Ele estende a carne sobre a mesa. Corta em pedaços, espalha ervas e azeite, adiciona batatas, cebolas e temperos. Ele ouve música que a rádio toca. Ele segura com as mãos sujas de azeite e ervas o cálice de vinho tinto.
O forno está quente, muito quente. A forma untada de manteiga. O prato está feito, mas cru. Ele coloca tudo para assar. Tem que aguardar meia hora. Ele olha para o relógio e para a porta da casa que está fechada. Ele está trancado e sabe que não pode sair.
Pensa, prefiro assim do que assado. Assim está bom, assado poderia estar pior. A carne arde no forno, o tempero toma conta do sabor, o azeite mergulha nas entranhas da costela. O cheiro de azeite virgem se espalha, a cebola e as batatas ficam escuras e douradas. Ele toma um largo gole de vinho. Sacode a cabeça e respira fundo ao fechar os olhos.
Acorda e todos estão à mesa. Elogiam o prato, tomam vinho, lavam as panelas, enxugam a louça, secam os panos sujos. Ele observa restos de vinho no fundo do cálice, toca com seu dedo o som do cristal. É tudo muito oco. Abafado ele contempla todos. Muito rosto, muita face, muita pintura, muito assunto. Quem chegou e quem foi embora?
Ele se lava depois de horas. O sabonete percorre seu corpo todo molhado. Ele pensa nos detalhes. Já é fim do dia e a noite desaba. Ele se sente transparente. Agudo, mas está perplexo. Sua memória não ajuda. Os assuntos falados passaram. Nada é digno de nota. Assustado ele se deita e contempla as marcas do teto. Essa não havia ontem. Aquela vai surgir amanhã.
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