Buscando não se sabe bem o quê.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Sobre o Cheiro da Comida do Restaurante do Chinês do Lado.


Aspiro fundo a procura de um cheiro. No meu bloco de notas os compromissos agendados. Coloco os óculos para enchergar de perto. Anoto o que efetivamente é preciso. Estou em fase de economizar movimentos. E o cheiro, finalmente, aparece. Cheiro de fritura. Imagino uma grande panela com óleo até quase em cima e dentro dele nacos de carne sendo espalhados por toda a superfície. Ou pequenos camarões mergulhando na frigideira corroida pela banha saltitante.


De manhã cedo quando chego ao trabalho avisto o senhor chinês voltando da feira. Ele anda encurvado e carrega sacos de carnes, verduras e hortaliças. Seu andar é apressadinho. Os óculos grandes, velhos, pretos e redondos tomam conta de sua face. Ele nunca me cumprimenta. Eu nunca cumprimento ele. A gente simplesmente se conhece.


Um dia, em janeiro, fui ao restaurante do chinês ao lado. Estava com fome e comi pratos e pratos de camarão frito e a noite -- ao me recostar -- fiquei esperando o ronco dolorido do estômago. Nada disso aconteceu, os camarões estavam bons. Nunca mais voltei ao restaurante do chinês do lado.


Talvez no próximo janeiro, quando os deuses da vida estiverem descansando na praia, eu retorne. Por enquanto, aspiro -- meio enojado -- o aroma rançoso da carne ou dos camarões fritando na velha panela recheada de óleo. Penso no verão mormacento da cidade grande. Por enquanto me encolho e procuro alguma leitura um pouco mais agradável. Melhor mesmo é fechar a janela e ligar o ar.

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