Buscando não se sabe bem o quê.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Passagem


Um dia se desce a ladeira do mal entendido. E tudo fica razoavelmente limpo até que uma nova onda chega e leva todas as estruturas criadas para o outro lado da tempestade. . O peso da idade carrega as articulações para o lado da dor. Por motivos de dignidade, solidariedade e sobrevivência  uma dose é aplicada. E a paisagem muda, são  imagens do passado mais antigo. É uma bela sensação de "deja vu" que leva e  parece constante. Envelhecer é algo completamente mágico. Nos últimos tempos disfarça as mãos enrugadas com a manga larga da camisola rosa envelhecida pelo uso e a doença. A tosse que atormenta as glândulas internas na hora do fumo. E o esquecimento constante de recapitular a primeira infância. Não a fase do berço, das mamadeiras e do estojo escolar, mas a pré adolescência tardia. No  momento, os meninos e as menina correm  uniformizados sem direção pelo pátio da escola enquanto a pequena bruma desce trazendo consigo um ambiente sinistro, mas muito belo. Era bom estar ali. Eles jogam bolas: pequenas, grandes, de gude. Elas pulam as cordas.  Encantada teve  a sensação de acordar, porque batia uma luz clara típica do amanhecer. Olhou para o lado e percebeu que estava incrivelmente leve no seu quarto de menina,  a mesinha decorada com os livros encadernados, o ursinho que aquecia sua cama. Sua  pele estava mais macia, as unhas bem  feitas, os cabelos encaracolados, bem do jeito que   mamãe insitia em fazer. Teimosa   chamou seu nome e sua voz foi desaparecendo feito vento no frio. O tempo finalmente passou e ninguém apareceu, porque  ninguém ouviu. Porque não se pode ouvir os movimentos de um corpo que já não existe mais, cansado, exausto e que aguentou até o fim. Pois esse é o sentido da vida.

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