Buscando não se sabe bem o quê.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Depósito Eletrônico


I.

Doralice sai sempre de casa porque gosta de sair. A turma toda acha. Aliás, eles não acham, eles têm certeza de sua ambição e esnobismo. Sempre foi infinita e nunca dava a mínima para os maninhos do bairro. Um dia Dengosa - a gente chamava ela assim - arranjou um namorado. Um cara de fora que a tratava de florzinha. Ele tinha grana e ela sempre gostou de caras com grana, com carro, com tudo. O namoro não foi longe, porque não deu certo, ela disse. Mas ela continuou saindo, visitando outros bairros, perambulando com outros caras. Uma tarde de sábado com tempo fechado no Méier, fizemos uma festa de São João. O dia estava cinza e não tinha nada a fazer e Dora apareceu por lá. Tomou cerveja, conversou e me namorou. Ela dormiu na minha cama.

II.

Cabelos largos, doce, quente, cheirosa, seios perfeitos, coxas lindas, calcinhas pretas, sem soutien. O foco do celular está perfeito. Enquanto ela dorme, imagino que faz poses. E guardo para mim as imagens de tamanha conquista. E se alguém duvidar eu tenho elas aqui. Comigo. Capto seu perfil, de cima, de baixo, do lado, do direito e do esquerdo. Ela dorme, mas imagino ela acordada. Todo dia ela estará aqui comigo. Enquanto ela estiver nos bares da zona sul, transitando esquálida com os caipiras do lado de lá, ela ficará aqui comigo. Fotografo até seus pés, suas unhas vermelhas, as marcas do sol presas no corpo, os pelos, nobres pelos negros, detalhes perfeitos, de perto. Tudo aqui armazenado no depósito eletrônico.

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Eu vi


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