
Sérgio examina as fotos no site da Unesco. Seleciona o país, o Brasil. As imagens surgem rapidamente na tela e ele clica em cima das lavadeiras de Itaituba, interior do Pará. As mulheres lavam as roupas no rio. Elas ficam sentadas espremendo sua vida nas bacias. Ali passam os dias, conversando, trabalhando, jogando conversa fora nas águas do rio. Todas usam vestidos claros. São pessoas simples de um país miserável. E Sérgio está ali sentado confortavelmente na poltrona no melhor bairro de uma cidade do sul. O país é o mesmo, mas é outra região. As mãos que apertam o mouse continuam suaves. Elas estão limpas, mas seus olhos estão cansados. É necessário tomar um gole do café preto que Salomé preparou antes de ir. Ela também trouxe da cozinha bolachinhas sem sal. Atrasada, tomou o trêm das onze em direção à periferia. Salomé é clara, diferente das mulheres calejadas de Itaituba. Sérgio está só e aquela foto causou impacto. Talvez o olhar humilde daquelas senhoras. Algumas parecem tão velhas, mas não são. Os rostos enrugados contam a história de dias inteiros ao sol. Amanhã cedo quando Salomé chegar ele vai mostrar para ela a foto e vai comentar, como é dura a vida no norte.