Sonho de uma noite adormecida enquanto o avião patina no campo de golfe. Acordo com a chuva fina que invade meu senso de equilíbrio. Vontade de passar os dias aqui, sem me mexer no manto profundo que me encobre e acolhe. Não sei ao certo se era sonho ou pesadelo, porque não sofri e nem morri na imagem quebrada de uma manhã que já está pela metade. E o tempo passou mais rápido do que eu percebi. O olho grudado e firme contemplando os números dos minutos que brilham verdes no relógio barato que alguém me deu em alguma festa de amigo secreto. Os compromissos não existem mais, imagino. Chega por hoje, desperto. E levanto logo para ler no jornal a notícia que vai embalar meu dia. Destino pronto de quem escolhe a única camisa que combina com o sapato que ainda está novo. E, portanto, esconde o segredo debaixo do travesseiro, como se fosse o primeiro dente, porque a noite chega mais cedo do que se pensa e amanhã uma nova manhã vai chegar como chegou a de hoje. Suspiro cedo a procura de um número qualquer que se possa ligar para pedir o auxílio necessário para resolver os velhos problemas. Nunca, eles não se foram e permanecem vivos. Ainda vivos, porque não se pode passar para a outra fase sem resolver os problemas de hoje. Há de se enfrentar os sonhos e os pesadelos e aquele avião que não conseguiu chegar no aeroporto e pousou leve no campo de golfe vai ter sempre algum significado. Há de se pesquisar na memória da alma, o que isso significa. Mas o jornal está posto, a mesa aguarda o chocolate quente de todos os dias. O sonho fica para depois, para o esquecimento de amanhã.
Nenhum comentário:
Postar um comentário