Buscando não se sabe bem o quê.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Mais Uma Noite



No frio do centro ele observa a mulher cantando ao longe, ela fuma um pequeno cigarro tailandês e carrega consigo uma chamativa bolsa cor de rosa. Ela é bonita e, por isso, ela é cara. São quatro horas da manhã e a pressão chega com força, os carros passam sem estacionar, as janelas estão carregadas de ausência. Estão todos dormindo, menos ele. Com o mesmo terno cinza ele caminha pela grande avenida a procura de diversão. Os mendigos dormem tentando se proteger fumando a droga que tanto alucina. Ele continua passivo e não sente o cheiro da rua, apenas de si mesmo. Ele sente saudade da vida que ele perdeu na infância. Os tempos são outros, Os tempos estão mesmo difíceis. Ele tenta se embriagar no bar da esquina e não consegue. Ele tem vontade até de acabar com tudo, acabar com todos, acabar com si mesmo. Mas no fundo ele sabe, porque nada é tão obscuro assim, que um dia ele foi feliz. Naquele tempo tudo era tão diferente. Engraçado, as imagens das boas lembranças ele não consegue fixar, pois permanecem distantes, protegidas, blindadas nas últimas prateleiras de sua própria memória. Ele havia percebido que sua paciência para escavar os seus próprios labirintos havia terminado. Não ficou triste por isso. E até riu de sua própria melancolia e esquecimento.. Todas as noites perdido ele caminha sem rumo. E nessa noite ele recebeu, quando atravessava o movimentado e conhecido viaduto, o convite para participar de um fogo amigo. Sentou no abrigo e uma companhia o acolheu com gosto de sopa na boca. Ele teve de pagar o preço convidativo. Toda a noite a mesma rotina. Apesar de tudo, de toda a amargura que carregava ele até sentiu um pequeno e notável prazer e, portanto, conseguiu dormir o sonho dos anjos até o fim tarde seguinte. E quando acordou já era noite. Uma nova noite.

2 comentários:

Terráqueo disse...

Muito bom. Diferente de tudo o que já li. Parabéns.

Anônimo disse...

Impressionante como esse texto traduziu oq me vai na alma nesse instante. Obrigada por ter conseguido dizer o que não pude.

Inês Martins
www.dj-vu.blogspot.com

Eu vi


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