Buscando não se sabe bem o quê.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Quando Um Dia o Tempo Passa



Quatro ou cinco, meia dúzia, talvez meia dúzia. Ela contou e continuou a contar. Quando e quantos haviam sido. Ele olhou para ela perplexo diante de tão grande intimidade. Nunca tinham tido esse tipo de papo. Mas ela resolveu falar. Não se sabe se este assunto estava trancado em sua garganta, talvez fosse alguma necessidade de dizer algo diferente, fugir daquela vida diária que eles tanto evitavam chamar de rotina. Mas a vida é assim e assim passam os dias, mesclando conhecimentos, caprichos, implicâncias, ressentimentos e doses de pequenas luxúrias. E lá se vai, também, o tempo que acompanha a vida e é testemunha das alegrias da infância, das conquistas da juventude, da beleza da mocidade e da firmeza da meia-idade. O tempo corre e cada vez mais rápido. A angústia cresce. Sentiam-se despreparados para o tempo presente. Naquela noite eles, enfim, dormiram - cada um para o seu lado. Na manhã seguinte ele pouco falou com ela e ela até mesmo vibrou com o acontecido, apesar de ter sonhado com situações envolvendo culpas e remorsos. Ela amanheceu pesada. Percebeu algo que nunca havia percebido ou sentido. As pequenas rugas que ela tentava esconder com cremes e sabonetes estavam também inseridas na sua intimidade. Ela olhou no espelho da manhã e - pela primeira vez na vida - se achou amadurecida.


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