Ela passeia com seu cachorro levando na boca um pirulito. Ela senta no banco da pracinha. O parque está cheio, porque é domingo e o balanço lotado. Pais, mães e babás balançam as crianças. Algumas choram e outras se divertem. Ela fica pensando na vida, nos cabelos grisalhos de seu pai, no vestido de sua mãe, na bronca que deu na empregada da família, porque naquele dia deu vontade de comer guizadinho com batata e a Vera fez macarrão com galinha. Ela está ali sozinha com seu cãozinho no coração da grande cidade. Ela parece triste, mas na verdade ela sente orgulho de estar ali. É como se fosse uma grande conquista. Velhos desejos. Sentia-se única. Um senhor com cabelos grisalhos, iguais ao do pai, se aproxima e pergunta se ela precisa de ajuda, indaga sobre sua vida, sua família, se ela, por acaso, está perdida. Ela aprendeu que não se deve falar com estranhos, mas aquele estranho parece ser um velho amigo e por isso ela resolveu responder: Eu me perdi, sai de casa e me perdi. Não sei onde anda meu pai, não sei onde está minha mãe. Briguei com a empregada e me perdi. Ele perguntou onde ela morava, se havia algum telefone na sua casa, essas perguntas que se faz para as pessoas perdidas. Ela respondeu que não se lembrava de nada e que ela não era mais uma mocinha, ela já é uma mulher que saiu de casa para levar seu cão a passear e que ela tinha nome e endereço. O gentil senhor achou estranho aquela resposta, mas no mundo de hoje tudo é realmente muito estranho. As meninas se tornam mocinhas, as mocinhas se tornam mulheres e as mulheres se tornam mocinhas. Como o tempo podia fechar o senhor desejou bom dia e se retirou para ler o jornal em outro lugar mais abrigado. A chuva, de fato, não veio, e o sol se pôs. A praça está ali e o tempo passou. Todo o domingo o senhor volta ao local. Nunca mais encontrou aquela pessoa. Talvez ela tenha mesmo se tornado uma mulher. Talvez ela tenha se dado conta de que continuava uma criança. Talvez até, ela fosse uma mulher com jeito de criança.
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