Buscando não se sabe bem o quê.

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

O Abrigo


Na madrugada do dia eles se acomodam como podem, uma noite sem silêncio. A lembrança curta é ingrata para quem sonha. Onde está o meu colchão? Grita, sapateia, faz alarde. E todos dormem nos mesmos podres cantos entre os sofás mofados, descosturados e ocupados com pés e cabeças. Ouve-se o rosnado do cachorro solto. Ninguém se identifica, porque ninguém tem saco para isso. Que deixe o grito rolar, uma dia se encontra. O cansaço que toma conta e alivia o desespero de quem passou o dia percorrendo os passos de ontem. Com sapatos ou descalços todos descansam bêbados, drogados, alguns sóbrios. Assim, na melancolia do mesmo estado eles despertam na manhã seguinte em busca da sopa das 10 horas no bairro distante do outro lado da cidade. O abrigo é curto e a hora do dia é amarga. Tempos insensíveis da excrescência humana. O cheiro humano é forte, catastrófico no lixo do mundo. Cheiro humano de ralo entre os colchões. Finalmente é achado o colchão na manhã seguinte com manchas de sêmen que inunda o útero e faz florescer os nossos filhos de amanhã.
Imagem: Bina Fonyat.

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