Quando subi na árvore e ninguém me encontrou -- pensei que era Deus. Quando todos foram embora e eu fiquei ali preso e sozinho percebi que estava ficando cego. Todo mundo pode perder um dia um pouco da esperança. Mas eu ainda era moço e tinha muito tempo e vontade pela frente. Para saciar a fome que alimenta a vida resolvi esquecer tudo aquilo e tocar a vida normalmente.
O tempo passou e a família apareceu. Casa linda, cerquinha branca do sorriso. O sonho de consumo, o computador mais potente, o acesso a tudo e a todos. Mergulhei na busca incessante do enigma da virtualidade. Superar carências e limites nunca reprimidos requer sigilo. Ninguém pode perceber a movimentaçao do meu segredo. Meu mundo é meu deus. E a mim pertence. Brincava novamente de esconder.
Um dia o tempo foi descoberto e percebi a extensao da minha grande cegueira e que o ferrolho da minha brincadeira nunca foi um porto seguro. Além de cego estava mudo, porque nao conversava com ninguém. Continuava na mesma posição, preso em cima do galho. Surdo. Brincando de esconder.
Um comentário:
Chacrinha dizia que quem não se comunica, se trumbica. Quem muito brinca, também.
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