Buscando não se sabe bem o quê.
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
Existência
Os Réus ouvem atentamente os nobres discursos da boa oratória. E quando eles se autoelogiam a platéia aplaude, porque isso é importante para o ego geral. São as normas de conduta, do bom comportamento, dos homens e cidadãos de bem. E sentado no meio de tudo, o ser crítico, anota no coração de sua cabeça os detalhes que afloram no meio de toda aquela homenagem. É tudo muito bonito, as emoções são extremamente fortes, sobretudo tendo em vista a complexidade (e a gravidade) daquele momento. Gotas de choro caem sobre o tapete vermelho pisado por sapatos de luxo comprados a preço de banana no mercado universal. E todos estão preocupados com a situação crítica das contas do estado leviatã que adora comer as vísceras dos réus. E aplaudimos contentes -- porque esse é o nosso dever -- as imagens que nos são passadas e repassadas por seus agentes. A res publica não pode ser objeto dos interesses dos grupos privados. Nosso país precisa de transparência. Temos de lutar contra a corrupção, esse é o nosso dever, nobre deputado, ilustre juiz, autoridades aqui presentes. Vossa Excelência esconde dentro do bolso o sorriso amargo da contradição. Enquanto isso, sentado na oitava fila, o ser crítico fica pensando na vida, na sua existência, no que fez até aqui, no que fará no futuro que está tão próximo. Ele simplesmente não sabe, porque a crise que assola todo mundo, não deixa nenhum espaço para soluções imediatas. Ele deixa a vida passar e por isso aplaude -- como todos os outros réus -- os discursos contundentes e emotivos das autoridades.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
Muito bom. Isso é o que eu chamo de um texto complexo. Abraço.
Excelente texto. Riquíssimo, elaborado, sofisticado e ao mesmo tempo simples.
beijo.
BF
Postar um comentário