Entro no bar lounge mais famoso da cidade e a garotada está toda ali. Eu, o velho decadente e desengonçado, cheio de nenhum charme, dotado de uma pança razoavelmente enorme no meio de toda aquela gente bonita, bem vestida e chique, mas não estou nem ai. Eles me olham com cara de desprezo e eu não estou nem ai. Eles me detestam, me odeiam e eu não estou nem ai. Vou até o balcão todo decoradinho, cheio de picuinhas, onde o tiro funciona mais rápido e peço a cerveja mais barata da casa e para abafar dou uma risada forte e muito expressiva. Tem gente que gosta. Quero mesmo é aparecer para esses merdinhas filhinhos de papai e suas princesinhas com bolsinhas de tigrinha. O rapazote, vestido de pirata, que atende no balcão me olha fixo e encaro ele com cara de muito bravo. Com minha voz forte e detonada reclamo: qual é a tua mané, serve essa merda logo. Eu sei que todo mundo me olha e estou aqui para isso mesmo. Nenhuma princesa ou plebéia nessas bandas daqui vai me querer e estou aqui por isso mesmo. Quero é beber e aparecer. Não conheço ninguém, ainda bem que não conheço ninguém, quero beber e aparecer. Depois da segunda, da terceira, da quarta cerveja dá uma vontade louca de mijar e vou direto ao banheiro. A porta do toilette está fechada. Para variar, alguém ali está fazendo o que eu gostaria de fazer. Bato forte, mas forte mesmo e berro bem alto para o bar inteiro ouvir: Caga logo essa merda! Mija logo essa porra! E a porta não abre e o mal educado sequer responde do outro lado. Isso me irrita profundamente. Fico denso e grito de novo: quero mijar e quero mijar logo, abre essa porra. O bar inteiro me ouve e eu sei que o bar inteiro me ouve e por isso eu grito ainda mais alto, mija logo essa porra e abre essa porra dessa porrrta.
Não sei exatamente o que aconteceu depois. Foi tudo muito rápido e muito instantâneo. Primeiro eu senti uma puxada e depois fiquei deslocado e completamente paralisado. Alguém sabia muito, mas muito mesmo as artes do judô, do caratê ou do escambau. E eu ali naquela situação ingrata, morrendo de vontade de dar uma bela mijada, mas completamente paralisado na minha ação. Alguém me agarrava com muito jeito, eu até poderia dizer e afirmar que o carinha era craque nas artes marciais. Não tinha outra opção senão gritar e berrei: pára, pára e pára tudo.
Um desconhecido com voz bem mansinha e calminha encostou a boca no meu ouvido e foi logo dizendo bem devagarinho, parecia que estava soletrando: eu sou o inspetor, não gostei dos teus modos, ninguém mais te quer aqui, vou te levar lá para fora e não vais mais voltar. Fique longe daqui, aqui ninguém te quer. Empurrado, paralisado fui vaiado por todo aquele bando de bunda moles. Humilhado fui jogado para o lado de fora do estabelecimento.
E lá me fui madrugada adentro para outras paradas. Antes de começar a banda, porém, no escuro da noite, na primeira parede que encontrei dei uma bela e boa mijada. Relaxado pensei antes de seguir viagem: como é bom mijar essa porra.
Um comentário:
Pança chique só de mulher grávida e olhe lá!
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