Buscando não se sabe bem o quê.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Segunda-Feira


Manhã


As taças atiradas. Umas sobre as outras. Colheres, facas, garfos. Todos sobrepostos. Copos, diversos deles, de todas as formas, manchas de batom e vinho. Pratos sujos espalhados pela mesa. A toalha desbota com o sol da manhã. A fonte de água é pequena. O trabalho vai ser imenso pode durar horas, até um turno inteiro. Ela esfrega o rosto com sua mão áspera, porque está cansada. Seu marido não dormiu em casa na noite de domingo. Ele simplesmente... desapareceu. Ligou para ele desde a tardinha. Passou a noite inteira a discar. Ele não atende. Talvez tenha ido embora. Ela não quis fazer alarde e nem incomodar a vizinhança. Partiu cedo da manhã, pegou o ônibus, o trêm, o ônibus e caminhou até chegar aqui. O telefone toca e ela corre para atender. A mensagem não é para ela, mas para o proprietário que não pagou a conta do telefone.


Meio-Dia


Ao meio dia está tudo mais ou menos limpo, organizado. Decente. Com certeza está, ela pensa. Ele acorda sem dar bom dia, como sempre ocorre. Ele parece estar sempre preocupado com alguma coisa. Ele é muito esquisito. Senta na mesa e pede um café. Ela serve. Ele pergunta se alguém ligou? Ela diz que o pessoal da telefônica... Ele olha para o canto, para o lado, para o canto e para o lado e se levanta. Foi embora e não disse tchau.


Tarde

Mais uma vez ela disca para o celular. Ele não atende. Ela sente muita raiva. Isso é bom? Isso é ruim? Na verdade, isso é novo. Vai ser um novo recomeço de era, como diz a boa música. Ela aumenta o volume do rádio e resolve dançar. E dança para as panelas na pequena cozinha conjugada. Ela, finalmente, se diverte. Um novo tempo virá, ela sorri. Que bom namorar, ter amigos, conhecidos, ir para a balada sozinha com as amigas, as primas. Um novo tempo virá, ela repete.


Tardinha

Cansada, ela faz um sanduiche de pão de forma e presunto magro e café preto bem forte. Lê a capa do jornal do patrão: o descontrole da inflação faz aumentar os preços. O telefone toca, ela atende. É ele. Ela alivia. Foi um contratempo, tudo deu errado. Depois do jogo ele saiu com o Jacaré. Foram dar uma volta. Bebeu demais, posou na cidade. Ela grita, ele pede calma. Seu celular estava sem bateria, não havia como ligar. Está exausto e indo para casa agora. Ela conta o dinheiro que tem. Dá para passar na padaria antes de chegar em casa e comprar batatas para fazer uma boa sopa. Depois os dois vão dormir e acordar cedo para a rotina do dia seguinte.


* foto de André Cypriano.

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