Buscando não se sabe bem o quê.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Caminhos, Voltas e Contornos



O filme perfeito foi perfeito. A cadeira leva ao topo do mundo, onde se pode ver a vista esplendorosa. O refúgio serve o goulash com spatzle. Dizem que o caldo é bom, apimentado e quente. O primeiro passo é cruzar a parede íngreme de neve. São metros e metros de desafio. A instrutora diz que o medo é uma falsa visão. Há de se olhar para a frente e condicionar as pernas a frear antes de fazer a curva e ziguezaguear até o terreno ficar mais plano. A fobia da visão deslumbrante, acima das nuvens e de todos, toma conta do corpo.



Lá em cima não existe caminho definido. Há apenas a imensidão branca, ampla e extensa, da neve fofa. A vontade de vencer faz o corpo precipitar sem controle de velocidade e direção. Tombo na primeira, na segunda e terceira volta. Não se pode esquecer, medo é falsa visão! Deve-se mergulhar na sensação deslumbrante de deslizar montanha abaixo e tentar, a todo custo, conter a velocidade fazendo voltas e contornos. A máscara amarela que envolve o rosto faz imaginar um filme. Mas os tombos são reais. O corpo contorcido que cai desengonçado entre os aparelhos. É muito difícil levantar. O mundo está lá embaixo aguardando a chegada. Há de se chegar. Esse é o desafio. Esse o emblema.




O tempo passa rápido e - devagar - se consegue vencer o paredão íngreme e branco do primeiro passo. O segundo tempo é barbada. É só seguir a estrada. A mente condiciona o corpo que se torce e retorce nas retas e nas curvas. O joelho se inclina para frear e o deslize é previamente monitorado. Quando as nuvens se aproximam a neblina toma conta do filme real. O vigor frio da montanha na sua intimidade branca. A vegetação encoberta que sobrevive ao inverno rigoroso. É tudo tão silencioso e tão branco no meio da gostosa cerração. Um outro mundo enigmático e desconhecido que desfila deslumbrante acompanhando meu circuito. No meio da montanha se avista os telhados da vila. O objetivo é sempre seguir o definido caminho. É tudo muito mais fácil quando se condiciona. Os obscuros labirintos da mente necessitam de direção. O corpo se prende ao caminho marcado pelas cores da dificuldade. Verde, azul, vermelho e preto. É só escolher a via a seguir.

O iniciante escolhe a verde da simplicidade. É o caminho da estrada de verão, época que as bicicletas sobem o "cerro" que se transforma em cores primaverais. É tudo mais tranquilo nessa fase. O corpo empinado para a frente relaxa atento e desliza como nunca antes havia feito. Basta seguir o rumo da pequena vila passando - incólume - por pedras, árvores e buracos. A neve, mais pisada não é tão mais fofa e o tornozelo sente o impacto do solo mais duro.



Finalmente se alcança a multidão do pé da montanha deslizando de forma veloz e segura. Mais um filme perfeito. Parece estar todo mundo olhando para as manobras e para essa história, mas cada um cuida de sua vida, de seus equilíbrios, de suas máscaras, de seus filmes e de seus caminhos planos e íngremes.

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