Buscando não se sabe bem o quê.

sábado, 27 de outubro de 2007

O Bloco Encardido de Poucas Folhas


Diz a lenda, a história e a religião que no início dos anos, quando o mundo era nada, dEUS cEGO --que vivia na escuridão definitiva e se sentia muito isolado -- resolveu criar um ser. Mas que ser pode ser esse ?

dEUS cEGO pensava diariamente (desculpe, naquele tempo ainda não existiam dias) como deveria fazer, de que forma poderia criar, como isso iria se consolidar, qual a melhor formatação, o jeito mais razoável de racionalização e otimização dessa fantástica e impressionante produção.

dEUS cego não raciocinava outra coisa. E como a vida não pode esperar ele iniciou a construir seu velho sonho, sua grande utopia. Não foi difícil realizar o projeto que estava pronto, perfeito e acabado em sua mente. dEUS cEGO se tornou, então, esse grande e reconhecido arguiteto, pai dessa importante criação. Toda a nossa história iniciou, num momento obscuro, numa época sem tempo e sem vida, quando ELE criou a existência ao executar um fulaninho super discreto que tem todas as chaves de todos os lugares e está em toda a parte, mas ninguém - ou quase ninguém - percebe. É o freguês da fruteira que não fala com ninguém, o hóspede do hotel que fica todo tempo isolado, a catadora que se chama Vera e que faz seu trabalho silencioso, nas calçadas da vida. Um tipo assim que quase ninguém nunca viu. E nem percebeu.

Foi nesse momento mágico, nessa instante sem tempo na história que dEUS cEGO resolveu criar a vida "dando vida" ao inspetor. Discreto, de poucas palavras, ele não tem sexo, parceiro, companheira, namorado ou esposa. Ele nunca fica viúvo. Ele é simplesmente o inspetor. Intérpretes autorizados ou não, escribas de boa e de má fé, têm gerado discussões polêmicas em torno desse mesmo assunto. A grande dúvida é saber se dEUS cEGO criou o inspetor a sua imagem e semelhança. Ou não. O assunto causa muito transtorno e, como não se brinca com o fundamentalismo, ninguém arrisca a ir muito longe nessa discussão.
E foi assim que nasceu o tempo, a história, as lendas, as religiões, o mito, a política, o esporte, a filosofia, a estética, a moral, o trabalho, a repressão, a exploração, a picaretagem, o compromisso, as neuroses, os problemas, as angústias e as felicidades. Este foi o grande momento da gênese de tudo. Foi assim que se arquitetou e formatou a humanidade e sua história, o início de todos tempos. Avesso a esses aspectos teóricos e sagrados o inspetor sai as ruas da cidade, incôgnito e atento, sempre está a perceber: fica olhando, observando, anotando os pecados e falsidades, tristezas e alegrias, picaretagens e virtudes. Todos os detalhes são anotados. Anota tudo com lápis velho, sem borracha, num bloco encardido de poucas folhas.

(A imagem acima é o desenho do disco trick of the tail do Genesis, da década de 70, uma das mais belas capas de disco que conheço)

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