Buscando não se sabe bem o quê.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

A Lembrança


Lá pelas tantas o amor desceu do céu e dançou uma valsa no salão de espelhos transparentes. Uma valsa nunca antes dançada e o som do violino longe fica distante de tudo. A valsa de um casal que continua a dançar e dança a vida inteira até que a morte os separe. E de fato, um dia ela chegou e pinçou um dos pombinhos e outro parou de dançar. E a música subitamente terminou, sumiu, desapareceu. E tudo ao redor foi se transformando em formas, as cores apareceram, as pessoas começaram a falar, as crianças a correr, ligaram a televisão e o vendedor continuou a vender os velhos filmes de antigamente. E o salão de espelhos transparentes subitamente desapareceu, evaporou, foi para o espaço. E a memória amarga de tudo isso não conseguiu captar nem mesmo os belos passos necessários para acompanhar o pé de valsa. O condicionamento necessãrio nem existe mais. Na sacada do velho sobrado de sempre está a lembrança do violino torto que foi utilizado por uma bela madame da época da orquestra imperial. Ela olhava atenta para todos os lados e buscava no compasso dos pés o andante e o moderado em que afinava seu instrumento. A lembrança do casal que tanto dança e não pára de dançar fez parte de um sonho maravilhoso de uma velha senhora que está deitada num quarto e que não pode mais caminhar. Foi a melhor notícia do dia, disse ela para a acompanhante.
*imagem de Walter Firmo

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