Buscando não se sabe bem o quê.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

O Condomínio











Na madrugada de ontem ouvi o grito que não queria ouvir. Acordei de pronto e fiquei pensando no que poderia ser. Um acidente? Um roubo, assalto, homicídio? Era apenas um grito e nada mais do que um grito. No alto do prédio de tantos andares, as unidades ficam bem abaixo do meu ângulo de visão. Ali de cima controlo tudo. Não preciso de câmera ou de escuta. Apenas ligo meu sexto sentido e fico monitorando a vida de todos, controlando todos os hábitos, os costumes e as manias. Sempre imaginei que todas as agendas passassem por mim. Mas naquela noite aquele grito, naquele horário da madrugada, estava totalmente fora de previsão. E esse ato inusitado, extraordináriamente preocupante acabou com o meu doce sono e me fez temer pelo pior. Um grito solto na madrugada poderia ser e simbolizar zilhões de coisas. Pensei até na imaginação dos sonhos. Um grito opaco perdido na madrugada de um grande prédio de apartamentos, onde todos dormem no segredo de suas vidas, o que mais poderia ser? Pensei nisso tudo e um pouco mais, virei para os dois lados a procura da melhor posição para o bom descanso. Não queria ouvir mais nada, porque meu maior receio é perder o controle de tudo e de todos. De fato, conclui no cansaço do travesseiro, foi um sonho, um pesadelo perdido na madruga do mormaço. O grito não existiu, era apenas o aviso de um cérebro caduco que se mostra cansado pela desilusão do viver.
* fotografias de Juan Esteves

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