Buscando não se sabe bem o quê.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Anamnese




Somos coadjuvantes da mesma atmosfera. Somos personagens hipócritas que aparecem coloridos e digitalizados na tela plana. O cristal é líquido e a imagem parece perfeita. São seres vivos que respiram. Viu só? Eles dizem tudo. As rugas aparecem. Os cravos também. Incrível, eles entendem a nossa língua. Em caso de dúvida aperte o botão. Em caso de enjôo tome o comprimido. Em caso de fugir das regras faça o contorno e volte. Observe as recomendações do GPS. A voz macia e rouca diz para dobrar à direita depois do segundo poste. É ali que o cachorro ergue a perna direita para mijar. Seu dono recolhe as fezes com saco plástico na mão. O carro percorre perfumado a rua clara de natureza escura. O passeio é mais longo do que se imagina. A viagem talvez esteja próxima do final. Ou estamos falando do início? Ninguém sabe, ninguém viu. Fica todo mundo confuso nos horários de verão. A canção toca mais cedo no rádio. O chefe vai para casa logo. E eu vou beber alguma coisa no empório que abriu. Sei de tudo e mais um pouco, diz o meu amigo. Eu concordo com ele. O controle é nosso. Basta apertar a tecla correta. Domina quem sabe a linguagem. Basta seguir as regras. Tudo requer cuidado e civilização. De chapéu na mão o velho mendigo recolhe latas vazias. Ele pisa forte e elas ficam pequenas. Menos espaço na sacola. Tudo se adequa ao seu lugar, inclusive eu.

2 comentários:

Carlos Eduardo da Maia disse...

Bom, muito bom.

Junior disse...

Legal as ideias.
Obs: "Se deus existe, ele não pode ser cruel a ponto de oferecer vida eterna às pessoas." - Isto é uma triste visão desenvolvida dentro do sistema de coisas onde estamos vivendo agora. Vale a opinião...

Eu vi


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