório. Faça-se a luz para investigar, colocar na cara do paciente a verdadeira verdade.Ameaçadora verdade. A desprezada verdade.

Porque ninguém quer saber.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

José de Alencar


Minha doce amada
ficou uma fera comigo
por conta do
vejam só
José de Alencar

Por que o espanto?
perguntei eu
cansado ao chegar em casa
ela nem me respondeu
e me mandou
plantar coquinhos

Foi o que foi
numa livraria de cidade grande
ela fez o check in
e eu serelepe
louco de implicante
anotei na agenda geral:
estás a procurar o último capítulo
do José de Alencar?

De fato
ela não gostou
até odiou
e uma fera brava
não pode ter ódio no coração

Ao anoitecer
na hora do passeio do cão
que senta manso
ao lado do banco de boteco
ela sorrateiramente
no conforto da casa
apaga toda essa história

Pronto
nada  existiu
a não ser
este poema torto
feito
de forma
unilateral.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Amor no Coração


Dezoito e dois
Tá na hora de sumir
de fugir
de dormir.

Não sei o que faço
Se vou para um lado
ou para o outro
Perdido estou
O que posso fazer?

Talvez me dê na telha
e consiga transcender
uma arma no escuro
um tiro na garganta
do impostor.

Mas nada disso consigo
porque sou do bem
sou zen
e tenho amor no coração.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Existe



A linha solta
que prende tua roupa
é obscura demais
e por isso meu entusiasmo
em cortar com tesoura afiada
a fenda nobre e singela
que envolve teu corpo.

Os olhos que me olham por trás
as costas nuas
protegidas por uma faceta
de cobertor
e nem faz frio
dentro deles encontro
o aroma sublime
de exaltação.

Remoendo de prazer
percebo inconscientemente
que a razão pura
o admiravelmente transcendente
existe.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Prisioneiro



Procura no calendário uma data como se fosse um soldado  tentando se comunicar, mas ninguém quer entender. Na guerra os prisioneiros são considerados estorvos. Melhor mesmo é acabar com eles. Um tiro no estômago, na nuca, na face? Na face não, porque vai estragar a cerimônia de adeus.

Uma data sem nome, sem pátria, sem traição, palavra maldita. O  poder de fogo das tropas inimigas é muito maior do que se imagina. Tinha consciência disso, porque sempre foi um bom observador. Agora, só lhe resta o que ensinaram: é preciso morrer com dignidade. Apostar na própria sorte é um desafio, uma questão de sobrevivência. Tinha de escolher uma data, um mês, uma hora, um segundo qualquer. Um plano?

Desenha um mapa, aponta as localizações importantes, mesmo que não tenha a capacidade de conhecer  a geografia local.  Apenas informações não basta, é necessário algum tipo de condição, algo que possa ser checado posteriormente. E, por isso, o plano de sobrevida. Uma data, uma pequena data, não mais que isso.

Quando o comboio desceu a colina uma pequena sensação de alivio foi tomando conta de seu corpo.Sentia-se leve, como se flutuasse em nuvens brancas. De fato, ele flutuava em nuvens brancas. E queria permanecer ali, flutuando, inconscientemente flutuando, sem tempo, sem cicatrizes, sem calendários, como se fosse um prisioneiro da alegria.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Curvas


Que graça teria o mundo se não houvessem as curvas, suaves ou fechadas? Se tudo fosse linha reta, em movimento retilíneo uniforme,  seria tudo uma chatice. Por isso é necessário fazer alguns desvios, porque neles podemos encontrar outras esquinas, depósitos, lugares, pessoas e, sobretudo, idéias. Tudo bem, pode cansar as pernas, porque aumenta a distância, pode gerar estresse, neurose, paranóia, riscos, mas uma vida bem vivida tem de ter seus desafios.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Voz



Forneci todos os meus dados, minha íntima vida privada. Tive confiança na pessoa, sei lá, simpatizei com sua voz, com sua maneira de se comunicar de dizer as coisas como elas realmente são. E por isso abri minha vida para ela. Desligamos as conexões, desplugamos os plugs da nossa ligeira união  e passamos a viver a continuidade das nossas vidas, vidonas ou  vidinhas. E passo pelas ruas a olhar os semblantes de quem passa. E passo a procurar enquanto passo. Sem sobressaltos, sem rancores ou cicatrizes vou escolhendo um a uma, uma a a uma, alguém que possa ter as feições daquela voz singela, autêntica ao ponto de me tocar tanto.  E fui descobrir depois, porque depois a gente sempre descobre, que meus dados foram divulgados na listagem das grandes companhias que insistem em me chamar para vender planos, sonhos e créditos. E toda hora eles me ligam, no sábado, no domingo, a meia noite, de madrugada. Eles sabem meu nome completo, onde e como nasci, sabem os detalhes da minha ansiedade, as voltas da minha depressão, os traumas das minhas passagens. Troquei de número, mudei o aparelho e nada adiantou. As ligações continuaram e com muito maior intensidade.Um dia, farto de tudo, resolvi me desplugar do universo. Hoje não falo mais com ninguém. Dizem que surtei, que me isolei, que sou um outsider. Não sei o que sou. Só sei que ainda procuro, no meio da multidão, o dono ou a dona daquela voz singela que tocou meu coração.

domingo, 25 de setembro de 2011

Escorrendo


Nosso lema
nossa verdade
nosso hino absoluto
rotulado de idéias
e de senso comum
idealizamos nosso
próprio sucesso
e por isso detestamos
e quebramos a memória
de tudo que foi
muito lúcido
muito claro
e transcendente
preferimos enfrentar
mas não sabemos
os rumos da agonia
e por isso nos armamos
com as armas artezanais
do nosso
 absoluto sorriso
ingênuo de lágrimas
de cor e de sonhos
queremos ser marginais
colocamos no nosso rosto
escorrido as marcas
amargas do nosso próprio
insucesso.

Equilíbrio


Tenho fome, mas não como. Não como porque não posso comer. Aliás, não devo comer, porque tenho de me controlar. E controlando a mim mesmo eu chego - ou devo chegar - ao meu ponto de equilíbrio. E é exatamente isso o que importa, saber alcançar o ponto de equilíbrio. Pensam que é fácil? Não é. É bem difícil - pois exige um monte de atitudes do tipo: determinação, saber se controlar, tentar ser menos ansioso, fazer o possível para evitar comer alguma coisa muito boa que está ali disponível, mas, infelizmente, não se pode retirar aquela guloseima, do tipo sorvete de morango ou abrir uma garrafa de sirah, porque se assim se fizer, estará rompendo com a promessa. E não se pode romper com a promessa, porque rompendo a promessa estará enganando a sí mesmo. E quem engana a sí mesmo é mais do que um bobalhão. É um tremendo imbecil. E não quero - sob hipótese alguma - ser taxado e rotulado por aí de tremendo imbecil. E por isso, pelo exposto e não exposto, eu sigo seguindo as regras, tentando controlar meu apetite, minha conduta, porque o equilíbrio é o que verdadeiramente importa.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Do Outro Lado da Rua


No subúrbio da noite, uma janela se fecha. As luzes que estavam bem brilhantes se apagaram. As regras existem e elas exigem o nosso obrigado silêncio. Temos de conviver e apelamos, então, para nossos deuses morais. Tentamos disfarçar nossa decepção, porque  eles estão sempre contemporizando com os ditos inocentes. Benditos ou malditos, tanto faz.  Nossa angustiante espera não vai além e nos atordoamos com o encanto e a magia desse grande circo. Ele nos causa emoção, medo e indignação.  Não deixa de ser interessante -- e aí está o paradoxo -- que as soluções podem ser encontradas, porque os paradigmas existem. É só seguir os passos já alcançados, podemos copiar, colar, podemos fazer de tudo, mas onde está aquela vontade, aquela gana que aparece sempre na hora exata. Aparece?  Por que a demora? Nessas horas vem a lembrança daquele tio que nos chamava a atenção acerca dos interesses que nos mantém amarrados. E no meio dessas algemas de detalhes apelamos para toda a sorte do mundo: magia, templos, arenas, rezas, livros mágicos, religiões esquecidas, ideologias baratas. E quando acordamos - porque sempre acordamos -- nos damos conta de que tudo isso é apenas a nossa vida e que nossa voz não está afinada o suficiente para que tenha condições de  ser ouvida do outro lado da rua. Fechamos a porta, apagamos a luz, baixamos a janela, trancamos, enfim, nossas grades para que a noite seja segura - e confortável.

Barba no Rosto


Bah, cara
eu tenho barba no rosto
e não é de hoje
nem de ontem ou anteontem
já faz muito tempo
que eu tenho
barba no rosto
mas só hoje percebi
eu tenho barba no rosto.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Desenho


A mão firme, ainda um pouco dolorida,  abraça  o lápis e os traços são elaborados ou pintados. As cores geralmente são fortes -- vermelho de sangue coagulado, azul de céu de tempestade, cinza de nuvens carregadas -- e todas as mulheres, sim todas as mulheres, estão presas ou encobertas por  formas geométricas ou raízes, como se vê de seu trabalho  mais recente. Não se sabe, porque apenas se comentou sem maiores indagações,  se elas procuram raios de  liberdade ou se são prisioneiras de seu cotidiano ou destino. O curso do trabalho é mostrado on line e os conhecidos tecem seus comentários. Assim o processo é constituído, executado e finalizado. A autora dá um respiro mais fundo, expreme os olhos, como sempre faz ao observar, e toca graciosamente com a ponta dos dedos na  obra finalizada. O desenho é, enfim,  colocado numa pasta e guardado na gaveta da mesa do escritório.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Versões



O fato aconteceu num sábado a noite, talvez tenha sido a tardinha. Não se sabe ao certo, porque as nuvens da memória não se dissiparam da forma como se esperava. Tudo inicou com uma simulação, uma simulação de sono. Bateu a campainha na porta de baixo e ele estava assistindo televisão. Alguém tinha de descer para atender , mas um programa interessante estava passando, talvez um jogo de futebol, um filme de suspense: algo do tipo. Talvez -- e essa hipótese também foi ventilada --  ele estivesse cansado e aproveitou a situação para tirar um cochilo. Talvez, sempre talvez. Ela que estava no andar debaixo subiu a escada e foi nesse momento que a campainha tocou e ele começou a simular o cochilo.

Ele fechou bem os olhos e se embalou suspendendo suas funções corporais, ficou inativo. Repentinamente ele sentiu em sua barriga (um pouco demais inflada) uma mão que lhe tocou exatamente a região do umbigo. Um necessário parênteses: quando ele tinha um ano ou dois ou talvez três ou quatro, uma babá foi contratada para cuidar dele. Não era uma babá boazinha, porque sempre na hora de trocar as fraldas ou suas roupas ela fazia cócegas. E não era uma simples "cósquinha". Era algo meio que -- digamos assim -- torturante. E a pobre criança ficava a rir e chorar numa situação de total angústia.Isso gerou um trauma.

O fato é que no momento em que ela acariciou a barriga dele -- exatamente naquela região do umbigo -- ele fez um gesto brusco de proteção, de puro reflexo, como se fosse um goleiro defendendo uma bola a "queima roupa". E nesse movimento ele acertou ou o braço ou a mão dela. E a lesão não foi pequena, foi bem maior do que se imaginava. Ela ficou magoada com ele. Ele ficou chateado com o acontecido. Amanhã ou depois quando ela ficar boa -- porque sim ela vai ficar boa -- eles poderão até rir do que ocorreu. Mas, por enquanto, ela ainda tem de tomar os  medicamentos contra a dor, suspender as sessões de pintura e literatura e aplicar no local uma bolsa de gelo que queima. Uma grande chateação.

Ele assiste a tudo isso sentindo as dores dela. Ela talvez não acredite nessa versão, mas ele já disse mil vezes que está muito sentido. Falou até mesmo (vejam só) que poderia ceder suas mãos para ela, se por acaso, ela quisesse.

domingo, 28 de agosto de 2011

16



Coringa, coringa, minha insistência
16 cm, ops no dezesseis.
Sim no 16
Ali está a roda da fortuna
o nosso êxito
o nosso grande êxito.

sábado, 27 de agosto de 2011

Transcendência


Passo  a medir um a um
os passos percorridos
como se estivesse na praia
e fico a olhar
cabisbaixo
a minha própria
finitude.

Isso não poderia ser assim
de lado colado
na ponta do pé
como se fosse algo
ou ninguém
um tanto enigmático
um tanto perdoado
como se tivesse a capacidade
de conjugar os verbos

Vejo distante e aprecio
a plataforma iluminada
cheia de...
não sei exatamente o quê
e isso incomoda
me incomoda
porque quero adquirir
as luzes
da transcendência

Vinil


Surabahya Johny, tire esse cachimbo da boca, seu rato! Nunca imaginei, como um dia poderia imaginar. Como poderia prever, como poderia? E o vinil é um encontro com a poesia. As velhas canções do século passado  tocando nos equipamentos de hoje em dia. De hoje em dia. Quanto falta para terminar o dia? E Fagner canta Florbela Espanca. Chico canta João do Vale. O pessoal da Lira Paulistana. A Cida e todo mundo. Eles invadiram meu espaço. Estão aqui comigo fazendo não sei o quê, mas alguma coisa estamos fazendo. Talvez ouvindo discos sentados nas almofadas. Bebendo, fumando, rompendo os prazeres. Que me importa ficar me sacrificando por conta das canções da nostalgia? Eu quero mais é retroceder, fazer todas aquelas transgressões que me poupei. Ainda bem que me poupei e por isso (quem sabe?) estou aqui. Forte e firme navegando na direção dos lemes. Qual deles é o indicativo do meu futuro perfeito? Amanhã tem mais. Ouço o bater das latas, das agulhas que toca o vinil corrompido pelos arranhões. E isso tudo é tão, tão charmoso. Porque ainda não consegui aprender nada na minha cabecinha. E nossos alicerces vão desmoronando. Bate o martelo em meu coração. Sim é prá ti, Cida Moreyra.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Ponto Final



Espero e enquanto espero navego porque navegar é preciso para se manter bem informado porque quem não se comunica se trumbica mesmo que esse alguém seja uma pessoa repleta de enganos que são precisos insignificantes ou até mesmo atordoantes Não sei o que faço agora porque escrevo e não digo nada não pontuo não construo frases não tenho pauta e nem agenda pelo menos por enquanto só me basta dar um ponto final.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Histórias



Eu queria ter ido aquela festa. Para te encontrar. Tomaria "uns drink" e te chamaria de princesa. E você sorriria para mim e me convidaria para dançar. E dançariamos a noite inteira até a música acabar. E, no fim, eu te levaria para casa, no meu chevette, e colocaria uma fita com a tua música favorita. Na frente da porta branca  você tiraria os sapatos  e eu te beijaria antes de te dizer adeus.

E eu voltaria para casa feliz da vida pensando na hora de te ligar e te convidar para  jantar. Você escolheria o lugar. E sairiamos novamente e novamente sairiamos.

Hoje você tem um nome e uma história, assim como eu. Eu sei quem tu és, mas você não sabe quem eu sou.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Mensagem Para Não Perder Espaço




Minha amada me disse ontem a noite que se eu não aparecer no vídeo ela vai me retirar da sua bloglist.

Passei a noite sonhando. De manhã, quando acordei, nada lembrei.

O que posso falar sobre o assunto?

Venho perdendo espaço. Aprendo com os mendigos, os abutres e os delegados, quero ver show, não quero saber de porcaria. Essa zorra na tv, esse domingo no parque, os faustões da vida acabada. Não quero mais nem isso, porque meu gosto, dizem, não é mais eclético, porque eu manipulo e redireciono para as minhas próprias conveniências. Porque assim me sinto grato, limpo e perfumado. Eu me blindo das chatices e idiotices mundanas. Não estou nem ai para o sucesso do Luan. Se a filha do meu amigo sabe todas as músicas eu não consigo aplaudir, porque tento evitar meu próprio cinismo. Não luto para ser autêntico, fato raro no auge dos nossos dias, quero apenas usufruir o conforto necessário e possível. Porque a resposta está dentro de mim. E só eu posso dá-la.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Simplesmente, Não Sei


Já tentei de tudo. O casal que namorou na década de 80, se aproxima no facebook e marca um encontro no encardido Hotel Barcelona no centro histórico. O que acontece depois?  Ele toma uma aguardente, ela fuma um cigarro. Eles discutem o tempo que passou. Estarão eles despidos, vestidos, como estarão? Fizeram amor, sexo, transaram? O que isso importa agora?

Tranquei, meu cavalo refugou, porque está cansado de minhas pernas ansiosas. Talvez ele busque um cavalheiro com nova formatação. A indomável imaginação parece estar ficando sem o necessário combustível. O  carro que resolveu parar  no meio da rua e a multidão enraivescida  começa a buzinar.

Hoje sonhei que estava dormindo e fui acordado pelo meu próprio fantasma. Quando acordei tive a certeza absoluta que não estava morto. Ingressei feliz no toilette, porque tinha o dia todo pela frente. E agora, no fim, resta a minha grande dúvida: como isso tudo vai acabar?

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Recado


 O certo é que não gostei, mas deixei ali para todos verem. Aliás, todos é um tanto de exagero, porque são poucos, muito poucos, os que aqui transitam; ou por alguma causa acidental ou por tolerar a paciência. Não gostei e deixei e fiquei pensando essa semana sobre isso. Não fiquei preocupado, apenas pensando.  Talvez seja a famosa puta velhice a responsável por esse absoluto descaso. Talvez minha irresponsabilidade e despreocupação. Talvez tenha simplesmente esquecido. O certo é que não gostei e mesmo assim deixei.O recado foi dado. Entendam o que quiserem, mas não me internem.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Restos



Os restos, que o gato admira com o olhar cândido, é recolhido pela funcionária  e jogado no saco.
O saco quase cheio é, enfim, atado e levado para a rua.
 O caminhão coletor, no fim da tarde, inicio da noite, passa.

Dois homens que parecem meninos  -- porque não são mais meninos -- com o devido  cuidado,  abrem o saco e despejam seu conteúdo numa caixa maior, muito maior..
A carroça parte devagar, passando pelas ruas da cidade média, em busca dos restos, dos restos e dos restos que sobraram..

Quando tudo chega ao seu limite é anunciada a hora de partir ou de voltar.
Distante, sempre na periferia, onde ninguém percebe,  eles  se juntam e despejam, em harmonia, o resultado da colheita do dia.

O terreno baldio espalha o cheiro forte, onde o compartilhamento é feito  por todos que ali estão.
Cada um busca sua parte, sobrando os restos dos restos, dos restos que ali ficam.

Passando a madrugada o dia surge e o amanhecer aparece repentino, como se nada tivesse ocorrido. A necessária distância é uma forma digna - e limpa --  de evitar o horror de se conhecer.

Os Efeitos



Diante das possibilidades relatadas, inclusive com o risco de vida,  o retorno é quase incerto. Hoje não é mais como ontem. É a fraqueza que insiste em tomar conta dos pés, das mãos, da alma, dissipando, de forma quase absoluta, a força das decisões. O espelho reflete  o olhar contido diante do desafio. E por isso, recluso,  insiste em dormir, em esquecer, em desistir, faz questão de não ler uma linha do texto que está guardado na gaveta ao lado da cama. E a cama é quente, cheia de cobertas, travesseiro macio, o ar está ligado, a vista para a cidade que está ao longe e se distancia quando amanhece ou escurece, porque nada se enxerga, nada se vê, apenas a dificuldade e o cansaço que toma conta das vontades. Sem cicatrizes ou rancores, mas carregando uma dose razoável de amargura diante da situação concreta. Na manhã resolveu sair, seus pés fracos não conseguiram acompanhar o desejo repentino e foi forçado a utilizar uma cadeira, graciosamente emprestada pelo funcionário do shopping. Diante de todos foi empurrado até a ótica onde experimentou um óculos que comprou. A tontura veio repentina e, com ela, a tortura mental e o aborrecimento de não ter mais as aptidões de outrora. Maldita doença que consome os potássios,  ferros, vitaminas e nutrientes e que deixa o ser humano sem força para comprar sozinho uma bala. Porque os pacientes devem ser pacientes, dizem os médicos. Porque a vida necessita de mudança, dizem os parentes - próximos e distantes. O fato é que tudo mudou. E quando a mudança parece ser irreversível, a luta contra o desânimo passa a ser constante e incomensurável. Os remédios e seus mecanismos colaterais, os sedativos, os calmantes e antidepressivos, o corpo que se alimenta das drogas e seus efeitos, as drogas e seus efeitos, as drogas e seus efeitos.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Looking Out For Number One


Os uniformes, as marionetes, os pintassilgos, os lampiões tardios. As florestas, as feras de metal, os ruminantes que colhem os frutos da mangabeira. Perplexo, parado, ilustrando o móvel de madeira quase nobre, cabisbaixo, abaixado, fazendo tudo com o maior capricho ouvindo quartetos ou quintetos de vozes sutis, de cordas transparentes que ilumina a alma como fogo amigo (ou inimigo?). O rapaz vive  momentos de paradoxo e por isso reza firme procurando probabilidades. As auditorias investigam receitas sem ingredientes. O que se pode fazer diante de inúmeras  verdades?

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Enquanto o Tempo Passa



Tenho de esperar até às 19 e por isso tenho de fazer tempo. Jogo palavras cruzadas nas frases que componho, enumero números primos e terceirizados nas contas que faço. Fico pensando no que posso fazer, no que devo fazer, no trabalho que está por vir, no que pode acontecer amanhã ou depois. Lembro dos meus vacilos cotidianos, nos foras que dei, nos foras que levei, nas grosserias, nos meus pensamentos rudes. Onde foi que eu errei, onde foi que eu acertei. Por que continuo a ser tão mediano?  E detesto ser assim, mas assim sou. Porque antes eu era diferente, por que, afinal, me transformei? Porque a família é a célula da sociedade e devemos proteger os nossos filhos, a nossa querida esposa, o nosso grandioso lar, a obrigação do trabalho, o bolso com dinheiro limpo, a conta do cartão, o salário da empregada, a remuneração do motoboy. E olho as horas, porque o tempo não passa, porque tudo é ficção, porque os homens inventaram o tempo e existem tribos, hoje em dia, em pleno século XXI, que desconhecem essa ficção chamada tempo. Porque o tempo não existe, nós que envelhecemos e minha ruga de expressão acentuou  e hoje estou mais velho do que ontem, mas os segundos e os minutos são apenas os segundos e os minutos.E minha ruga não cresceu nesse intermédio.  E as horas custam a passar e eu aqui dizendo bobagens para mim mesmo, mesmo? mesmo que isso custe o que pode custar. Tudo tem seu preço, mesmo a ficção da hora tem seu preço, porque tudo é comprável e não se pode comparar o que é incomparável. E por isso eu paro, porque senão eu enlouqueço e não participo mais do tempo, da época que gritava e alardeava: viva a loucura.

O Beco



Em clima de melancolia, porque o dia foi assim,   caminha vislumbrando a paisagem urbana de outros bairros nem tão distantes,  sente os pés que alimentam asfalto. E o andar rápido disfarça a necessidade de correr. De certa forma, podemos dizer assim, dispara cautelosamente pelas ruas, em busca de  cenário de noite escura, penumbra de amor noir. Não é longe e nem perto e a luz amarela ou será verde? anuncia a parte final, sem saída, do pequeno beco, composto de velhos e novos edifícios com garagens e automóveis estacionados e no meio deles uma casa, nem humilde e nem espalhafatosa, simplesmente aconchegante onde alguém aciona o controle remoto fazendo a porta de ferro com cor de madeira se abrir e ela se abre devagar,o golden retriever que estava na  coleira é  solto e ele corre para cheirar  o ipê roxo ou amarelo que ali está plantado. Havia ali, naquela local, há muitos anos um matadouro. O avô, na década de 60,  com o velho Hudson, passava por ali para comprar a galinha do fim de semana. A cena é fotografada e reservada para ser dita em algum postal e depois comentada logo após o banho de ducha quente que tira do corpo o suor espalhado. De pijama firme e no descanso do lar localizado em outro bairro e alguns quilômetros dali vem à memória que depois será dita em alguma postagem.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Nós



Foi quando nos  demos conta de que perdemos algo que tinhamos de recuperar e por isso voltamos passando pela grande avenida até chegarmos ao ponto em que tudo começou  nervosos discutimos e acabamos brigando cada um tomou seu rumo e passamos a caminhar pelas vias transversais e paralelas em busca de algum tipo de cruzamento  olhavamos para os lados os cantos as esquinas os  locais sinistros onde poucas pessoas circulam  éramos jovens muito jovens não sabiamos o que queriamos mas queriamos algo.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Tudo Bem

Não gostei
Por isso mudei
Agora está bem
Por enquanto
está bem

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Receitas Para Conter O Apego Excessivo às Boas Iguarias



Tadinho. Engordou. Está com a pança inchada. E agora vai ter que largar por uns tempos as coisas boas da vida, as boas iguarias. Os especialistas avisaram que é  preciso  (re)adquirir o hábito da medida certa, da dose exata, sem exageros e repetições. A gula, disseram,  é um distúrbio da personalidade, tudo tem de ser medido e controlado. Um bom vinho pode ser degustado em poucas doses. A comidinha gostosa  pode ser apreciada em poucas garfadas. É preciso evitar os excessos, os excessos, os excessos. O objetivo, informaram,  não é ficar com barriga tanquinho, mas adequar a uma realidade saudável.

Tadinho, tantos  bla,bla, blas. Hoje acordou cedo, caminhou, correu, fez exercícios. Passou o fim de semana  mantendo uma adequada distância dos cálices e dos pratos. As notas apontam que  emagreceu 2 Kg, faltam 8 ou 10. Há de se ter força de vontade, de vontade, de vontade para controlar a própria vontade.

Tadinho.

Avidamente


Eu te devoro com minha boca seca, com minhas mãos suadas, com a ânsia inglória de viver. Porque quero te ver para sempre junto a mim e a minha matilha. Porque aguentas os meus resmungos, toleras a minha cólera, resistes às minhas incompreensões. Não, não quero apostar nos tormentos que abalaram nossas relações ao longo do tempo. Quero ver apenas o lado cirúrgico da nossa febre de paixão. O corpo, a boca, o jeito suave de menina doce que se transforma na hora de se transformar. Porque essa mutação é o nosso grande mistério, um segredo mais do que qualificado, que move e promove nossas satisfações. Por isso te devoro em todos os pensamentos guardando comigo uma nítida impressão de que sempre vou te amar.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Mariquinha


Tadinha da Mariquinha. Vedete da casa ela passa os dias a sentir dor. Tomou um montão de comprimidos. E a dor persiste. O doutor disse que é dor da alma, dor dos nervos.  E ela se queixa que está cansada, que precisa de descanso, que precisa dar um tempo para a vida.

O feijão está pronto, o arroz está solto, a carne está na panela. Os problemas do Zico voltaram, inclusive os profissionais.  A Lurdes rompeu novamente com o noivo. E a despesa do cartão foi além do que se imaginava.

No final do dia, bem depois da novela, ela se deita na cama quente e lá se prende. Ela busca realizar os sonhos de outrora, quando a vida era simples e fácil e o tempo não tinha nenhuma curva.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Absolutamente Terno


Sei que posso estar enganado, por  lutar por um canto, um pedaço de fome, um amor qualquer, apenas para recuperar, o meu ponto de vista, que anda distante, muito distante, além das núvens, além das minhas grandes possibilidades.

Mas não vou desistir, porque minha luta, é contra tudo, contra todos, inclusive contra você, porque eu tento me identificar, com algo, com alguém, com o que for necessário, para me identificar.

E por isso faço da alma coração, faço do sangue a minha morada, faço da garra a minha percussão, o ritmo que bate, com o rufar dos tambores, os trompetes e as clarinetas, porque quando endureço jamais perco a ternura.

O Tempo de Lacan


O velho compositor que dizia: acabou-se o tempo, findou-se o riso. Acabrunhado o povo saia do circo querendo mais, muito mais. É  a velha receita do comerciante - que Lacan copiou para a psicanálise -- gostou parou e o cliente volta depois.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Aldravas


Empurro a argola com minha mão forte, mas debilitada. Ela bate na maçaneta que abre as minhas incontáveis e inseparáveis  portas. Esqueci o segredo, porque nessas horas, eu sempre esqueço. Não tenho chaves e nem senhas. Simplesmente ultrapasso, apesar de sentir o corpo zonzo, cansado,  mole, porque a febre faz intercalar a sensação de  frio e calor.  Porque estamos no outono e tenho aqui comigo a inaudita sensação de calafrio. Talvez porque me calei por tanto tempo e diante dessa curiosa empreitada algo me diz que devo retonar. Aprendi a inusitada receita de contemporizar. E acabo por pagar a conta que me apresentam. Mesmo com minha voz debochada, diante da ligação do telemarketing, eu recrudesço. Fico intenso e chego quase a me transformar, porque vivo um momento de superação de meus próprios alicerces.  Busco algum tipo de conforto, alguma droga daninha, uma bebida qualquer, um vício desesperado pela comida boa e gordurosa. Espicho os músculos até relaxar nas horas da minha ginástica. Tento desvendar os meus limites quando coloco os pés no chão, porque eu sou contraditório. E vivo nesse paradoxo incontornável, assumindo os riscos das minhas escolhas.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Espera


Seu rosto postado no travesseiro, olhando para mim com seus olhinhos pequenos. A voz grossa e grave não se ouve mais. Apenas o cheiro da cama, das sondas, dos drenos, das gases, dos curativos, dos medicamentos, das máquinas ligadas ao corpo que jaz na cama adormecido, sem vontade de comer, de falar, de ouvir, de andar. E  nosso receio é que acabe também a sua vontade de viver.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Memórias


Quando acessei o theatro não tive a certeza de que estava no caminho certo. Falam tantas versões por ai que fiquei inseguro. Sei lá, podia ser um outro local, alguma farsa ou coisa do tipo. De qualquer modo, ali permaneci algum tempo, porque resolvi falar pelo telefone com um cliente amigo, conversa essa que durou mais ou menos 15 minutos. Depois esqueci, porque as pessoas esquecem e eu também esqueço. É normal esquecer, como é normal falhar, ratear. A gente rateia, a gente erra, a gente esquece. Pois eu esqueci e o acesso do theatro ficou aberto. A noite inteira aberto, a manhã inteira aberto e, de tarde, logo depois do almoço, resolvi ver como estavam as coisas  e tudo morreu. Tudo desapareceu. Tudo o que construi não existe mais, foi retirado, sem memória e sem direito à memória, o que é desesperador. No meio da angústia uma alma nobre entrou em contato e disse: é fácil reparar o que está feito, basta seguir as seguintes dicas. E assim fiz até recuperar tudo, inclusive as memórias e o direito às memórias.

sábado, 19 de março de 2011

Meu Sonho



Quando L. ligou eu estava no meio do sonho. Ela disse: J. já cheguei em São Paulo e estou esperando o vôo para Manaus. Te acordei? Sim, eu disse, estava sonhando. Eu, tu e o H. estavamos caminhando perto do colégio quando encontramos o R.C. e a Q. Mas a Q. estava tão pequeninha e o H. tão grande que parecia um adolescente. O R.C. nos disse: achei uma casa parecida com a de vocês para a gente dar uma olhada. Mas eu conheço essa casa, eu disse, olhando para as paredes amarelas e as janelas brancas, até mesmo, quando guri, joguei botão nela, ali na garagem. O R.C. abriu a porta e entramos numa sala desarrumada onde três rapazes dormiam em colchões no chão. Ao lado deles três Iphones. E a L. resolveu dar uma olhada nos Iphones. Eu disse: francamente L. Ela desistiu e entramos nos outros cômodos. Havia uma escada que separava duas salas e mais pessoas dormiam em colchões, ao lado de todas elas, Iphones. De repente apareceram três cachorros, ou melhor: três cachorrinhos que começaram a nos cheirar. Nessa hora me dei conta que estava usando apenas a camisa do pijama e as meias. Estava sem calça e a L. me emprestou uma sacolinha daquelas que os turistas usam para carregar dinheiro em viagem e rapidamente a coloquei para tapar meu pinto. Mas minha bunda continuava a aparecer e L.  me deu uma camisa branca que enrolei na cintura. Fiquei mais confortável. Nisso, os cachorrinhos começaram a morder minhas meias. Foi ai que a L. me ligou anunciando que estava em S. Paulo a espera do vôo para Manaus.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Onde Foi Que Eu Errei?


O professor disse, na sala de aula,  que todos devemos transgredir. Não sabia que ele era ralador, porque no final ele me ralou. Não que eu tenha rodado na matéria, mas porque ele simplesmente me deu uma nota muito menor do que eu esperava. Passei por pouco, mas passei. Mesmo assim, irresignado mandei um e-mail para ele questionando o resultado. E ele não respondeu e  nunca me disse onde foi que eu errei. Talvez eu não tenha passado no teste da transgressão, porque, no final das contas, acabei por aceitar  quase que pacificamente o resultado.

Carícias


Desperto com a nudez imensa sobre mim. Ela me excita. Tento acariciar, mas não consigo. Volto a  procurar, todas as noites eu  procuro, nas madrugadas eu  procuro.  Certas horas  fico em dúvida. Em outros momentos tenho absoluta certeza. Por isso - insisto - nunca sei e creio que jamais saberei.  Acordo vazio. Tento, mas não consigo sentir  o cheiro do tato, o hálito da boca, o perfume dos pés, o refresco das mãos, porque os limites são forças que impedem a troca de nossas carícias.  E não consigo mais encontrar minha fronteira.

terça-feira, 1 de março de 2011

Indômita


O jipe se equilibrava nas estradas molhadas e esburacadas do Lami. Nem parece Porto Alegre, comentou Rafael excitado e impressionado com o jeito dela, a maneira como olhava, como dirigia, sua forte determinação. Glória nada disse depois que se encontraram no Ocidente e a única vez que ela abriu a boca foi para convidar  para dar uma banda, tomar um drink em seu 'porto seguro'. Era isso o que ele procurava, uma aventura. A estradinha se fechou até chegarem a uma casa escondida. Ela desligou o farol e se beijaram, as mãos acariciaram os corpos e ele notou uma pequena cicatriz na barriga dela. Incomodada, ela disse que aquilo era a marca de um relacionamento equivocado. Sempre determinada ela subiu os três degraus até alcançar a pequena varanda da casa simples de madeira, singela e aconchegante. A sala, a cozinha, o quarto, o banho. Todos os detalhes cuidadosamente arrumados e decorados:  colchas de retalhos, bibelôs, uma pequena estante de livros pocket. A cama pequena, mas confortável.  Deitaram sobre a colcha, mas não se tocaram. Ela tirou a roupa e ele também. Em silêncio  se observaram com olhares atentos. Glória, depois de alguns bons minutos, pegou o canivete que estava escondido ao lado do abajour e mostrou para Rafael . Assustado ele disse: você não vai cortar o meu pinto, né? Ela riu e subiu em cima dele, encostando seus pelos em sua barriga. Excitado ele atiça: vamos, seja fêmea, feroz, suba, monte, mostre o que você sabe fazer. E ela - de canivete na mão - fez.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Resistência Repetida


Não sei da notícia que vem do hospital. Desligo o telefone porque hoje não quero saber. Estou cansado. Dormi demais. Deitei cedo. Acordei tarde. Demorei, demorei, demorei para me arrumar. Não quero fazer visitas. Quero ficar sentado no sofá. Não quero assistir a nada, nem a mim mesmo. Não tenho vontade de tomar sopa, nem café, nem sair de casa para passear com o cachorro. Que late aqui ao meu lado porque eu tenho a obrigação moral de levá-lo até a esquina. Tenho de comprar ração. Tenho de.... fazer tanta coisa, mas sinto que não posso, porque estou fraco e tonto e emotivo e suado, porque suo dos dois lados e tenho que cortar os pelos do nariz, os cabelos que correm no pescoço e fazem cócegas, minhas roupas que estão ficando pequenas, as calças que não fecham, os cintos que ficaram curtos, os botões das camisas que se perderam no chão. Minhas lentes de contato que estão sujas e fazem meus olhos vermelhos arder. Fadiga que verte, deriva, expele e toma conta. Sinto frio, sinto calor, sinto falta dágua. Bate o telefone que desliguei. Está na hora de sair. O cachorro que late em busca de comida. Minha resistência no limite. Atendo. Finalmente, está tudo bem. Percebo que o dia está bonito, a manhã clara  é sempre uma nova sensação de desafio. Procuro a chave que abre a porta. O cachorro abana o rabo com toda a força.

Rumo Próprio


Jogo pérolas no mar monumental dos meus encantos perniciosos. Elas afundam e desaparecem exatamente como eu queria. No dia seguinte sinto remorso. E essa angústia vai lapidar minha vida por todo o próximo futuro. Vai fazer parte da recente história, porque já estou marcado, como gado em cativeiro, sou aquele que perdeu a chance de ser alguém. Não se trata de jogo de sorte ou azar, mas a perda da oportunidade única. E no mundo do "business" isso pode ser fatal. Suspiro mais um pouco.Coloco Mahler na videoteca, porque ele nasceu 100 anos antes de mim,  apanho meus livros, discos e vídeos e me fecho no caminho que sigo. Não sei onde vai dar, mas assisto calado como ouvinte quase estruturado os rumos que tomarei nessa vida à deriva.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Aviso


Não me dêem ouvidos. Não sigam os meus conselhos. Esqueçam tudo o que aqui está dito.  Minhas receitas são únicas e exclusivas.

Não percam seus preciosos  tempos na tentativa inglória de desvendar minhas artimanhas subjetivas. Tudo isso aqui pode ser o veneno da  má companhia, Nunca brinquem comigo.

Isso pode ser  uma notificação, uma interpelação, um aviso.Não  venham cobrar, depois, que não sabiam de nada, que foram surpreendidos pelos cantos das sereias, que não havia nenhum Ulisses por perto amarrado aos postes da perdição.

Se por acaso sofrerem prejuízos incomensuráveis, não venham reclamar  de quem avisou.

Compromisso



Meu precioso, desejo concebido , fábrica que fabriquei,  fada fogosa, nunca te abandonarei. Não mais que um mês, poucos dias, folgas, férias, veraneios, tempo que voa, tempo que passa. Apenas isso, não mais que isso. Não te preocupes, sempre estou a voltar para aqui visitar e colocar nos teus ouvidos algumas palavrinhas que digito enquanto canto. Porque fiquei rouco de saudades e meu sussurro inaudível parece mofado pelo desencanto do meu próprio cansaço. E lá me vou pela vida afora, contando passagens, lendo redemoinhos, consultando calendários, deitando em redes curtas, falando como alma viva de um passado febril que sempre me consolou. Qual loucura de um amor tão sórdido que as palavras e o significado parece que não têm rumo ou nexo. Efeito reflexo de que algo se deslocou, saiu do lugar, escafedeu-se. Mas um dia -- de lua cheia ou vazia -- a volta é automática, compulsória, quase instantânea. Porque a saudade não é apenas uma ficção, uma teoria quase básica. É muito mais que isso, a lembrança de um sentimento de prazer que se mistura com a velha agonia do compromisso quebrado. E quando termino o alívio vem imediato, porque posso passar algumas semanas sem te ver. Porque coloquei a necessária gasolina, o nosso combustível, a dose exata para a sobrevivência. Até a próxima, porque já volto.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Por que Blogueamos?


Porque gostamos de nos exibir, porque "nos achamos", porque nos consideramos "os caras", porque temos necessidade de contar histórias, de dizer alguma coisa para alguém, qualquer alguém ou ninguém. Porque tudo e nada é a mesma coisa. Porque gostamos da nossa vida privada, mas tem horas que "enchemos o saco" dela. Porque somos sempre ambivalentes. Porque a vida é processo dialético neste mundo contraditório. E sempre nos deparamos com as testes, antíteses e sínteses. E somos obrigados -- ou não -- a fazer certas escolhas e opções. E no meio de toda essa angústia temos vontade de abrir a boca. Dizer a todos ou a ninguém porque estamos aqui, o que sentimos, as fotos que tiramos e admiramos, as músicas que gostamos de ouvir, o que gostamos e o que detestamos, as prosas, as poesias e as nossas vãs filosofias. Acho que falei demais ou, talvez, de menos.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Certas Percepções Difíceis e Complicadas


Percebi - hoje - que tenho medo de ser rejeitado. Que nunca gostei de receber um não. E por isso tenho uma preguiça imensa de realizar meus objetivos. E, por isso, eu sempre digo: é muito dificil, é muito complicado.

Percebi- também - que meus pares também têm essa mesma fobia. E nossa família, por conta disso, nunca teve uma discussão sincera. E assim fomos educados. Assim foi minha vida - até hoje.

Percebo - no entanto - que não vai ser fácil modificar o que até hoje ficou estabelecido. Tenho de transgredir, de violar meus limites, colocar o tom da minha voz acima das minhas fronteiras. E tudo isso é muito complicado. Tudo isso é muito dificil, porque estou viciado nesse forma de gestão de vida, nessa filosofia que está impregnada e infiltrada no coração de meu ser.

Percebo - apesar de tudo - que posso evoluir pelo simples fato de que percebi. Posso sim ser rejeitado, posso sim receber um não. E quando isso ocorrer não tenho de ficar cabisbaixo, abatido, humilhado. Muito pelo contrário, tenho de manter a cabeça erguida e partir para outro desafio. Pois assim a vida é. E ela continua.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Intricado


Se algum tempo sobrevivi diante de tantas agonias é porque meu riso não comporta mais lágrimas. De agora em diante quero rir e sorrir sem contemplar os arcabouços que ficaram para trás perdidos em algum espaço da minha narrativa. Não, não quero mais perceber que não sou tão forte assim. Posso me tornar impietuoso, arrebatado, inclemente. Não posso ser mais ouvidos, tenho de agir e agir logo, porque senão eu perco meu perigo. Não me subestimes, porque minha capacidade está muito além da minha loucura, dos meus devaneios, trancada no quarto das minhas obras primas. Enquanto ouvia os soluços retumbantes das reclamações deixava para o além os desafios mais importantes. E perdi tempo com isso. Agora que estou velho como o diabo minhas forças parecem tão enfadonhas. É porque elas estão viciadas, porque sempre fiz tudo no mesmo ritmo e só consigo dançar a mesma valsa que sempre me embalou. O cansaço entretém o corpo afunilando-o com seus braços sempre fortes. Não temos chance de resistir, mas resistimos. E por isso corremos até o fôlego acabar e quase alcançamos a última esquina, onde o milagre pode aparecer e nos levar fora daqui.

Eu vi


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