Buscando não se sabe bem o quê.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Dora





Eu não poderia deixar de falar em Doralice. Pois bem, quando ela tinha 16 ou 17 anos ela resolveu se chamar Dora. Isso mesmo, Dora a carioca, torcedora do Vasco, abandonada pelo pai, pela mãe e que vive na Tijuca na casa da avó -- que é cega. Namoradeira até o infinito. Nessa época ela já não era mais menina porque tinha conhecido e namorado o Toninho e depois pintaram no pedaço o Souza, o Glênio e o Talarico. Olhos bonitos, cabelos cumpridos, unhas pintadas, salto alto, nem menina e nem mulher, simplesmente Dora. E ela arrasava, sempre teve charme, sabia falar, se expressar, não era tímida nem nada. Era fácil, mas quem não é? Não tinha amigas, nunca teve, nunca gostou das mulheres, apenas dos guris, dos rapazes, dos homens. Mas eles também não eram seus amigos, porque contemplavam seu corpo, se excitavam com sua voz e sua malícia. E ela, maliciosa, sabia encantar. E encantava. Todos ficavam admirados e a cortejavam e ela sempre foi o centro absoluto dos desejos. E no fim da noite, ou no dia seguinte, de manhã cedo ou de tarde, ou até mesmo no fim da tarde, ela voltava para o velho apartamento do prédio descascado da rua Ubarana, ali perto do morro do Carrapato. Dona Inês, sua avó, nunca resmungava, nunca reclamava, apesar da pouca idade da neta. Sempre deixou a menina solta pelo bairro. E ela sempre se soltou. E continua solta.

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