Buscando não se sabe bem o quê.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Desvencilhado


Não estou com saco para posar com cara de sério. Quero mais é esculhambar a vida numa boa. Que se dane minhas nobres estruturas. Sinto a fuligem da hipocrisia na minha pele de bebê de proveta. Ela encarna a sujeira de uma alma mal lavada. Nunca tomei banho de perfume francês ou essências de lavanderia. As gotas da água límpida marcam meus pelos. Eles molham até ficarem derretidos. De alma lavada vou para rua protestar contra a selvageria. Armado de porrete e metralhadora aponto para todos as minhas artimanhas. Que se dane o resto, eu digo e repito. As pessoas nem me olham. Passam por mim, como se eu não existisse. Isso me irrita profundamente. Atravesso a rua sem olhar para os carros. Sou atropelado pelo ônibus que chega da periferia. Ele me atinge de frente em alta velocidade. Não sinto nada, não consigo sangrar. Continuo a pé e meus olhos tortos não param de procurar. Sigo meu caminho, como se nada tivesse ocorrido. Será esse meu destino? Será esse o meu caminho profundo? Não me interessam os argumentos intelectuais e visionários, quero mais é viver a vida profundamente. Derrubo mesas, vasos, copos e os cálices dos vinhos caros. Mas ninguém percebe minha grande mágoa. Sou mesmo um fantasma ressentido. Um anjo devassado. Perdi o controle de todos os poderes secretos. Não tenho saudades e nem lastimo. Preciso manter a forma, a postura, minha grandeza, gentileza e generosidade, mas não posso perder, jamais, a ironia.
Imagem: Ryan Robinson. Daqui.

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