Buscando não se sabe bem o quê.
quarta-feira, 26 de outubro de 2011
Prisioneiro
Procura no calendário uma data como se fosse um soldado tentando se comunicar, mas ninguém quer entender. Na guerra os prisioneiros são considerados estorvos. Melhor mesmo é acabar com eles. Um tiro no estômago, na nuca, na face? Na face não, porque vai estragar a cerimônia de adeus.
Uma data sem nome, sem pátria, sem traição, palavra maldita. O poder de fogo das tropas inimigas é muito maior do que se imagina. Tinha consciência disso, porque sempre foi um bom observador. Agora, só lhe resta o que ensinaram: é preciso morrer com dignidade. Apostar na própria sorte é um desafio, uma questão de sobrevivência. Tinha de escolher uma data, um mês, uma hora, um segundo qualquer. Um plano?
Desenha um mapa, aponta as localizações importantes, mesmo que não tenha a capacidade de conhecer a geografia local. Apenas informações não basta, é necessário algum tipo de condição, algo que possa ser checado posteriormente. E, por isso, o plano de sobrevida. Uma data, uma pequena data, não mais que isso.
Quando o comboio desceu a colina uma pequena sensação de alivio foi tomando conta de seu corpo.Sentia-se leve, como se flutuasse em nuvens brancas. De fato, ele flutuava em nuvens brancas. E queria permanecer ali, flutuando, inconscientemente flutuando, sem tempo, sem cicatrizes, sem calendários, como se fosse um prisioneiro da alegria.
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