Buscando não se sabe bem o quê.
quarta-feira, 24 de outubro de 2012
Profundamente Temático
Ou Tematicamente Profundo
Posso rasurar ou recusar minha memória
acabar com o tormento tipo faca na agulha
relativizar, sempre flexibilizar
toda a agonia que fica e vai
como uma gangorra de contradições e paradoxos
nunca acho o equilíbrio
o formoso e salutar equilíbrio da planície
porque nada convence no certo e no errado
a certeza é muito dolorida por isso não insista
e prefiro ter a consciência de não saber
a ignorância seletiva
porque me amarro nas entranhas das minhas veias
lanço um suspiro profundo sobre a própria ecatombe
poderia sim ser um magnífico ser que não sou
distante de tudo e de todos tocando o leme
do mar a deriva
Menina Malvada
Um soneto de amor para minha pricesa
linda, desnuda, forte
Ela sai da cama tempestiva
Fonte de tragédia e riso
Compreensiva ela me olha
E esfrega sua testa no meu nariz
Que sublime idéia ela teve
de passar o dia numa praia do Pantanal
Olhando os jacarés e os tatus
Brindaremos com uma taça de gratidão
Pela vida que recebemos
Naquele dia não fomos a Igreja
Ela acorda como geralmente acorda
meio mal humorada, um tanto fóbica
Dor no pescoço, nas ancas, na testa.
Quer dormir ou jogar paciência?
Porque hoje não é dia de festa
Melhor guardar as expectativas.
Outro dia, quem sabe outro dia.
E assim tudo fica
Nessa análise singela da vida a dois
O recado foi dado - quem sabe ela olha
E desperta o sorriso malicioso
de menina malvada.
sexta-feira, 3 de agosto de 2012
Incomensurável
Lá no céu que não tem tamanho existe uma casinha, uma pequeninha casinha, um cisco, quase insignificante lar onde a família feliz canta na hora certa que não é a hora da reza, mas a hora em que eles discutem sobre, vamos dizer assim, sua própria existência.
Ele suspirou profundamente, leu duas vezes, pensou em voltar atrás, achou que não estava bem claro, quis fazer algumas observações, desistiu. Depois, lançou vírgulas, palavras entre vírgulas, simples e necessários comentários. Nada além disso. Uma casinha no céu, é isso lógico?
O céu não tem tamanho, ele é imenso, incomensurável. Certamente existe uma casinha no céu, pequeninha casinha, um cisco. Ele lembrou do planetário, do tamanho do universo, dos átomos, de tudo o que nos leva a mais profunda insignificância.
Luar
Luar, onde está o luar
Eu não vejo o luar
Não enxergo
Estou cego
Cego
Muito cego
Eu quero ver o luar
Sentir o luar
Rente entre
Minhas doces pálpebras
Piscar para o luar
Dizer para ele
Que é muito bom
Ver o luar.
quarta-feira, 25 de julho de 2012
Recital
A voz cai solta
sublime como a esperança
no centro do palco
ela canta
os versos de outrora
ela canta
e canta até o fim
e quando termina
a última estrofe
ela olha para o público
que fica em silêncio
atento em silêncio
sem demonstrar afeto
ou compaixão
simplesmente em silêncio
e o recital
assim termina
as luzes se acendem
as pessoas esvaziam
as cadeiras
as portas se abrem
e no centro do palco
ela fica em silêncio
sublime como a esperança.
Busca
Faz tempo, tanto tempo, que a gente não se encontra. Não tenho lido suas notícias, não tenho assistido seus filmes, não tenho comparecido as suas sessões, apesar de frequentarmos os mesmos portos. Onde você anda, afinal? Não posso dizer que estou com saudades, porque não estou. Apenas entrei aqui para ver o que acontecia durante a minha ausência. Entrei sorrateiro, em silêncio, completamente na minha e vejo agora que nada aconteceu, que tudo está da mesma ,maneira como sempre esteve. Nenhuma mudança ocorreu. Não fiquei feliz por saber disso. As vezes é melhor a gente não tomar conhecimento, deixar a vida simplesmente se levar. Minha curiosidade, no entanto, me traiu. E aqui estou de volta a te procurar, mas não te encontro. O desencontro faz parte da nossa história. Eu sou funcionário e você é bailarina. E por isso continuo a te procurar, sem te encontrar.
sexta-feira, 15 de junho de 2012
Era Uma Vez Uma Panela Para Toda a Vida
segunda-feira, 11 de junho de 2012
Nomes em Vão
Porque dizes meu nome, nem soletra, apenas dizes, e complementas a dizer meu nome. O nome que não lembro, que ninguém lembra, apenas um nome em vão, o meu nome em vão. Não é sagrado, nem atormenta, engulo seco meu sobrenome de fortaleza que cede os passos da primeira gloriosa crise.
Sei porque dizes meu nome que flutua no coração da língua. A mesma língua que fala, lambe e come que resvala entre os dentes, os meus, os teus, os nossos e acaba penetrando, como membro forte, nos ouvidos externos.
Porque sei que dizes meu nome, em vão dizes meu nome, palavras que dizem nomes, palavras que saem das bocas, das bocas que dizem palavras ditas e não ditas, palavras inventadas e omitidas, bocas que brincam de sinceridade.
Escuto o nome, sussurras o nome, o nome emboscado, o nome do coração da inteligência, meu nome santo, nome de santo sagrado, nome de todos os santos da nossa igreja.
segunda-feira, 28 de maio de 2012
Autarquias
Os ventos invadem territórios descobertos. Os tempos de fraudes magníficas. São diversas as versões. Falam. Falam tanto. Falam demais, até do cu da formiga falam. Falam os poetas. Os vivos, os fracos, os existentes. Falam dos que se acabaram, dos que se foram e não mais voltaram. Outros se tornaram inesquecíveis, por seu modo de dizer, os efeitos, porque tratam de assuntos sublimes do tipo hipocrisias da vida familiar. No contexto das contradições e seus paradoxos, o último filme da Bruna Lombardi e suas coxas grossas. A amiga de Quintana, a língua afiada.
Mudando de assunto -- e de filme -- a ousadia divina dos imortais, os deuses que morrem, os que já morreram, os titans guardados no box, as bocas presas ao ferro, eles exprimem sua própria revolta. Prometeram o inesquecível e falam de tudo e não falam de nada, porque se ouve e crê. E qual é, porra, a diferença entre "period" e "dot"?
A linha que liga dois pontos distantes. Um em Manaus e outro na terra da alegria. O vento que bate na cauda e que torna o voo mais rápido, em direção ao sudeste, onde vivem as cidades, o avião aterrisa uniformemente, a menina reencontra o pai perdido no aeroporto. Ele pede asilo e abrigo. A família embarca na van, no rumo do hotel. Estão todos tristes e despedaçados. Tristes e despedaçados, porque não conseguiram o carimbo da autarquia. E o pior ainda está por vir, eles não acreditam mais nos semáforos.
segunda-feira, 7 de maio de 2012
Lego das Palavras
Fiz isso algumas vezes, o subversivo num espaço concreto. Eu tenho medo do quê? Procuro lucidez e espanto. Posso ser poético, buscar um soluço de amor, uma alma fácil de achar. Posso até mesmo, por que não? me transformar numa espécie de predador que tenta corrigir os verbos, os substantivos delicados, os adverbos e seus significados. Rejeito bulas e manuais, porque minha incorrigível ansiedade coloca imediatamente em prática as engrenagens que desempacoto. As caixas são grandes e pesadas. A vida é dura e cheia de objetivos. Monto antes de analisar, termino antes de concluir. Os detalhes podem ser sinceros. E eu adoro a sinceridade, mas dessa vez eu passo. Porque no fundo, no fundo, tudo é jogo de palavras ou de linguagem.
O homem sempre procura um berço, um projeto de abrigo, um ninho onde o olhar cego não possa penetrar para colher ali o fruto da informação. Melhor mesmo é seguir oculto, mas sempre presente, como se fosse um velho cabide que abriga roupas jogadas.
quinta-feira, 12 de abril de 2012
Viagem
Fui derrubado por uma onda. Respiro. E nasceu dentro de mim um vampiro, um lobisomen ou um saci pererê. Sei lá. Minha reserva foi para o espaço e resolvi pegar o primeiro bonde, ou o primeiro dodge. Vou para Cuba descobrir as lições de Fidel.
Não quero viajar sozinho, sinto falta de alguém para comentar as paisagens, suspirar e dizer, veja só que bonito ou isso é tão maravilhoso ou até mesmo um fiquei decepcionado da vida.
Deu tudo certo, apesar de todos os debates e discussões. O passeio foi bonito, percorremos a cidade, respiramos os ares do melhor parque do mundo, os teatros, as compras e encontramos, nos labirintos das ruas numeradas, os restaurantes. Tudo isso, apesar dos percalços.
Eles existem e devem existir. Pior seria se tudo fosse sempre dentro dos conformes, se a hipocrisia ingressasse de vez na nossa vida e ditasse as regras e maneiras. Sim, discutimos, brigamos, tentamos impôr nossas idéias, mas com o necessário e devido respeito- ma non troppo. Mesmo para embalar uma fatia de pizza num restaurante portoriquenho depois de uma peça de teatro.
sexta-feira, 16 de março de 2012
Êxtase Absoluto
Acorda, acorda e escuta, amor, o acorde que toca lá fora, ele reveste o verso, tem brilho, tem harmonia.
A formatação é sincera, sob forma rítmica, um pouco acelerada, eu sei, mas nem tanto, nem tanto.
Parece incorporar a forma, as raízes, teus olhos escuros, quase obscuros, capazes de me cegar.
A memória que falha, a menina que canta, o vestido que encanta, reveste a parede de cor tão formosa.
Mergulha, mergulha, meu bem, no clímax sincero, ri um pouco, como forma partida de dor mal dormida.
É hora de enfrentar o presente, o norte, o desgaste, o rumo forte de passos quase descalços.
Levanta, levanta, marcha marcada, de olho no nada, são poucas as boas, movidas em fé.
Pobre engenheira que mede as maneiras, os cantos do nada, as casas quebradas, as louças vazias.
Não boceje nem nada, querida, lave e leve o lenço úmido para o silêncio do dia, faça a gloriosa trajetória.
Eu te empurro, como sempre faço, te forço, te sufoco, te obrigo a sentir o êxtase.
E depois, quando tudo chega ao seu final, eu peço desculpas, muitas desculpas por te manter acordada.
quinta-feira, 15 de março de 2012
Fucking Angry
Não se pode -- jamais, nunca, never -- perder a dignidade. Isso é o que a vida nos impõe.Temos de ser dignos, ponto final. Não podemos, sob hipótese alguma, fugir desse norte. É assim que deve ser, está estabelecido, está escrito nas escrituras.
Não podemos ser profanos, não podemos criticar o que não pode ser criticado, temos de nos comportar, nosso dever é sempre manter a linha, não deixar ela ficar torta, porque é essa a estética da vida.
O belo é belo e não se discute. Exite o belo, assim como existe o feio. O belo deve ser admirado, o feio foi feito para ser criticado. A arte bela deve ser exposta, o que é horroroso deve permanecer na escuridão do vazio.
Estou dizendo essas coisas apenas por dizer. Quem se interessar que leia; quem não se interessar que dê um clique e vá embora.
quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012
Umbigos
Sábado de noite, do alto do andar de cima ela ouvia a conversa dos meninos na sacada, na verdade, eles são homens de 30 anos. Ela, com seus 40, nunca tinha presenciado uma conversa masculina explícita do tipo fulano é o tal porque comeu a gostosa e tesuda da beltrana; as mulheres são chatas porque não têm senso de humor e coisa e tal.
No dia seguinte, impressionada, ela me comunicou que estava tomando uma decisão importante, não confiava mais nos homens. Por quê, perguntei, ora, ela me respondeu, porque eles são interesseiros, insensíveis e só pensam no seus próprios umbigos. Eu disse, nem todo o homem é assim, como tudo na vida existem as exceções. Ela me interrompeu, tu também és assim. Tu és como eles.
Fiquei a pensar sobre esse veredito. Será que sou assim? que todo homem é assim? será mesmo que a nossa genética, nosso metabolismo, nossa cultura têm essa capacidade impressionante de nos moldar de acordo com uma forma, sobre a qual estamos irremediavelmente presos?
Consultei os astros, fiz oferendas, ingressei no curso intensivo de sensibilidade e estou a aguardar alguma resposta, algum resultado. Por enquanto meu coração está cheio de dúvidas.
quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012
Cronologia
De repente encontro um nome, vejo a face marcada com rugas em volta dos olhos, as mãos entrelaçadas e envelhecidas, minha curiosidade atiçada, pois tento olhar melhor, aceito a ajuda de uma lupa, fixo os olhos cansados para encontrar algum detalhe que possa ser um pouco mais significativo, mas a imagem um tanto discreta não é de boa qualidade, talvez tenha sido atingida pelo mofo das horas.
Além do Ordinário
Pobre de mim, diz o outro. Pobre de ti, digo eu. E deus fez o silêncio da reflexão. E ele também criou a voz, o espanto e a sensibilidade. Os insensíveis devem fazer um curso, porque na vida é necessário transcender. Ontem no jantar me avisaram que só poderemos julgar os outros se usarmos por alguns dias a suas sandálias. Eu não gosto de usar sapatos alheios e também não tenho muita vontade de fazer cursos de sensibilidade. Dizem que sou burro, porque critico os ditos progressistas, mas me considero liberal, até um pouco liberal demais. Verdade seja dita, é muito complicado chegarmos a uma solução mágica, porque as peças simplesmente não se encaixam. E não adianta contratar os escultores ou os alquimistas, elas não foram feitas para serem encaixadas. Nos afogamos nessa desordem capenga, administrando as crises da consciência e tentando sempre achar a senha da contemporização. Nunca resolvemos a fundo, porque o fundo é muito mais profundo do que se imagina.
quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012
Sonhos Auspiciosos
Sugo os detalhes, apaixonados detalhes, da mão macia sobre o terno cinza enquanto dirijo em direção ao esquecimento. Sopro o vento que bate de frente enquanto durmo na imensidão do leito que escolhi para um pouso repentino. Leio as escrituras, sagradas leituras de um livro quase bíblico numa tarde quente, quase ensolarada, onde percebo que tudo o que me foi dito nada mais significa. Não choro, nem desanimo apenas percebo, porque na minha intimidade consigo, apesar de tudo, dar um trato na minha desordem. As prateleiras estão cheias, os labirintos não chegam mais até lá, e por isso me perco enquanto me balanço num sono vazio, quase alucinante, navegando em metáforas.
Erotizando Um Laço Vermelho
disca o nome pela tua vez
nem sempre na ordem
dessa desordem
cai o pano
em torno do pescoço
arroxando
marcando profundo
o que já está
extremamente fundo
no alto do espelho
reflete a face
tímida proclamando
esperança.
sábado, 28 de janeiro de 2012
Cactos
No quarto escuro da minha cegueira rememoro. O detalhe da doce e inocente mão que limpa o líquido branco derramado sobre o estofado. Somos feitos de esquecimentos, simplesmente esquecemos, isso faz parte da nossa engrenagem, porque somos chamados a resolver outros assuntos pendentes e quando tempo passa, quando o relógio marca meio dia corremos para o banheiro colocar as lentes da nossa visão. E a ardência é imediata, o colega de escritório alertou, mas irresponsavelmente tomo a estrada e no meio dela paro, na praça de pedágio, aguardo socorro, meus olhos incendeiam enquanto tomo, vejam só, milkshake de ovomaltine.
Um cactos, daqueles que aparecem nos filmes do Leone, um simples cactos sem espinhos, mas com sangue branco que mancha o estofado do carro. Daqui da sala da escura da minha cegueira contemplo ele lá fora, na sacada, olhando para mim, como se fosse um alien, esperando a hora certa de dar o bote. Não tenho jeito e nem aparência física de Sigourney Weaver, nem suas ferramentas para combater alienígenas, mas aqui, com minhas pomadas e colírios alucinógenos estou alerta, sempre atento.
O louco de Ray-Bann que circula pelos banheiros lavando o rosto e que nunca fica quieto porque se desloca de lá para cá, a dor é tanta que ele não sabe o que faz, mas senta solitário na sombra de uma árvore caduca enquanto bebe o milkshake gelado. Espera, aguarda, espera o socorro que tarda a vir e que, depois de horas, chega e gira a ignição do carro que parte em direção ao litoral.
Dos colírios da minha cegueira percebo os erros que contaminaram meu dia, foi apenas um dia, simplório dia, que ficará guardado nas prateleiras da minha memória. Escrevo isso enquanto estou sozinho, porque meu pessoal foi para a praia, mas ouço ruídos na sacada.
segunda-feira, 2 de janeiro de 2012
Relativo
Quando ventila
e faz o mote
que dá azo
ao que tudo parece
mas intriga
e por isso
o velho jogo de palavras
nada significa
porque o significado
não tem significância
depois desse chavão
paramos todos na inércia
de que tudo pode acontecer
até o choque da melancolia
o riso gostoso da puberdade
a velocidade espantosa do tempo
que passa e já aconteceu
e nos deixou
ficando para trás
como sempre foi
e como sempre será.
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