Buscando não se sabe bem o quê.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

O Túmulo dos Que Não Morreram (O Paraquedista)


Túmulo do paraquedista construído pelo casal que ainda não morreu.


Bate o celular e o padre interrompe, faz olhar de censura, olha para cima. E depois ele me fita com cara de que eu sou o culpado, apenas porque não fiz o sinal da cruz. Descubro depois, o "culpado" é o primo que usa suspensórios. Toda aquela gente estava ali esperando o sermão terminar e ele, parece, fazia questão de prolongar o discurso. De batina branca e tênis - enquanto limpava o suor da testa - ele avisava: a família se completa com a religião, as tragédias e as alegrias são acontecimentos que fazem parte da vida e, portanto, temos de estar próximos da chamada divina, o momento da grande reflexão. A hora, portanto, é agora. Depois de tudo dito ele concedeu a palavra para a família homenagear a senhora que completaria 95 anos na próxima semana, não fosse a maldita pneumonia. Dizem que ela saiu do ar faz uns 10 anos e era amparada por diversas enfermeiras que se intercalavam durante os dias. Todas estavam lá. Na hora do sepultamento o famoso saquinho azul - do marido que havia partido em 74 - foi retirado com a devida e necessária cautela. É preciso abrir espaço para a caixa maior. O silêncio era quase absoluto, o mormaço também. Ao lado do evento um monumento inusitado, o túmulo de um paraquedista de botas vermelhas. O filho mais moço foi logo dizendo para os que se aproximavam, é o túmulo de pessoas que ainda não morreram, é um casal que constrói sua sepultura. Terminada a cerimônia, o cemitério é fechado por causa dos vândalos que retornam todas as noites a procura do valioso bronze. O vento bate mais forte, as árvores fazem movimentos, os anjos parecem chorar, os túmulos estão todos fechados. Por enquanto.




Quer saber mais sobre o túmulo do paraquedista? Clique aqui.

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